terça-feira, 31 de janeiro de 2012

"Flores humanas"

De um mail com um total de 22 slides, uma flor para as visitantes deste blogue.

A autora é romena: ADRIANA CIOBANU.

Galeria Nacional de Fotomontagens CXVII

- Meus Senhores, eu sou, eu fui, eu era, eu hei-de voltar a ser
o rei de paus - do Carnaval maderense!

Geografia - Parabéns, Brasil! 2












"(...) A Guanabara seria depois à partida a imagem que todos haviam desejado à chegada. Lindo dia de sol esteve connosco no adeus ao Rio e o que quem lá esteve como eu consegue dizer é pouco para explicar o que se viu. Numa fotografia cabem morros e casas, florestas e praias, azul e cinzento, verde e branco - mil cores. Azul do céu e do mar, cinzento dos morros, verde das florestas, branco da espuma das ondas que esbatem nos longos areais da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro. Mil, mil cores do imenso casario, ora colonial, ora espigado e pedindo meças aos morros que o ladeia.

O Rio é assim: sempre o contraste entre a natureza e a obra do homem, ou melhor, sempre esta a acariciar aquela, a dar-se as mãos, a casar-se para maravilha dos nossos olhos.

Quem, como eu, subiu à noite ao Corcovado e assistiu ao "desabrochar" das luzes da cidade a toda a sua volta, perde-se ao tentar descrever com pormenor o que teve a felicidade de ver. Para mais, também neste dia havia forte nevoeiro a cobrir a cidade. Posso dizer que não se vislumbrava uma única lâmpada acesa na noite escura em que o Rio mergulhara. E, de repente, foi como que se um véu tivesse sido levantado e por baixo houvessem começado a acender velas em louvor de Cristo. Num momento, à volta do Redentor, formara-se a procissão que ajoelhara cantante juntando-se a mim, pecador deslumbrado e estupefacto que nem ao menos consegue ciciar uma oração de agradecimento pelo que estava a ver. Era toda a cidade em grande peregrinação ao Corcovado.

Nas estradas, lá ao fundo, dir-se-ia que não vinham automóveis de luzes acesas, mas mais fiéis em marcha lenta e recolhida aproximando-se de um destino comum. Quase sozinho, junto à base do Redentor, senti-me assim como que eleito naquele momento de festa na cidade. Ia a dizer de festa no santuário (...)."

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Saudade

Li algures que hoje é o Dia da Saudade. Apetece-me escrever, antes que chegue a meia-noite, que tenho saudades do dia de ontem. Mas vou ser mais intelectual e citar mestre Vergílio Ferreira:

"Para que é que escreves nos túmulos a tua "saudade eterna"? Porque isso é uma tocante maneira de dizeres ao morto que não morres. Mas morres. Garanto-te eu."

Adeus!

O Coreto de Macau

in Revista MACAU Abril 2001
Uma preciosidade musical da autoria de Bernardino de Senna Fernandes (1892-1971),
recuperada por Veiga Jardim

Tango-canção



Vida sexual de Mussolini *

Hoje, no Jardim, imagine-se, todo o grupo "jogou à defesa", falando do sexo dos outros. A afirmação do dia, entretanto, foi esta:

- Na Internet, o assunto que acolhe mais visitantes é o sexo. Vejam, por exemplo, nas chamadas redes sociais. No Facebook e noutras ...

- Mas aí também aparecem as boas almas, com gatinhos, cãezinhos, flores ... - replicaram.

- E o Cavaco ..., houve quem acrescentasse.

- Não sei como é. Aguardarei as estatísticas Google para tentar perceber melhor. Para já, abordo a vida sexual, por exemplo, de ... de Mussolini. Estive, para, em vez "disto", transcrever uma balada, mas ...

"Iniciado no mundo da carne por uma prostituta aos dezasseis anos, Mussolini nunca se cansava do prazer que as mulheres lhe davam (até aqui ...). Na sua adolescência admitiu que despia com os olhos todas as meninas que via (até aqui ...). Quando despia uma mulher, quase nunca era totalmente, já que a maioria dos primeiros encontros se realizava em escadas, contra uma árvore ou nas margens do rio Rabbi. Incomparável mestre do "despachado", Mussolini, como primeiro-ministro, recebia mulheres com petições no seu escritório e seduzi-as perto da janela ou chão, raramente se incomodando em tirar as calças ou os sapatos."

 ... Batem leve, levemente ...Vamos ver as estatísticas ...


* in A Vida Intima de Gente Famosa

Bom dia, Macau! Bom dia, Gilberto Lopes!












Gilberto Lopes, do Dominguizo, na Beira Baixa, para Macau e, de lá, para todo o lado, ao que sei ...

Gilberto Lopes um caso de fixação - mesmo! É, pelo menos, assim que o "sinto", em particular, quando subo à aldeia, e passo à "sua porta". Ou o recordo, amável, nas apresentações locais que me fez, antes da viagem à Austrália, a tal que deu livro e que, apoiada por Lisboa, correu o risco de, em Sidney, ser vítima de um cônsul que queria, não o que se propusera no Palácio das Necessidades, mas ... mas uma enciclopédia sobre a presença portuguesa naquele país em nome de ... (estou para saber ...).

A vida obriga-nos a cada "jogo de cintura", meu Caro!...


Bom dia, Gilberto Lopes!



Geografia - Parabéns, Brasil! 1












"Falar do Brasil. Não do Brasil-favela. Não do Brasil-ele-todo. Mas do Brasil-Rio de Janeiro. Do Rio-Samba. Sem favelas.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

O Rio é excessivamente belo para se falar dele. O Rio vê-se, sente-se, ama-se, olha-se nos olhos, dá-se-lhe a mão, aperta-se contra o peito, mas em silêncio, em recolhimento, em êstase. Quanto mais se fala menos se diz. Ver de olhos rasos de água pela emoção cerra a boca, contrai o peito, tolhe os movimentos, esmaga. Falar do Rio é descrever o Belo e este quando o é não consente palavras, pelo menos muitas palavras.

No entanto, como esquecer Guanabara?! Como não ter presente o Corcovado, o Pão de Açúcar, a Vista Chinesa, na Floresta da Tijuca, todo o Rio?!

Guanabara vi-a a primeira vez coberta por neblina. Era manhã, fim da manhã de um dia de Agosto. Quando acordámos todos nos dirigimos instintivamente para a amurada do navio fazendo previsões meteorológicas. O dia nascera nublado e a famoso Baía da Guanabara não estava longe. Receava-se não poder ver toda a beleza da entrada no Rio de Janeiro por mar. E assim aconteceu. De facto, volvidas algumas milhas, tínhamos a bombordo a silhueta da Baía da Guanabara. Não viria a ser para mim, contudo, uma desilusão o facto de não se ver bem o recorte de toda a Baía. O que tive, então, oportunidade de contemplar foi igualmente belo: era toda aquela série de morros coberta de uma névoa acinzentada e formando quase como que uma cordilheira com elevações de tonalidades diferentes consoante a distância a que se encontravam de nós. Para além de tudo, um Cristo Redentor que se tornava necessário procurar entre a neblina. Sabia-se que estava lá, no alto do morro, no meio das nuvens. Todos o procuravam com ansiedade. Para além da beleza paisagística dir-se-ia que se passava mais qualquer coisa ... Para muitos terá sido, para além de tudo, o momento do suave entreabrir de uma porta e de ouvir uma voz amiga dizendo como no conto: "aqui estou". Cristo, na verdade, surgia lá no alto cada vez mais nítido (...)."

domingo, 29 de janeiro de 2012

Anatomia das ideias (0005)












Um logótipo para a Europa:

Guimarães com G de Guimarães.


Com G que pode ser um V.  V de vitória.


Com G que pode ser ... pode ser um manguito. Um MANGUITO.


Veja bem o "boneco".Não o da ilustração acima. É o logótipo. Esse. Ora veja ... Faça a anatomia do logótipo.

"Não tem importância", dir-se-á. Não tem?... CLARO QUE TEM! A Qualidade está sempre na diferença. NO PORMENOR.

Amizades que ficam ...













Talvez não seja história que se deva contar, mas, não vá alguém julgar que uma Volta ao Mundo, ainda que de avião, é só paisagem, que fique, entre outros que já por aí descrevi, este patriótico acto de uma funcionária da nossa embaixada em Caracas que, numa emergência, ali mesmo, a dois passos da nossa bandeira, atrás de um biombo, à falta de melhor e mais económica solução, me "espetou" na nádega (não sei se direita se esquerda) o antibiótico que, horas antes, me havia sido prescrito num hospital caraquenho - aliás, de triste memória ...

Tudo normal, tudo sem história até ao dia em que, anos mais tarde, voltei à mesma embaixada ... onde, naturalmente, continuava a prestimosa funcionária. Cumprimentá-mo-nos, como era natural, com particular afecto.

E foi só isto que aconteceu. Há amizades que não se esquecem.

Geografia - Termas do Silêncio 2












"(...) Lisboa fica longe.O Porto está mais perto mas não se ouve, nem tem odores que cheguem para invadir Ofir.

O que é perigoso é vir directamente da poluição sonora daquela ou deste, e entrar descuidado em Ofir. Cada um toma as medidas que entende. Pela minha parte, aconselhado por amigos, precavi-me. E levei como material para desentoxicação progressiva algumas drogas: um transistor de bolso e outro de mesa, um gira-discos estereofónico com discos revolucionários, um televisor, uma colecção de jornais "O Século" de 1975 (de que é difícil um homem libertar-se de repente), dois livros sobre Marx e outros tantos de Mao.

Cautelosamente, e de acordo com a técnica mais moderna, comecei por, para não entrar assim de jacto no silêncio, à partida de Lisboa, meter no ouvido o auricular da telefonia de bolso ligada à Radiodifusão. Depois, à medida que me aproximava do centro do País, passei a ouvir só o transistor de mesa - no Rádio Renascença. Já em Ofir, no primeiro dia, ainda liguei a televisão depois do jantar e ouvi discos revolucionários durante a tarde. No dia seguinte, desliguei os aparelhos e passei a fazer dieta: um "Século" de 1975 em jejum, dez páginas de Marx depois do almoço e Mao, só Mao logo após o jantar.

Ao fim da primeira semana, diminui a dose: um "Seculozito" de manhã, duas páginas de Marx ao almoço, com a sopa, nada de Mao. Com o tempo, nem Mao, nem Marx, e em vez do "Século" de 1975, uma ou duas colunas - não mais - de um "Diário" recente.

Resulta. Passados quinze dias começa a sentir-se uma desentoxicação, um alívio, uma tranquiilidade, uma frescura, um descanso que, quando chega um novo veraneante de Lisboa ou do Porto, na fase inicial da cura, e se esquece da telefonia acesa ao lado, não raro se apanha uma recaída e se tem que ir de imediato a qualquer local recatado ler, quanto mais não seja, um "Século" dos tais ou uma linhazitas do "Diário" que estiver mais à mão.

É assim Ofir - Termas do Silêncio. Silêncio em termos. Silêncio que vale ouro. Ouro que não temos. A não ser em Ofir - feito silêncio."

Nota: "mudam-se os tempos ..." Há que fazer adaptações, naturalmente, mas a receita, hoje, seria similar. Eventualmente mais sofisticada ...

sábado, 28 de janeiro de 2012

Quando os amigos se vêem gregos ...

A e B são vizinhos e amigos. A está cada vez com mais dificuldades de sobrevivência e pede a B para lhe emprestar dinheiro.

B abre a carteira, verifica que pode ajudar o companheiro de muitos anos e empresta-lhe o que considera, desde logo, necessário à subsistência de A.

A agradece e começa a dar sinais de sobrevivência. Durante um mês, dois, vários meses ... Até que "resolve meter-se nos copos", pondo o essencial da sua vida de novo em perigo.

Entretanto, o amigo, emprestador, observa e sofre ... mas continua a tentar resolver a situação complicada do companheiro, incapaz de saldar contas. Até que, não manda dizer, como às vezes se faz por aí, mas, num  aparte, sublinha-lhe: "meu caro, a partir de agora, ou te portas bem, ou não te empresto mais dinheiro nenhum. Ou, se to emprestar, terei que ser eu a geri-lo ..."


Esta conversa, garanto (garanto, quanto um cidadão que tem um banco, que é apenas de jardim, nem sequer é do ... pode garantir...), não teve lugar entre países, como é evidente. Ainda é coisa circunscrita a uma pessoa que está a ver-se grega e outra que tem umas massas ... Não sei se me fiz perceber.

Agiota é outra coisa.

Adão multiplicado

Pensa-se no que pode, eventualmente, ser censurável e chega-se ao outro lado do mundo na esperança de que nada seja como é por cá ... O certo é que, um dia destes, fui aos "meus arquivos" e fiquei na dúvida se este grafitti era luso ou se era aquele que, entre outros, vi numa distinta praia da longínqua Austrália ... Na dúvida, trago para aqui o documento - ainda que sem o conhecimento rigoroso da origem. É assim! O mundo é pequeno. Até na política. Emigra-se do território, mas não da vida. Nunca estamos sós. Adão multiplicou-se. 

Geografia - Termas do Silêncio 1








Para o mais tripeiro dos tripeiros que a Austrália, por certo, conheceu


"O rio a um lado, o mar a outro. No meio, Ofir. Ao longe o Monte de Faro. Aqui, uma moradia, ali, uma estalagem, hotéis, uma piscina e mais outra e outra. Por todo o lado, pinheiros mansos e bravos, alguns eucaliptos e choupos e o chilrear dos pássaros. Esposende à vista e Fão também. Por cima, gaivotas fazendo acobracias, em esquadrilhas ou isoladamente, ante o olhar doce de higiénicas vacas que entre duas pastagens atravessam o Cávado e lavam as tetas ubérrimas de leite que, ao romper do sol, depois de nos espreguiçarmos à janela do quarto, se bebe regaladamente.

De uma ponta à outra o silêncio. Os automóveis, que a um quilómetro passam a caminho de Viana ou do Porto, não se ouvem. Os que aparecem em Ofir evitam buzinar e pensa-se que têm motor com silenciador para entrar nesta zona. O rio quase não mexe. O mar, esse, é menos discreto, mas faz o possível para não perturbar a tranquilidade do meio: à medida que se aproxima da praia perde arrogância e mal ali chega, quando muito, barafusta com o areal. Com tanta graça o faz, porém, que as pessoas às vezes abeiram-se dele só para o verem brincar ao esconde-esconde com a praia.

Os grandes atrevidos da paisagem são, no meio de tudo, os pássaros que se ouvem mas não se lobrigam: divertem-se a ver-nos à sua procura por entre as pinhas das copas dos seus abrigos que abundam em redor.

Se surge nevoeiro, então ouve-se uma vaca mugir ao longe - alguns dizem que é um aviso para a navegação - que, às vezes, leva horas naquele lamento a que a gente se habitua e acaba por não ligar.

De resto, Ofir não tem cartazes, nem paredes com frases pintadas de fugida. Ofir não tem Rossio nem Chiado. Nem gritos, nem palavras de ordem. As barbas que tem são importadas. As suas são de milho. Limpas. E cheiram a mar. E o mar cheira a lavado. Como o ar que se respira.. (...)"

Foicebronko 3



Eu fui ...



Tu foste?

Mi

E ela foi?



Nós fomos!!!

Sol

Foram?...



Onde? ...

Si

Lá!...


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Os últimos mil escudos de minha mãe

Agostinho da Silva

"Evitarei ter demais
e gastarei sempre menos
qualquer navio nenhum cais"
"Quando minha mãe perdeu a noção dos valores materiais, "sobraram-lhe" mil escudos no porta-moedas.
Com eles comprei este livro de poesia de Agostinho da Silva,
admirador da sabedoria
dos que apenas foram ensinados a ler o livro da vida (...)"




Sonho de criança (pintura a óleo)


(Pintura a óleo sobre platex.  Emília Alves - 1970)

Os eléctricos de Hong-Kong

Com a integração de Hong-Kong na China, os eléctricos, que tinham dois pisos, tiveram que crescer em altura, são mais compridos, já não há, nas ruas, espaço para eles, ou já só podem circular bicicletas?

Gostaria de saber ... De preferência, ao vivo. Isto é rever ... Tenho saudades daquele chá que, regaladamente, num fim de tarde, fui beber, com todos os efes e erres, a um dos melhores salões daquela que é (penso que ainda será) uma cidade chinesa por fora, mas british, muito british em certos interiores alcatifados ...




Geografia - Viajemos com Mozart 3












" (...) Salzburg-cidade. Salzburg-gente. Salzburg-cidade-gente: uma mesma paisagem. Um mesmo berço. Na maneira de viver, na graça de vestir, na glória de existir. Na humildade triunfante do ser grande, semelhando não passar de uma casinha de bonecas da infância da minha filha.

Ninguém nega que "Os Pequenos Nadas", de Mozart, são uma delícia. Pois, "Os Pequenos Nadas", por muito que tenham sido obrigados a ser parisienses, estão na Salzburg de hoje. A cidade, com efeito, é isso mesmo: o enlevo tocante de muitas pequenas coisas juntas que obrigam os nossos olhos a assumir o papel de abelhas face às flores, poisando ora numa ora noutra, recolhendo o néctar que, mais tarde, tentaremos, cada um à sua maneira, transformar em mel com que enfrentaremos o fumo das fábricas da civilização industrial que nos dá o pão por um lado e no-lo rouba por outro.

Há lugares no mundo que deveria ser "proibido" morrer sem se verem. Se isso fosse possível e quem mandasse fosse eu - Salzburg seria eleito. Mas os desígnios de Deus são, como se diz, insondáveis e, embora, quanto a mim, "tarde", fizeram ali nascer Mozart. E ao dar este génio ao Mundo e aos vulgares mortais deste planeta a possibilidade de reproduzirem a sua música, trouxe Salzburg até casa de cada um. A tal ponto que um distraído conhecedor da cidade poderia ser levado a interrogar-se, sem querer ouvir rococó e coisas do género, se era Salbzburg que tinha dado à luz Mozart, se era Mozart que, como por magia, teria feito "sair" da sua música a idilica paisagem de Salzburg.

Façamos todos, por isso, uma acessível viagem àquele "santuário": oiçamos Mozart de olhos fechados."

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Documentar a simplicidade

Porquê esta fotografia na INTERNET? Porque, na opinião do responsável pelo blogue, documenta uma época, económica e socialmente. Deve ter uns 70 anos. É uma "à la minute", tirada num jardim de Lisboa (algures na zona do Cais do Sodré há um jardim onde me lembro da presença de um olha o passarinho e de palmeiras idênticas ...).

Repare-se no ar orgulhosamente simples dos retratados, na cadeira do estúdio ao ar livre, no cabaz, nos xailes, nos colarinhos da camisa do homem do chapéu, no cachecol do outro e, já agora, no corte de cabelo das mulheres e no saco das compras - tudo a "denunciar" uma eventual ida ao mercado da Ribeira, ali perto.

Anatomia das ideias (0004)

 Sala de Jantar. Década de 70 do século passado. Leninegrado. Hotel de 4 estrelas.

O chefe de mesa, impecável no seu trajar cerimonioso, aproxima-se da mesa onde turistas portugueses se preparam para almoçar, levanta rapidamente o guardanapo que traz dobrado sobre o braço esquerdo e ... e mostra uma pequena lata de caviar, que, acto contínuo, esconde com o mesmo guardanapo - enquanto se afasta e estende o olhar ... 


Logo a seguir veio o empregado de mesa saber o que cada um tinha escolhido.

Álbum do Mundo

Para o Joaquim (disse-me para o tratar assim ...)

Este é um dos muitos papéis velhos que tenho por aí nos escaninhos da casa ... Trago-o para a NET porque a NET é, simultâneamente, caixote do lixo e álbum do mundo ... Para o autor destas conversas fala de uma paróquia NOSSA, em Toronto. É, portanto, o testemunho vivo de um espaço que, se não existe, existiu e teve uma história - que faz parte da História dos Portugueses no Mundo.

Não se riam: andava eu, ontem, por exemplo, nestas andanças das coisas que, aparentemente, já não são, quando, aí do carrefour da Europa, lido um "post" da rua, me chega uma mensagem a dizer que "gostava de conhecer" o que houvesse, no caso, acerca de umas certas lusas andanças nos mares das Terras do Talvez ... Descobrimos, não descobrimos? Pedi licença a John Bull e lembrei eventuais pistas - que já fiz chegar ("pouco com pouco, faz muito ...").

"Na Natureza nada se perde ..." Fiquem com este papel velho - que pode um dia interessar, quanto mais não seja, para reconfirmar que Portugal esteve .
Boletim do Centro Paroquial Português de Toronto  (1978)

Geografia - Viajemos com Mozart 2












"(...) Os artistas plásticos são traidores relativamente a Salzburg. Que estão a fazer na Place du Tertre, em Paris? Que tem mais para lhe dizer o Sacré-Coeur, com toda a sua beleza, do que a formosa cidade austríaca? E, no entanto, só aqui vi um pintor na rua. Vêem-se, sim, valha-nos isso, milhares de máquinas fotográficas a disparar por todo o lado. Benza-as Deus! Há tanta coisa para fixar. Agora é o rio Salzach, depois uma ponte, logo o casario, a seguir outra ponte, mais adiante uma torre pontiaguda e, finalmente, o verde resplandecente, o verde a que apetece, sem se saber porquê, chamar glorioso. Por vezes, a cidade surge aconchegada pela montanha. Que não consegue ser agreste mas que, ajudada pelo clima, se cobre de um manto de vegetação, deixando cair pelas encostas como que franjas a que o sol, de quando em vez, concede tonalidades variadas fazendo de todo o berço de Salzburg uma das paisagens mais belas deste descabelado mundo em que vivemos.

Em Salzburg sobe a gente no funicular até ao castelo e fica-se para ali como que embriagado, como que esquecido, observando o viçoso ondeado das colinas polvilhado, aqui e além, de casas isoladas ou de palacetes com as suas torrres em forma de cabeça de nabo apontadas para o céu. Não muito além, é, então, sim, a verdadeira montanha que, em dia claro de uma tarde estival, se nos apresenta, à distância, em sucessivas gradações de cinzento, mais e mais suave à medida que se afasta dos nossos olhos. O que é verde, e é muito, assemelha-se a um colchão de penas assim fofo, macio, aveludado.

O chamado progresso já lhe fez, apesar de tudo, algumas partidas. Percorrendo com os olhos do alto do castelo, a paisagem circundante, lá aparecem as chaminés das fábricas e um ou outro edifício mais alto, mas que não chega para destruir a graça de tudo o que nos envolve e em que os velhos telhados cor de ardósia alternam com o verdete das cúpulas dos palacetes e igrejas. É assim esta Disneylândia europeia que nos faz amar definitivamente a vida e acreditar em valores superiores (...)."

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fiat lux

Fiat lux.
Foi a palavra mais criadora e alta
que a divindade soube dizer.
 Repete-a contigo
e essa luz existirá
no mais escuro de ti.
Vergílio Ferreira

Tapeçarias pintadas

Para que, na história dos acontecimentos, tenhamos, finalmente, a melhor informação possível, regista-se uma fotografia, (bastante deteriorada, embora), eventualmente única, de um pormenor da inauguração, em Portalegre (Museu Municipal), de uma exposição de tapeçarias pintadas , a propósito das Comemorações dos 500 anos das Cortes de Coimbra de 1385. 

Da esquerda para a direita:

Fernando Namora

António Reis

Sottomayor Cardia

além da autora (Emilia Alves) e ... e ...

Macau antes de ... VII

Monsenhor Manuel Teixeira, durante uma entrevista concedida ao signatário, em Macau

Macau antes de ... VI




Para os Arquivos de Macau:
da chegada e posse do general Melo Egídio
como governador do território.

(perdoe-se a má qualidade das imagens, mas História é História e ... e pior seria não as publicar)

Geografia - Viajemos com Mozart 1













"Se Lisboa fosse Roma poder-se-ia dizer que, para os melomanos, Salzburg estava para Viena como Fátima para a Cidade Eterna - face aos católicos.

Salzburg é santuário da Música. E nem melomanos nem católicos têm que se amofinar com a imagem. Para melómanos católicos, porém, haverá momentos em que rezar a Nossa Senhora de Fátima ou ouvir Mozart os acaba por conduzir a estados de espírito muito semelhantes. Para se estar com a Virgem de Fátima não é obrigatório ir à Cova de Iria. Para sentir Mozart não é indispensável ir a Salzburg. Entretanto, conhecendo Mozart está a "ver-se" a cidade. Salzburg é Mozart. Na riqueza dos contornos da paisagem, no pitoresco dos seus inúmeros recantos.

Poderia, contudo, Mozart, tal como o conhecemos através da sua obra, ter nascido em Sevilha? E em Vila Real de Santo António? E na Guarda? E em Salzburg? Sim, em Salzburg. Só poderia ter sido em Salzburg, embora se diga que nos seus trabalhos há estilos italiano, alemão e francês. O que surpreende é que só tenha acontecido em 1756. O que "escandaliza" é que, pelo menos, todos os anos não tenha nascido ali um Mozart. O que é "provocante" é que os homens do nosso tempo deixem por lá circular automóveis tocando buzinas que nada têm de mozartianas.

Salzburg só pode ser Mozart. Porque tem a frescura da sua música, a elegância das suas sinfonias. Mozart com seis anos é já Homem. Salzburg é brinquedo feito cidade. O que Viena tem de largo, amplo, grande, tem aquela de pequeno, recatado, aconchegado. Tudo é perto de tudo.( ... )"

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Macau antes de ... IV

Lembrar José dos Santos Ferreira. Em primeiro lugar, O POETA:

Vôs, Macau, co passado alegre, triste,
Sã lembrá céu di laia-laia côr:
Têm dia, olá Sol brilhá co chiste,
Têm ora, núve iscuro pintá dôr
Vôs têm sosségo, lô vêm calmaria,
Tudo gozá, soltá cacada, ri!
Virá lestada, suprá ventania,
Quim sentá churá, quim botá fuzi!

Tu, Macau, de passado alegre e triste,
Fazes lembrar o céu quando varia de cor:
Dias de Sol brilha com graça,
Horas em que núvens escuras retratam dor.
Se estás em sossego, há tranquilidade,
Todos gozam, riem às gargalhadas ...
Vem a lestada, fusti!ga a ventania,
Uns ficam a chorar, outros se põem a fugir

Depois o conversador, em fotografia que o tempo fez velha e, por isso, melhor ... No primeiro plano, à direita, Adé.

Na fotografia seguinte, igualmente Adé, mas no papel de José dos Santos Ferreira, secretário do sr. Stanley Ho (na foto também), num salão do Casino Lisboa, em Macau, naturalmente, antes de ...


Nestas coisas "doutros tempos", corre-se o risco de haver um certo nevoeiro nas fotos,
 mas ganha-se a autenticidade do momento ... Melhor é publicar, não acham?... Aí ficam.


Geografia - Transplantação intercontinental 2












"(...) A esperança de uma cultura mais profunda no Canadá poderia estar nas gentes que o procuram se a sua própria condição não tivesse determinantes exclusivamente económicas. Assim o sabor final de Toronto, Montreal, do Canadá há-de ser aquilo que os "robots" quiserem, depois de misturados os ingredientes mais ou menos suaves, mais ou menos fortes, dos povos ali instalados, idos da Europa. Quer dizer que os computorizados E.U.A, que têm no seu vizinho do Canadá um compadre afeiçoado, hão-de dominar a seu jeito, mesmo que nada façam de propósito para isso. A atracção dos resultados obtidos a partir do dólar US, que está perto e é fascinante, influenciará o que a Europa de longe "quer" que seja o mundo de amanhã. E a emigração pouco poderá conseguir já que, por mais que se faça por ela, não tem resistências culturais suficientes para escapar à "maldição" dolariana. A esperança está nas reservas de índios ainda existentes, desde que não as metam em negócios e lhes proporcionem, quanto antes, um estágio na Europa - prolongado, com bem-estar - mas sem dólares.

O Canadá (e também os EUA), fez-me lembrar a formiga. E eu admiro a cigarra. Ou nem uma nem outra. Mas nunca a formiga sem nada de cigarra. Trabalhar nos intervalos da leitura, em vez ler nos intervalos do trabalho - como objectivo. O dólar como meio. Jamais como fim. Morrer a ouvir ópera, vendo Rafael, Miguel Ângelo, Ticiano, Velasquez. Evitando ser enterrado numa sala de computadores ou à beira dum cofre a contar notas.

Canadá-mescla. E sendo assim - esperança.

Canadá-alienação pelo dinheiro. E sendo assim - morte.

Canadá-EUA. E sendo assim abdicação. Mas, do mal o menos: betão, cálculo científico e, amanhã, não morte mas - Marte.

Canadá-juventude. E sendo assim - futuro. Mas só em Montreal, 136 escolas com capacidade para 300 crianças cada, fecharam nos últimos três a quatro anos por falta de alunos. Num dos maiores países do mundo. Por isso - que futuro? Dos velhos afogados em jogos de bolsa e sonhando com contas bancárias? Dos que trabalham sem viver e legam, como resultado natural do cifrão, uma geração que quer viver sem trabalhar? E surge a droga.Quem pode acusar quem?

Acode, então, como mezinha mais radical do que a preconizada vinda à Europa de uns ingénuos índios sem cêntimos, a generosa ideia de uma transplante intercontinental: o Velho Continente, com armas e bagagens, vivendo uns anos na zona do dólar, passando a gente do Canadá (e já agora dos EUA), por troca temporária, para as regiões aquém e além Pirinéus. Ou, em alternativa, uma torre de Toronto por uma Pigale; um Louvre por uma NASA; o templo de Diana, de Évora, por umas toneladas de trigo.

E que tudo assim seja feito -para saúde do universo e felicidade dos mortais."  1978

Macau antes de ... ( III )



Está por aí na NET dito e redito quem foi Monsenhor Manuel Teixeira, que hoje dorme definitivamente na sua Freixo de Espada à Cinta, depois de uma vida dedicada a Macau. Conheci-o naquele território e é desse momento, apesar de ter tido outras oportunidades, que guardo a impressão mais forte ao vê-lo avançar, cabelos e vestes brancos, para o abraço de recepção que nunca mais se desligaria, até à última visita que lhe fiz, anos mais tarde, no hospital que acabou por ser, creio, a sua última casa, antes da definitiva viagem para Portugal.

Lembro-o agora na fotografia, sem data, que encontrei entre os vários livros que, assinados e, amavelmente dedicados pelo seu punho, constituem um daqueles bens de que se soltam universos ... Adiante. Que fale o retrato guardado no livro da saudade.