segunda-feira, 30 de abril de 2012
Fachadas de estimação
Rostos
Este senhor é o austrolusoxadrezista, a que se deve, nomeadamente, a espectacular apresentação
de um jogo de xadrez, com figuras humanas, ao vivo, em 1977, na avenida da Liberdade, em Lisboa.
Em breve,
andará por aí uma "espécie de biografia"
deste inveterado divulgador da modalidade.
Lego Fan Event 2012, em Lisboa: OLÉ!
Está aí mais um dia ou dois, a exposição-venda de Lego. Fascinante.
- Ó pai, já tirei mais de trezentas fotografias!... - ouvi, entre gargalhadas, a meu lado, numa conversa solta doutros, escorrida das músicas e gargalhadas circundantes.
Mas fiquei a pensar nos talvez menos 60 anos do que eu que teria o gaiato da conversa ...
"Ganhaste, miúdo! Eu, com a tua idade, não sabia nada de Lego. Agora é que, de facto, sei - ou aprendi a saber, nesta exposição" - apeteceu-me dizer-lhe. Mas deixei-me maravilhar pelas pontes, pelos combóios, pelos prédios, pelos animais, pelos barquinhos, pelo ambiente de festa ... no Campo Pequeno, em recinto de olés ...
E desatei a fotografar também ...
- Ó pai, já tirei mais de trezentas fotografias!... - ouvi, entre gargalhadas, a meu lado, numa conversa solta doutros, escorrida das músicas e gargalhadas circundantes.
Mas fiquei a pensar nos talvez menos 60 anos do que eu que teria o gaiato da conversa ...
"Ganhaste, miúdo! Eu, com a tua idade, não sabia nada de Lego. Agora é que, de facto, sei - ou aprendi a saber, nesta exposição" - apeteceu-me dizer-lhe. Mas deixei-me maravilhar pelas pontes, pelos combóios, pelos prédios, pelos animais, pelos barquinhos, pelo ambiente de festa ... no Campo Pequeno, em recinto de olés ...
E desatei a fotografar também ...
domingo, 29 de abril de 2012
Crise no lixo
A cerca de duas dezenas de metros da minha janela há dois caixotes do lixo camarários que têm uma goela que basta a gente, com um pé, carregar nos respectivos pedais, e é vê-los abertos para receberem os sacos do lixo da vizinhança. Acontece que, por vezes, o que as pessoas querem deitar fora não é o lixo corrente, são monos que não cabem na boca dos públicos contentores e ... e, sem cuidar de calendário (a coisa tem dia certo para se fazer ...), são depositados nas suas imediações - o que é sempre um péssimo "espectáculo", como se deixa ver: frigoríficos desventrados, esquentadores com as tripas à mostra, fogões com tubagens enferrujadas, mesas pernetas, malas de viagem sem forros, que sei eu ...
Ora, de há uns meses para cá, sem que à volta dos ditos contentores haja qualquer instrução camarária nova, a verdade é que deixou de haver monos ... Terá havido, isso sim, como que, digo eu, um certo abrandamento na chamada sociedade de consumo, o que, se por um lado, quer dizer crise, por outro, há que reconhecê-lo, significa mais contenção económica doméstica, o que não é mau ...
Quem não concorda, tenho quase a certeza, são, nomeadamente, os sucateiros, cuja presença, por razões óbvias, agora, quase não se faz notar. Aliás, há pouco, ainda apareceu aí um que levou, salvo erro, um micro-ondas acabado de chegar à zona ... Deve ser de algum ricaço cá do sítio, digo eu, que vai ter que ter mais cuidado porque o fisco anda aí e pode notificá-lo por excesso de bem-estar ...
"- O quê, V.Exa. tem um micro-ondas novo? Como é que conseguiu isso?
- Ah, eu consegui, apesar de tudo, fazer umas economias e ...
- Economias?... Então e vai gastá-las assim?... V.Exa. não sabia que ...
- Saber, sabia, mas "aquilo" já não aquecia nada e havia perigo de curto-circuito, disse-me o técnico ...
- Tem fogareiro a petróleo?...
- Tenho!... Mas o petróleo está tão caro ...
- Qual caro, qual história ... Até tem estado a baixar ... Do que é que está à espera?!... Bom dia! Por agora escapa."
-
A Assembleia e as couves
Está escrito num local muito perto de si:
No século XVI, este edifício era conhecido como Mosteiro de S. Bento da Saúde.
Mais tarde, como Palácio das Cortes, Palácio dos Congressos, Palácio da Assembleia Nacional.
Hoje tratam-no por Palácio de S. Bento.
O que não dizem é que nos estão a fazer falta as couves que tinhamos no espaço onde hoje está a escadaria que só tem dado chatices ...
No século XVI, este edifício era conhecido como Mosteiro de S. Bento da Saúde.
Mais tarde, como Palácio das Cortes, Palácio dos Congressos, Palácio da Assembleia Nacional.
Hoje tratam-no por Palácio de S. Bento.
O que não dizem é que nos estão a fazer falta as couves que tinhamos no espaço onde hoje está a escadaria que só tem dado chatices ...
sábado, 28 de abril de 2012
Encontros no ascensor
no decurso da Volta ao Mundo que tive, como sabem, há cerca de 30 anos, oportunidade profissional de fazer (pesquisar em ruadojardim7), a certa altura, depois de, ao cair da noite, em Joanesburgo, na África do Sul, ter sido assaltado na rua por dois negros que me levaram dinheiro e relógio ...
... na primeira noite que, quase logo a seguir, fiquei em Dakar, já no Senegal, no hotel, uma negra entrou de rompante no ascensor onde me preparava para "viajar" sozinho, e ... e deitou a mão a ... deitou-me a mão ... aos ... isso ... Traumatizado quase desde a véspera, na África do Sul, a perplexidade foi pouco máscula e o assalto de Joanesburgo regressou-me meteórico à memória ...
Dormi mal. Sozinho. Mas ficou uma história para ... para não contar - até que li o que li há bocado, sabe-se lá com que fundo de verdade ... Thomas Mann já cá não está para esclarecer ... E os críticos literários não sei se sabem ... TUDO.
Lisboa - Feira do Livro 2012
"Há os livros que antes de lidos estão lidos. Há os que se lêem todos e ficam logo lidos todos. E há os que nos regateiam a leitura e a que pedimos humildemente que se deixem ler todos e não deixam e vão largando uma parte de si pelas gerações e jamais se deixam ler de uma vez para sempre." Vergílio Ferreira
Às vezes ...
Para uma neta que nasceu faz hoje alguns meses ...
Às vezes sei, sei p'ra quem escrevo
Às vezes não sei p´ra que escrevo
Às vezes vejo p´ra quem escrevo
E escrevo porque t'imagino aí
Às vezes prefiro escrever num papel
Mas tenho medo que o papel amareleça e morra
E venho aqui pedir que nada de mal aconteça ao que escrevo
Às vezes ilude-me a palavra descoberta
E vou ao dicionário e a que lá está não é igual
Às vezes lembro-me de palavras que não há
Para dizer coisas que julgo ver
Às vezes procuro respirar palavras alheias
Às vezes apetece-me pedir aos livros que falem
Apelar aos livros que gritem o pouco que têm
Às vezes estou horas à procura de palavras para as soltar ao vento ...
Às vezes não encontro palavras, nem sorrisos - nada ...
Mas estou - por vezes ...
M.A.
Às vezes sei, sei p'ra quem escrevo
Às vezes não sei p´ra que escrevo
Às vezes vejo p´ra quem escrevo
E escrevo porque t'imagino aí
Às vezes prefiro escrever num papel
Mas tenho medo que o papel amareleça e morra
E venho aqui pedir que nada de mal aconteça ao que escrevo
Às vezes ilude-me a palavra descoberta
E vou ao dicionário e a que lá está não é igual
Às vezes lembro-me de palavras que não há
Para dizer coisas que julgo ver
Às vezes procuro respirar palavras alheias
Às vezes apetece-me pedir aos livros que falem
Apelar aos livros que gritem o pouco que têm
Às vezes estou horas à procura de palavras para as soltar ao vento ...
Às vezes não encontro palavras, nem sorrisos - nada ...
Mas estou - por vezes ...
M.A.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Uma flor para Isabel Moita
Uma flor para Isabel Moita que nos deixou. Ficam as gargalhadas que lhe ouvimos. Fica a memória de um ambiente de trabalho que não conheceu inimigos.
Pintores jovens no Palácio Galveias, em Lisboa ( 2 )
Em 22 de Julho de 2011 publiquei neste blogue uma breve nota acerca de uma exposição de obras de pintores jovens patente, naquela data, no Palácio Galveias, em Lisboa.
Nunca é tarde, digo eu: aí fica, agora, com igual mérito, como que uma "segunda parte" do então exposto e aqui não referido. Sem nenhuma ordem especial, como é óbvio. Hoje como em 2011. Apenas e ainda com o propósito sublinhado. Parabéns a todos! Sejam bem-vindos a este espaço!
Nunca é tarde, digo eu: aí fica, agora, com igual mérito, como que uma "segunda parte" do então exposto e aqui não referido. Sem nenhuma ordem especial, como é óbvio. Hoje como em 2011. Apenas e ainda com o propósito sublinhado. Parabéns a todos! Sejam bem-vindos a este espaço!
Socialismo em discussão no coreto do Jardim
Tudo começa junto ao Parque Infantil do Jardim. Mas fomos andando e agora é à beira do coreto que a conversa anima: socialismo, é o tema de fundo.
Vem um, rapa de um dicionário prático da língua portuguesa (edição de 1957) e lê: "Sistema daqueles que querem transformar a sociedade pela incorporação dos meios de produção na comunidade, pelo regresso dos bens e propriedades particulares à colectividade, e pela repartição, entre todos, do trabalho comum e dos objectos de consumo."
Vem outro e puxa de um livro de Vergílio Ferreira e lê em voz alta: "...O socialismo hoje confessa a inoperância da sua utopia e nós orientamo-nos para esse novo modo de ser, não apenas porque insensivelmente nos fomos harmonizando para isso aceitar. Mas que é que de novo surgiu nos países socialistas para só agora, e à uma confessarem a ilusão? Há dezenas de anos que a experiência estava feita e era só sancioná-la quando se fez, ou seja desacreditá-la. Qualquer coisa de novo se revelou e tornou intolerável que se persistisse. Não houve decerto a gota de água que fez transbordar o vaso mas o simples reconhecimento de que tinha já transbordado. Aconteceu foi que a humanidade em geral se modificou e no quadro universal a persistência no logro a denuncia como logro. Um novo equilíbrio se instaurou no modo generalizado de se ser humano por sobre o desgaste do anterior, e o erro denunciou-se como a ausência do cómico da graça de que rimos ou da sedução da mulher que amámos. Decerto há sempre razões disponíveis para "explicarmos" o que se quiser. Mas a grande explicação e o que o não é, porque ..."
Não sonham a discussão que se levantou a propósito do tema. Houve logo quem propusesse que os circunstantes mais exaltados subissem ao espaço do coreto e, sem maestro, ali debatessem as suas opiniões opostas, ou quase opostas, que agitaram o largo. É que apareceram imediatamente os que se diziam sociais-democratas, os que se afirmavam democratas-cristãos, os que gritavam pelo socialismo democrático, os que ... os que ... Um inferno! No fundo, o que todos queriam, (atreve-se o subscritor destas crónicas de jardim a escrever) era "sol na eira e chuva no nabal".
É isso: voto no "sol na eira e chuva no nabal" - e fico por aqui. Não gosto de discussões. Bem bastam alguns "mails" que recebo e que tanto trabalho me dão a concertar ... Não fossem eles, por vezes, qualquer coisa que me lembra as brincadeiras, aqui mesmo, "aos polícias e ladrões", e ...
Vem um, rapa de um dicionário prático da língua portuguesa (edição de 1957) e lê: "Sistema daqueles que querem transformar a sociedade pela incorporação dos meios de produção na comunidade, pelo regresso dos bens e propriedades particulares à colectividade, e pela repartição, entre todos, do trabalho comum e dos objectos de consumo."
Vem outro e puxa de um livro de Vergílio Ferreira e lê em voz alta: "...O socialismo hoje confessa a inoperância da sua utopia e nós orientamo-nos para esse novo modo de ser, não apenas porque insensivelmente nos fomos harmonizando para isso aceitar. Mas que é que de novo surgiu nos países socialistas para só agora, e à uma confessarem a ilusão? Há dezenas de anos que a experiência estava feita e era só sancioná-la quando se fez, ou seja desacreditá-la. Qualquer coisa de novo se revelou e tornou intolerável que se persistisse. Não houve decerto a gota de água que fez transbordar o vaso mas o simples reconhecimento de que tinha já transbordado. Aconteceu foi que a humanidade em geral se modificou e no quadro universal a persistência no logro a denuncia como logro. Um novo equilíbrio se instaurou no modo generalizado de se ser humano por sobre o desgaste do anterior, e o erro denunciou-se como a ausência do cómico da graça de que rimos ou da sedução da mulher que amámos. Decerto há sempre razões disponíveis para "explicarmos" o que se quiser. Mas a grande explicação e o que o não é, porque ..."
Não sonham a discussão que se levantou a propósito do tema. Houve logo quem propusesse que os circunstantes mais exaltados subissem ao espaço do coreto e, sem maestro, ali debatessem as suas opiniões opostas, ou quase opostas, que agitaram o largo. É que apareceram imediatamente os que se diziam sociais-democratas, os que se afirmavam democratas-cristãos, os que gritavam pelo socialismo democrático, os que ... os que ... Um inferno! No fundo, o que todos queriam, (atreve-se o subscritor destas crónicas de jardim a escrever) era "sol na eira e chuva no nabal".
É isso: voto no "sol na eira e chuva no nabal" - e fico por aqui. Não gosto de discussões. Bem bastam alguns "mails" que recebo e que tanto trabalho me dão a concertar ... Não fossem eles, por vezes, qualquer coisa que me lembra as brincadeiras, aqui mesmo, "aos polícias e ladrões", e ...
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Canteiro de palavras XLVIII - Thomas Mann *
* in As Confissões de Félix Krull
"A cultura não se obtém com um labor obtuso e intensivo e é antes o produto da liberdade e da ociosidade exterior. Não se adquire, respira-se. O que trabalha para ela são os elementos ocultos. Uma secreta aplicação dos sentidos e do espírito, conciliável com um devaneio quase total em aparência, solicita diariamente as riquezas dessa cultura, podendo dizer-se que o eleito a adquire a dormir. Isto porque é necessário ser dúctil para se poder ser instruído. Ninguém pode adquirir o que não possui ao nascer, nem ambicionar o que lhe é estranho. Quem é feito de madeira ordinária nunca se afinará, porque quem se afina nunca foi grosseiro. Nesta matéria, é também muito difícil traçar uma linha de separação nítida entre o mérito pessoal e aquilo que se chama o favor das circunstâncias. Se a sorte benévola não me tivesse, no momento preciso, transplantado para uma grande cidade, e não me tivesse permitido horas de amplo recreio, teria sido privado das vantagens que esses lugares de prazer e de educação concedem, e os meus estudos ter-se-iam limitado a ir espreitar de fora das grades desse jardim dos prazeres."
"A cultura não se obtém com um labor obtuso e intensivo e é antes o produto da liberdade e da ociosidade exterior. Não se adquire, respira-se. O que trabalha para ela são os elementos ocultos. Uma secreta aplicação dos sentidos e do espírito, conciliável com um devaneio quase total em aparência, solicita diariamente as riquezas dessa cultura, podendo dizer-se que o eleito a adquire a dormir. Isto porque é necessário ser dúctil para se poder ser instruído. Ninguém pode adquirir o que não possui ao nascer, nem ambicionar o que lhe é estranho. Quem é feito de madeira ordinária nunca se afinará, porque quem se afina nunca foi grosseiro. Nesta matéria, é também muito difícil traçar uma linha de separação nítida entre o mérito pessoal e aquilo que se chama o favor das circunstâncias. Se a sorte benévola não me tivesse, no momento preciso, transplantado para uma grande cidade, e não me tivesse permitido horas de amplo recreio, teria sido privado das vantagens que esses lugares de prazer e de educação concedem, e os meus estudos ter-se-iam limitado a ir espreitar de fora das grades desse jardim dos prazeres."
PORNOLITICA
Do último lote de mails recebidos, a síntese:
dois abordam a vida política e económica de Cavaco Silva
e um terceiro mostra a parte oculta de figuras da Ilha de Páscoa.
Guardei para reflexão futura.
dois abordam a vida política e económica de Cavaco Silva
e um terceiro mostra a parte oculta de figuras da Ilha de Páscoa.
Guardei para reflexão futura.
Montanhas Azuis, na Austrália
Descontadas as moscas que os chapéus de aba larga com rolhas penduradas nas abas tentam afastar, as Montanhas Azuis, são, na Austrália, um verdadeiro paraíso terrestre, onde o verde inunda o olhar e se torna inesquecível para quem tem oportunidade de, directamente, o contemplar. Foi assim comigo, aliás, que, entusiasmado, inclusivé, arrisquei descer a uma queda de água e ... e me espalhei - sem corrimão que me salvasse ... Porquê, então, este apontamento? Pura e
simplesmente porque o "fotógrafo" estava lá e o momento que o "boneco" fixou é exactamente aquele que antecede a queda ... Não a queda de água, claro, que
essa é permanente, mas a minha ... desastrada - e única ... Quase teatral!...
Imagine-se, e, já agora, imagine-se também - e sobretudo - a beleza do lugar, a que a cor (aqui) não ajuda, mas o meio envolvente esboça ... Obrigado, família Costa!
Fado na varanda da Basílica, frente à ruadojardim
Um dia, tendo fugido da meninice, galgado a juventude e alcançado uma idade, apesar de tudo, longe dos 100, meteu-se-me na cabeça que devia reviver a criança que tinha subido ao zimbório que se vê na imagem, e voltar a contemplar Lisboa lá do alto - na altura já de acesso interdito.
Foi então que pedi/roguei ao simpático senhor prior para, por especial obséquio, me deixar subir ... subir ... subir ... para , lá do cimo, olhar, uma vez mais, o telhado da minha antiga e velha casa e contemplar o jardim - este jardim onde, afinal, agora vos escrevo com a regularidade que a miudagem cá do sítio me consente ...
Acabei por conseguir, não sei como, a desejada autorização excepcional, e hoje posso dizer-vos que nesta, naquela varanda voltada para o mar, fiz ouvir um fado, um fado sobre Lisboa que levava gravado num aparelho quase de bolso que não declarei à entrada ...
E é tudo. A história mais pormenorizada é capaz de já estar para aí relatada neste blogue, mas a saudade e a fotografia provocaram-me e ... e FIQUEM COM A IMAGEM que acabo de achar. Uma coisa sei, nós sabemos: no dia em que estes universos não nos interessarem, estamos mortos - em vida. Daí ...
Foi então que pedi/roguei ao simpático senhor prior para, por especial obséquio, me deixar subir ... subir ... subir ... para , lá do cimo, olhar, uma vez mais, o telhado da minha antiga e velha casa e contemplar o jardim - este jardim onde, afinal, agora vos escrevo com a regularidade que a miudagem cá do sítio me consente ...
Acabei por conseguir, não sei como, a desejada autorização excepcional, e hoje posso dizer-vos que nesta, naquela varanda voltada para o mar, fiz ouvir um fado, um fado sobre Lisboa que levava gravado num aparelho quase de bolso que não declarei à entrada ...
E é tudo. A história mais pormenorizada é capaz de já estar para aí relatada neste blogue, mas a saudade e a fotografia provocaram-me e ... e FIQUEM COM A IMAGEM que acabo de achar. Uma coisa sei, nós sabemos: no dia em que estes universos não nos interessarem, estamos mortos - em vida. Daí ...
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Anatomia das ideias (0021) - o 25 do quatro
Duas vezes, meio ensonado, peguei no telefone e, primeiro, um colega, depois um ex-colega, disseram-me que havia uma revolução em Lisboa. Lavei a cara e liguei o rádio e a televisão para saber ... O calendário, silencioso, tinha impresso 25 de Abril de 1974. Agora, anos passados, o que sei, não sei se sei ... Por isso, proponho a Sala de Anatomia ... Anatomia das ideias. Porque a Liberdade o permite.
FRANCO NOGUEIRA
"(...) Numa sociedade portuguesa que se afundava em dúvidas e frustrações, Salazar aparecia com um pensamento autónomo, propunha certezas, sugeria ideais redentores. Dava a sensação de um homem de fé, de princípios, de carácter."
MARCELO CAETANO
"(...) Não houve, nem podia haver, rotura com o passado próximo. Eu tinha de executar a Constituição vigente, largamente programática, isto é, contendo numerosos preceitos onde se condensava a doutrina do Estado, e de me conformar com as instituições por ela criadas e reguladas. E nisso não fazia sacrifício.
Mas no meu discurso de posse logo preveni que na vida a continuação não pode deixar de ser adaptação, renovação, evolução. Era forçoso, após tão longo período de governo dominado pelo génio de um homem, o País adaptar-se a ser governado por "homens como os outros", e proceder-se a uma vasta revisão que abrangesse objectivos e métodos, para suprimir quanto estivesse caduco, vitalizar as boas iniciativas esmorecidas, lançar e ensaiar outros processos."
ANTÓNIO SPINOLA
"(...) Haverá então que cuidar do pacto social, em ordem a reequilibrar a balança dos fluxos entre cada Português e a Nação, restabelecendo uns laços, reforçando outros, procurando que cada cidadão se sinta melhor vivendo os seus e à maneira dos seus, em cuja vida participe com pleno direito de expressão, sentindo nas próprias abdicações actos determinados pela sua consciência, e investindo assim, voluntariamente, o seu esforço em favor de um futuro melhor. Mas para tanto é necessário que esse futuro lhe seja claro, que o investimento se lhe revele rendível pelo menos a médio prazo e que a sua integridade como pessoa livre não seja afectada por dogmas definidos à margem da sua opinião."
HUMBERTO DELGADO
"(...) O Dr. Salazar acredita que a geração mais nova está em grande parte a tornar-se comunista. As Forças Armadas e outras classes reaccionárias não consideram o Comunismo à maneira das grandes democracias, continuando a olhá-lo somente pelo lado mais negro.
No entanto, as Forças Armadas e outras estúpidas classes reaccionárias deverão compreender que quanto mais tempo o Dr. Salazar continuar no poder, mais Comunistas haverá. Digo-o, não porque seja Comunista, que não sou, mas porque não deixei embotar o meu cérebro pelos trinta e três anos de reinado de Salazar. De vistas modernas, tendo viajado e passado muitos anos entre os Anglo-Saxões, sou demasiado evoluído e tolerante para ter medo de quaisquer "ismos".
O país precisa de ser governado pela geração mais nova, de entre os vinte e um e os cinquenta anos, a chamada "terceira força". É com profunda emoção e afecto que a exorto a continuar as suas demonstrações e a tornar-se cada vez mais forte, valente e confiante na sua Causa, pois só assim incitará o país para a rebelião nacional, que virá a libertar, finalmente, o nosso povo lutador."
ÁLVARO CUNHAL
"(...) Salazar sempre atribuiu o atraso e a miséria de Portugal à "pobreza natural do país". Quem o ouvisse e acreditasse diria que a nós, os portugueses, nos coubera a pior quinhão do planeta. O solo agrícola seriam pedras e calhaus. O clima desfavorável à agricultura. Minérios e fontes de energia quase inexistentes. Nestas condições, como poderia a ditadura fazer mais do que faz?
(...) A própria evolução da economia nacional tem vindo a destruir uma a uma as "bases" da explicação. Na medida em que os capitalistas portugueses e os imperialistas estrangeiros vão aproveitando as riquezas nacionais, cada vez menos Portugal aparece como um país pobre de recursos."
MÁRIO SOARES
"(...) O termo da candidatura Delgado, ao contrário do que sucedeu com os movimentos eleitorais anteriores, não matou a esperança de uma mudança política, a breve trecho. Diversamente, deu um impulso novo à luta pela democratização do País, visto que trouxe ao combate muita gente nova, de todas as classes sociais. O salazarismo, pode dizer-se, sem excessiva ênfase, saiu ferido de morte dessa campanha. E não foi, de certo, por coincidência fortuita que o sucessor designado do regime, Marcello Caetano, escolheu precisamente esse momento para se retirar da vida política, mantendo-se numa reserva prudente até ao afastamento de Salazar, dez anos depois ...
O ambiente de descontentamento era tão vasto, os homens públicos do regime encontravam-se de tal forma desprestigiados, aos olhos do País inteiro, a descrença nos métodos de acção política do salazarismo (e na sua eficácia!) estava tão generalizada, que ninguém poderia admitir, com verosimilhança, que o regime sobrevivesse ainda dez anos. A conjuntura internacional parecia também favorável, reforçando este sentimento quase unanimemente partilhado."
CAVACO SILVA
"(...) Vivi os dias a seguir ao 25 de Abril contagiado pela explosão de alegria que reinava nas ruas de Lisboa, dominado pela esperança de ver implantada em Portugal uma democracia pluralista e europeia que abrisse as portas à recuperação do nosso atraso de desenvolvimento. Tinha a ilusão de que a democracia podia ser instalada sem graves perturbações. Mas rapidamente me apercebi de que o caminho político que estava a ser trilhado nada tinha a ver com a democracia que conhecera em Inglaterra nem com a dos outros países da Comunidade Europeia. Estava em curso uma tentativa de tomada do poder pelo Partido Comunista Português (PCP), visando instalar uma ditadura de esquerda e transformar Portugal num país comunista à imagem dos países satélites da União Soviética. Ao ouvir na televisão as declarações de alguns membros do Governo, do Conselho da Revolução ou dos partidos políticos, voltava-me para a minha mulher e dizia: "Esta gente não está boa da cabeça, parece um país de loucos."
ANÓNIMO
"Olhem para mim todos os ministros de el-rei, que ontem andavam a pé e hoje a cavalo; estejam atentos a duas perguntas que lhes faço e respondam-me a elas, se souberem: - Se os ofícios de vossas mercês dão de si até poderem andar em um macho ou em uma faca, quando muito, e suas mulheres em uma cadeira, como andam vossas mercês em liteiras e elas em coche? Se a sua mesa se servia muito bem com pratos, saleiro e jarro e louça pintada de Lisboa, como se serve agora em baixelas de prata, salvas de bastiões, confeiteiras de relevo?"
FRANCO NOGUEIRA
"(...) Numa sociedade portuguesa que se afundava em dúvidas e frustrações, Salazar aparecia com um pensamento autónomo, propunha certezas, sugeria ideais redentores. Dava a sensação de um homem de fé, de princípios, de carácter."
MARCELO CAETANO
"(...) Não houve, nem podia haver, rotura com o passado próximo. Eu tinha de executar a Constituição vigente, largamente programática, isto é, contendo numerosos preceitos onde se condensava a doutrina do Estado, e de me conformar com as instituições por ela criadas e reguladas. E nisso não fazia sacrifício.
Mas no meu discurso de posse logo preveni que na vida a continuação não pode deixar de ser adaptação, renovação, evolução. Era forçoso, após tão longo período de governo dominado pelo génio de um homem, o País adaptar-se a ser governado por "homens como os outros", e proceder-se a uma vasta revisão que abrangesse objectivos e métodos, para suprimir quanto estivesse caduco, vitalizar as boas iniciativas esmorecidas, lançar e ensaiar outros processos."
ANTÓNIO SPINOLA
"(...) Haverá então que cuidar do pacto social, em ordem a reequilibrar a balança dos fluxos entre cada Português e a Nação, restabelecendo uns laços, reforçando outros, procurando que cada cidadão se sinta melhor vivendo os seus e à maneira dos seus, em cuja vida participe com pleno direito de expressão, sentindo nas próprias abdicações actos determinados pela sua consciência, e investindo assim, voluntariamente, o seu esforço em favor de um futuro melhor. Mas para tanto é necessário que esse futuro lhe seja claro, que o investimento se lhe revele rendível pelo menos a médio prazo e que a sua integridade como pessoa livre não seja afectada por dogmas definidos à margem da sua opinião."
HUMBERTO DELGADO
"(...) O Dr. Salazar acredita que a geração mais nova está em grande parte a tornar-se comunista. As Forças Armadas e outras classes reaccionárias não consideram o Comunismo à maneira das grandes democracias, continuando a olhá-lo somente pelo lado mais negro.
No entanto, as Forças Armadas e outras estúpidas classes reaccionárias deverão compreender que quanto mais tempo o Dr. Salazar continuar no poder, mais Comunistas haverá. Digo-o, não porque seja Comunista, que não sou, mas porque não deixei embotar o meu cérebro pelos trinta e três anos de reinado de Salazar. De vistas modernas, tendo viajado e passado muitos anos entre os Anglo-Saxões, sou demasiado evoluído e tolerante para ter medo de quaisquer "ismos".
O país precisa de ser governado pela geração mais nova, de entre os vinte e um e os cinquenta anos, a chamada "terceira força". É com profunda emoção e afecto que a exorto a continuar as suas demonstrações e a tornar-se cada vez mais forte, valente e confiante na sua Causa, pois só assim incitará o país para a rebelião nacional, que virá a libertar, finalmente, o nosso povo lutador."
ÁLVARO CUNHAL
"(...) Salazar sempre atribuiu o atraso e a miséria de Portugal à "pobreza natural do país". Quem o ouvisse e acreditasse diria que a nós, os portugueses, nos coubera a pior quinhão do planeta. O solo agrícola seriam pedras e calhaus. O clima desfavorável à agricultura. Minérios e fontes de energia quase inexistentes. Nestas condições, como poderia a ditadura fazer mais do que faz?
(...) A própria evolução da economia nacional tem vindo a destruir uma a uma as "bases" da explicação. Na medida em que os capitalistas portugueses e os imperialistas estrangeiros vão aproveitando as riquezas nacionais, cada vez menos Portugal aparece como um país pobre de recursos."
MÁRIO SOARES
"(...) O termo da candidatura Delgado, ao contrário do que sucedeu com os movimentos eleitorais anteriores, não matou a esperança de uma mudança política, a breve trecho. Diversamente, deu um impulso novo à luta pela democratização do País, visto que trouxe ao combate muita gente nova, de todas as classes sociais. O salazarismo, pode dizer-se, sem excessiva ênfase, saiu ferido de morte dessa campanha. E não foi, de certo, por coincidência fortuita que o sucessor designado do regime, Marcello Caetano, escolheu precisamente esse momento para se retirar da vida política, mantendo-se numa reserva prudente até ao afastamento de Salazar, dez anos depois ...
O ambiente de descontentamento era tão vasto, os homens públicos do regime encontravam-se de tal forma desprestigiados, aos olhos do País inteiro, a descrença nos métodos de acção política do salazarismo (e na sua eficácia!) estava tão generalizada, que ninguém poderia admitir, com verosimilhança, que o regime sobrevivesse ainda dez anos. A conjuntura internacional parecia também favorável, reforçando este sentimento quase unanimemente partilhado."
CAVACO SILVA
"(...) Vivi os dias a seguir ao 25 de Abril contagiado pela explosão de alegria que reinava nas ruas de Lisboa, dominado pela esperança de ver implantada em Portugal uma democracia pluralista e europeia que abrisse as portas à recuperação do nosso atraso de desenvolvimento. Tinha a ilusão de que a democracia podia ser instalada sem graves perturbações. Mas rapidamente me apercebi de que o caminho político que estava a ser trilhado nada tinha a ver com a democracia que conhecera em Inglaterra nem com a dos outros países da Comunidade Europeia. Estava em curso uma tentativa de tomada do poder pelo Partido Comunista Português (PCP), visando instalar uma ditadura de esquerda e transformar Portugal num país comunista à imagem dos países satélites da União Soviética. Ao ouvir na televisão as declarações de alguns membros do Governo, do Conselho da Revolução ou dos partidos políticos, voltava-me para a minha mulher e dizia: "Esta gente não está boa da cabeça, parece um país de loucos."
ANÓNIMO
"Olhem para mim todos os ministros de el-rei, que ontem andavam a pé e hoje a cavalo; estejam atentos a duas perguntas que lhes faço e respondam-me a elas, se souberem: - Se os ofícios de vossas mercês dão de si até poderem andar em um macho ou em uma faca, quando muito, e suas mulheres em uma cadeira, como andam vossas mercês em liteiras e elas em coche? Se a sua mesa se servia muito bem com pratos, saleiro e jarro e louça pintada de Lisboa, como se serve agora em baixelas de prata, salvas de bastiões, confeiteiras de relevo?"
terça-feira, 24 de abril de 2012
O corcunda e a tropa
Antes que seja 25 de Abril outra vez, deixem-me contar, em traços muito largos (assaltou-me "esta cena" numa altura em que, influenciado pela Comunidade de Leitores, da Culturgest, animada por Helena Vasconcelos, em pleno "estado de prontidão", estou a acompanhar a criatividade de Thomas Mann in Confissões de Felix Krull), o que aconteceu quando, em Caçadores 5, em Lisboa, fui, há umas dezenas de anos, à inspecção militar e, numa sala repleta de mancebos completamente nús, vi, vimos, um corcunda, talvez a pessoa mais corcunda que vi até hoje, ser obrigado a mostrar-se, tal como veio ao mundo, aos oficiais-médicos e outros que ali estavam para apurar, ou não apurar, o pessoal para "todo o serviço militar" ... Lembro-o, hoje, que já fui à tropa e estamos a 24.
E, por agora, é tudo. Entrego-me de novo ao criativo Nobel, dissecado há dias, ao que sei, na Culturgest. Só interromperei para dormir um pouco e ... e, claro, para as cerimónias oficiais - a que penso não faltar. No caso, a partir de casa.
Auto-retrato A.C. * - e uma actualização
* ver auto-retrato muito, muito, muito antes da Crise, no princípio desta contemporânea aventura comunicativa ... Amanhã, que é outro dia, tentarei, além da que faço agora, nova actualização com fins pedagógicos. Sempre (me) quero ver ... Esqueçam. Mas aproveitem a eventual sugestão e ... e façam o mesmo ... E se se virem com grandes diferenças pessoais (para pior), mandem a conta a quem de direito ... Via Facebook, ou através de qualquer coisa como esta ... Que os responsáveis precisam de saber tudo - estejam onde estiverem: em Portugal ou fora dele ... Sem ondas, mas ... "Então isto é assim?!... Europa, Europa e depois ..." Adivinhem o que esta fotografia, se falasse, diria...Vá, adivinhem ... É fácil: vem num dicionário de Albino Lapa.
Excertos de cartas de pai 2 vezes ( 9 )
De um apontamento escrito em Junho de 1994, não me lembro para que jornal:
"RACISMO
A ementa do dia era carne de porco estufada, com batatas fritas, é, à medida que os utentes se iam aproximando, a empregada (branca) do refeitório, amável, procurava, como sempre fizera a toda a gente, acertar nos desejos das pessoas que apareciam para almoçar, vendo se o prato estava "bonito", antes de o entregar.
Quando chegou a vez da negra, nova naquelas andanças, recém-chegada da Guiné, a "senhora (branca) do refeitório" atendeu-a, como sempre, sem olhar à cor da pele, e ao ver que o prato da negra estava pouco "vistoso", automaticamente, deu mostras de o querer trocar por outro mais apetecível - com a mesma ementa, claro.
Reacção da utente guineense, um pouco agastada: "quero o primeiro, que me mostrou ..."
Resultado: a pedido, a negra simpática, mas desconfiada, comeu a carne (mal apresentada) que escolheu - contra a vontade, contra a bondade (irreflectida?) da empregada (branca) que a atendera."
"RACISMO
A ementa do dia era carne de porco estufada, com batatas fritas, é, à medida que os utentes se iam aproximando, a empregada (branca) do refeitório, amável, procurava, como sempre fizera a toda a gente, acertar nos desejos das pessoas que apareciam para almoçar, vendo se o prato estava "bonito", antes de o entregar.
Quando chegou a vez da negra, nova naquelas andanças, recém-chegada da Guiné, a "senhora (branca) do refeitório" atendeu-a, como sempre, sem olhar à cor da pele, e ao ver que o prato da negra estava pouco "vistoso", automaticamente, deu mostras de o querer trocar por outro mais apetecível - com a mesma ementa, claro.
Reacção da utente guineense, um pouco agastada: "quero o primeiro, que me mostrou ..."
Resultado: a pedido, a negra simpática, mas desconfiada, comeu a carne (mal apresentada) que escolheu - contra a vontade, contra a bondade (irreflectida?) da empregada (branca) que a atendera."
O Zé de barro - hoje
Num retrato dos outros pintado por nós há sempre qualquer coisa nossa, disse-me uma vez um professor de Desenho. Este boneco de barro é, por isso, se calhar, mais do que qualquer coisa do autor - para ser o próprio autor. E, a ser assim, é, provavelmente, até muito mais do que isso: somos nós. E, mais certeiro ainda, somos nós HOJE. Todos - ou quase todos. Que alguns ... Bom, isto é conversa para ter amanhã, que é o Dia 25 de Abril. Se é que me apetece falar, escrever amanhã sobre esse assunto, que me acordou de madrugada para, logo a seguir, me tentar dizer que o ter começado a trabalhar aos 14 anos não interessava nada, apesar, nomeadamente, da ascendência calosa que me criara ...
O boneco de barro (vou ser breve) parece-me bem conseguido,
no mal que parece. E continua a parecer.
O boneco de barro (vou ser breve) parece-me bem conseguido,
no mal que parece. E continua a parecer.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Pessoa "em pessoa"
Eu sabia que Helena Vasconcelos era mulher para tentar "ressuscitar" Fernando Pessoa, aqui, em Lisboa, na Gulbenkian, durante as Leituras Encenadas que concebeu e que ontem, segundo dizem, terminaram. Penso que terá falado previamente com Vítor Roriz e ... e o que posso jurar é que, na verdade, Pessoa apareceu - veemente, arrepiante ("contra argumentos não há factos")! Certo é que "a verdade física é nada ao pé da que a minha imaginação faz." SIM!
Bravo, Vítor Roriz, "heterónimo contemporâneo" de Fernando Pessoa, de Álvaro de Campos, de Ricardo Reis, de Alberto Caeiro, de todos os/as Pessoas. "Eu somos muitos..."
Bravo, Vítor Roriz, "heterónimo contemporâneo" de Fernando Pessoa, de Álvaro de Campos, de Ricardo Reis, de Alberto Caeiro, de todos os/as Pessoas. "Eu somos muitos..."
domingo, 22 de abril de 2012
Este jardim de que vos escrevo ...
Este jardim de que vos escrevo, se falasse, contaria coisas que, se fossem coisas de adultos, envergonhariam qualquer mortal ...
Quando, ali a dois passos da escola, e de casa, a professora, D. Celeste, de seu nome, me perguntava pelo caderno dos exercícios de Aritmética, eu, sistematicamente, dizia-lhe que me tinha esquecido dele em casa ...
Era mentira, ou melhor, não o tinha comigo porque seria o mesmo que nada por ... por "não terem nada feito" - e brincadeira não ser solução ...
Mas D. Celeste, ía jurá-lo, sabia-o e era sempre a mesma história: mandava-me ir a casa, buscá-lo ... Quinhentos metros até lá, quinhentos metros até à escola ... Todas as semanas.
E sempre, sempre a mesma coisa. Mas até aqui, enfim ... Só que, lembro-me bem, eu ia a casa numa corrida e, antes de entrar na escola com o caderno de exercícios da minha detestada Aritmética, sentava-me num banco do jardim e ... e, lido(s) o(s) exercício(s) marcados na véspera pela professora, tentava acertar nos resultados para que, pelo menos na aparência, a coisa passasse ... Regressado à escola, o meu caderno ía então, sistematicamente, para o monte onde estavam os dos meus colegas ...
Até ao dia em que, tendo acontecido tudo como já era quase hábito, a D. Celeste escolheu o meu caderno de exercícios para base da lição da manhã e ... e encontrou tudo errado ... Foi o desastre! Aritmética, não! Matemática, não! Minha mãe foi chamada ...
E é disso que também me fala o Jardim. Ou melhor: diz-me que só o Leopoldino e eu é que passámos com distinção ... Está escrito.
sábado, 21 de abril de 2012
Anatomia das ideias ( 0020 ) - Primaveras
Dizem que começou hoje a Primavera. Aqui, onde moro, não dei por isso. Pôs-se muito vento. O céu apresenta-se pardo. As pessoas que vejo através dos vidros da janela parecem-me encolhidas com o frio. Ná, se não chegarem melhores dias, pelos modos, tenho que esperar por melhores anos. Eu e os que vejo por entre cortinas. Encolhidos. Com frio por fora e por dentro.
Mas, já que não está tempo para saídas, vou à NET ver se há por aí alguma Primavera que me alimente a imaginação. Não é fácil. Deixando de lado a do calendário, o que me aparece é:
Primavera dos Povos em 1848
Primavera de Praga entre 5 de Janeiro de 1968 e 21 de Agosto do mesmo ano
Primavera Marcelista de 1968 a 1970
Primavera Árabe entre 2010 e 2011
Com expressões públicas diferentes. Mas apelidadas como tal. Entretanto, como esta, em Portugal, quase não me ocorrem outras. Houve, sim, Invernos a que alguma imprensa da época chamou Primaveras, mas não contam ... Não contam, por exemplo, porque, no A BEM DA NAÇÃO dessa altura, do que recordo é de meu pai a trabalhar três dias por semana ... Ora isso, não era Primavera nenhuma. Eram dias parecidos com os de hoje, em que nos arrefecem os pés - e aquecimentos, se os há, estão pela da hora da morte.
Ainda se, ao menos, cheirasse a flores... Mas não: cheira é a estrume. Se hoje é o primeiro dia de Primavera, não é, pelo menos, o que dizem as notícias portuguesas... E, se querem que vos confesse, sinceramente, a mim, aquilo a que me cheira, com a vossa licença, nem é bem a estrume é a ... a bosta seca, eventualmente, com influência de uma camada de ar vinda, nomeadamente, dos Campos Elísios ou de Bruxelas, não sei ao certo.
Livros
Integra uma das Cartas à Minha Neta que já aqui referi várias vezes. Trata-se de um breve apontamento que publiquei, não me lembro em que jornal, em Dezembro de 1990, e que trata de ...
"Já por toda a parte as coisas velhas deitadas à rua tinham provocado horas extraordinárias aos municipais almeidas, quando anteontem visitei a casa de um querido e estudioso amigo, desaparecido há poucos meses, que me habituara a ver apaixonadamente embranhado na sua vasta biblioteca, dissecando temas, estudando autores, comparando ideias, investigando matérias. Era dos que, discreto, anos a fio, frequentara o Chiado e sabia tudo sobre as últimas expostas na Bertrand - que adquiria para ler e saborear.
Ainda a terra não terá, contudo, tido tempo de lhe consumir os restos mortais e já a família, ligeira, sem problemas financeiros, lhe acaba de fazer o funeral ... aos livros, vendendo ao quilo quanto, décadas de carinho e saber, as suas longas estantes continham.
- Ficámos com os mais bonitos!... - disseram-me os da família. - Só temos receio que, sem querer, tenhamos deixado ir alguns dos que o senhor doutor tinha aí, autografados pelos autores. Se alguém os encontra na Feira da Ladra ou nalgum alfarrabista ... - acrescentaram receosos.
De facto ... Eles eram todos tão, tão bonitos ..."
Pequenas histórias da História
O que é que se deve escrever, eventualmente, contar, neste espaço? Neste caso concreto, num espaço concebido e, tão concretizado quanto possível, algures num jardim de Lisboa, à beira de um coreto, a maior parte das vezes às moscas ? ... Tudo e nada. Hoje lembrei-me de trazer para aqui um nada, um desses nadas que podem encher a alma, embora não sejam, de facto, mais do que isso ...
Quando Jorge Sampaio foi à Austrália, a respectiva embaixada em Lisboa, melhor, a embaixadora da Austrália em Lisboa, ofereceu ao presidente da República portuguesa dois livros: naturalmente, um sobre o seu país, outro, outro o meu ENTRE VISTAS NOS ARREDORES DAS MONTANHAS AZUIS, que, em jeito de amostragem, tentava (tenta) revelar quem somos do outro lado do mundo.
E assim, com simpatia, se deixa um autor, agora num banco de jardim (com algumas urtigas à volta), com um sorriso de orelha a orelha ...
Sei - são as estatísticas que o sublinham - que o Zé, nestes espaços, prefere dois temas:
Pornografia
e
escândalos, de preferência, políticos,
mas, paciência, "cada um dá o que pode conforme a sua pessoa ..." Quem não gosta, não abre ... Ou abre e fecha. Pela minha parte, a opção está feita: se possível, com um sorriso, reflectir o ambiente que se vive, a partir do que se comenta num jardim, que tem um coreto, onde, às vezes, toca uma banda ... E aparece gente com histórias que a História não conta. Guardadas as devidas proporções, assim a modos que "As Pequenas Histórias", de Saramago...
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Photographias a p. b. à espera de legendas ( IX )
No ano passado
Vai haver TGV
Vai haver Aeroporto!
Vai haver Ponte!
Última hora (20 horas de 20.04.2012)
Não vai haver TGV!
Não vai haver Aeroporto!
Não vai haver Ponte!
Vai haver TGV
Vai haver Aeroporto!
Vai haver Ponte!
Última hora (20 horas de 20.04.2012)
Não vai haver TGV!
Não vai haver Aeroporto!
Não vai haver Ponte!
Momento de Poesia
Por razões de ordem profissional, ia jurar que conheci o covilhanense, engenheiro têxtil, E. M. de Melo e Castro, mas não garanto. Na Wikipédia (de que raras vezes aqui se fala, no banco ao pé do coreto ...), diz-se, nomeadamente, que é pai da cantora Eugénia de Melo e Castro. Entretanto, o que sei é que, em documentação caseira, fui encontrá-lo agora nestes preparos numa Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica:
INÉDITO
DELICADEZA
certa
certa
certa
certa
certa
Tesura
perda
perda
perda
perda
perda
Futura
torta
torta
torta
torta
torta
Escura
Merda
Merda
Merda
Merda
Merda
Pura
Para o Alberto de
Lacerda *
com ternura.
* Alberto Lacerda foi um dos fundadores da revista de poesia Távola Redonda, em colaboração com David Mourão-Ferreira, Couto Viana e Ruy Cinatti. Hei-de tentar aprofundar estes laços de ternura com E.M. de Melo e Castro. Sobretudo o de e o e ... E/ou a ironia de tudo isto.
INÉDITO
DELICADEZA
certa
certa
certa
certa
certa
Tesura
perda
perda
perda
perda
perda
Futura
torta
torta
torta
torta
torta
Escura
Merda
Merda
Merda
Merda
Merda
Pura
Para o Alberto de
Lacerda *
com ternura.
* Alberto Lacerda foi um dos fundadores da revista de poesia Távola Redonda, em colaboração com David Mourão-Ferreira, Couto Viana e Ruy Cinatti. Hei-de tentar aprofundar estes laços de ternura com E.M. de Melo e Castro. Sobretudo o de e o e ... E/ou a ironia de tudo isto.
PORNOLITICA
Quotidianos, eventualmente, velhos, procedimentos novos: chegado a um terminal do metro de Lisboa, tive necessidade de mexer na carteira, no meio da multidão envolvente. Olhei à volta e ... e contei os euros - tranquilamente. A seguir, agradeci aos dois polícias que estavam próximo: "agora, fazer o que acabo de fazer, só com a PSP ao pé... ", disse-lhes em jeito de cumprimento, num país também com alguma vontade de desordem ... Sorriram.
A propósito, um dos "mails" que recebi um dias destes mostra ângulos novos dos recentes acontecimentos no Chiado, em Lisboa. Bom seria, se a Civilização permitisse, revelá-los sem dó nem piedade ... Mas a gente percebe que, para alguns, quanto pior melhor ... O resto é conversa. É a PORNOlitica. À esquerda e à direita. Ponto final.
Canteiro de palavras (XLVII) - Cervantes
"- Ditosos tempos e afortunados séculos esses, a que os antigos deram o nome de idade de oiro, nanja porque o oiro, que na nossa idade de ferro tanto se adora, então se alcançasse sem nenhuma espécie de fadiga, mas porque se ignoravam as palavras teu e meu. Eram comuns todas as coisas naquela era feliz. A ninguém, para obter o sustento quotidiano, era necessário mais esforço do que erguer as mãos e tirá-lo das robustas azinheiras, que liberalmente estavam convidando os humanos com seu doce e sazonado fruto. As claras fontes e cursos de água ofereciam a quem tinha sede a linfa cristalina e saborosa. Nas taladas dos rochedos e no côncavo das árvores montavam suas repúblicas as solícitas e discretas abelhas, oferecendo grátis a quem queria a fértil colheita dos dulcíssimos favos.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
A justiça mantinha-se nos limites próprios, sem que ousassem perturbá-la ou feri-la o favor e o interesse que hoje tanto a conspurcam e viciam. A lei do arbítrio ainda não tinha avassalado o entendimento dos juízes, e por esta razão é que não havia pleitos que julgar nem réus que devessem ser julgados."
in D. Quixote de La Mancha, de Miguel Cervantes
Do Real Arquivo de Fotomontagens de Espanha
Em plena crise económica e financeira em Espanha, S.M., agora bastante mais velho do que na foto, aceitou o convite para caçar elefantes, algures em África. Lesionou-se aí gravemente e pediu desculpa aos seus súbditos por isso e pela eventual falta de sensibilidade em relação ao momento de contenção vivido pelos espanhóis. Embora, embora marfim possa valer marfim ... No fundo, há quem argumente que S.M. o que quis foi ser útil ... Saiu-se mal, paciência ...