quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Canteiro de palavras ( LVII ) - VIRGÍNIA VITORINO


Papéis velhos (1991): concerto e caliça no Rivoli











Estamos em Janeiro de 1991 ... E, nos "papéis velhos", reencontrei o insólito sem, previsivelmente, na altura, o público leitor que aqui aparece ...

"Tinha acabado de se ouvir o allegro com brio do Concerto número 2 para piano e orquestra, de Beethoven, e já no Municipal Rivoli, após as tosses e catarros habituais, se atacava o adágio, quando, por cima da cabeça dos músicos, do cocuruto do palco, se soltam grandes estrondos e, num ápice, desatam a cair flocos de tinta, ou caliça, no piano de cauda e nos cabelos penteados dos intérpretes. Acto contínuo, o maestro interrompe o concerto, sacode da poeira as suas negras asas de grilo e manda o primeiro violino aos bastidores ver o que se passa. Breve regressa com garantias de que pode retomar-se o adágio. Não tarda, contudo, nova escaramuça no sótão, agora com Adriano Jordão (solista da noite) em pleno virtuosismo, e daí até ao final do Concerto de Beethoven é um susto pegado, músicos com um olho no instrumento e outro no tecto ...

Ao intervalo, sorri-se. Amarelo.

Na segunda parte, o regresso dos músicos ao palco, para tocar Barber e Grieg, faz-se no meio de alguma expectativa - quanto a ruídos estranhos. Violinos, violoncelos e contrabaixos afinam cordas e concentram espíritos - até ao momento em que desaba de novo, lá de cima, donde viera a caliça, uma barulhada dos demónios, que leva a orquestra a uma debandada geral para junto das paredes do palco, não vá o diabo tecê-las ... Gera-se alguma confusão, aparece o maestro sem batuta e, em menos de nada, dá-se outra arrumação às cadeiras dos executantes e ao estrado da regência ... Está tudo a postos para começar a segunda parte do espectáculo ... musical. Antes, porém, o maestro pede desculpa pelo incómodo e afirma ter obtido a certeza de que o tecto não cairá. A última parte programada do concerto termina assim com um  allegro com brio, agora da Holberg Suite, op. 40.

O publicozinho, esse, aplaude o esforço e a música. Toca-se um "encore". Mozart é extra. Mas põe a necessidade de integrar os metais na orquestra e, com ela, a de puxar cadeiras e estrado à frente ... enquanto no sótão, até final, o bulício vai continuar...

PS - O presidente da Câmara não assistiu a este (des)concerto nas "ruínas" do seu Municipal. Ainda bem, podia ter que ir ao palco receber flores e caliça ..."

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

"Advogado castrado, não!"











Novo Ano Judicial - frases 

Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados:

 "Não temos que escolher entre apoiar os mais velhos e os mais novos"

"Os governos têm que respeitar o pacto que assinaram com os mais jovens"

"O Governo tem que respeitar os reformados"

"Os tribunais arbitrais são uma farsa: favorecem quem tem mais dinheiro"

"Membros do Governo têm interesses no negócio das arbitragens"

"Há decisões judiciais que constituem actos de terrorismo"

"Populismo do Governo"

"Advogado castrado, não!"

Cavaco Silva, Presidente da República Portuguesa:

"Coesão intergeracional"

Noronha do Nascimento, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça:

"Reforma judicial é francamente positiva"

Paula Teixeira da Cruz, Ministra da Justiça:

"O antigo Tribunal da Boa-Hora passará a Centro de Estudos Judiciários e Museu"




"Memórias do meu cata-vento" ( 13 )













Gazeta a preto e branco: África do Sul ( XX )






















"16 de Dezembro de 1984

Críticas

Descansar ao sétimo dia é uma bela atitude cristã, é um imperativo físico, mas é também uma impossibilidade quando se está, no estrangeiro, no meio de portugueses. Sobretudo, se do descanso se tem a noção de paragem. A verdade é que se multiplicam as gentilezas para que, quem chega, tudo possa ver e levar na memória para o Portugal - espaço europeu, quantas vezes, como é o caso, tão distante.

Há, por este motivo, que não dar parte de fraco: siga, pois, o "bailinho".

- Importa-se de se apresentar aos nossos leitores?

- Com certeza. Vim para a África do Sul na procura de novos horizontes. Falava-se na Madeira que este país dava oportunidades e ... cá estou, embora já tivesse na minha terra um pequeno negócio.

Comecei como empregado e, pouco a pouco, fui procurando, como todos os meus conterrâneos, dar sempre mais um passo em frente. Em determinada altura, animado de um espírito de união entre as pessoas que tinham a mesma origem natal, aderi à formação de um grupo de madeirenses que ficasse em condições de ser útil à comunidade. Chamámos-lhe o grupo do Amigos da Madeira.

O tempo foi passando e hoje essa como que equipa está lançada no mundo dos negócios e ... segue bem.

Entretanto, importa referir que a formação do grupo de que atrás lhe falei pretendeu apenas ser um embrião de unidade entre todos os portugueses residentes em Cape Town, unidade, de certo modo, conseguida com a iniciativa de - imagine!... - trazer a esta cidade a nossa Amália Rodrigues. Desde então (no ano passado) continentais e madeirenses estão, a meu ver, muito mais conscientes da sua origem comum.

- Gostaria que nos dissesse o que pensa da sugestão, que alguém já fez, de as comunidades madeirenses espalhadas pelo mundo terem, à semelhança do que acontece na Assembleia da República, representação na Assembleia Regional da Madeira?

- Com o que se passa hoje com a governação em Portugal e na Madeira, não me convence: desejaria, por exemplo, saber como é que se liquidam as dívidas contraídas e como é que as câmaras vão saldar as contas dos dinheiros que lhes emprestamos. Por outro lado, era importante ter a certeza de que, ao nível do emprego, os lugares eventualmente vagos não vão parar apenas aos apaniguados políticos de quem manda. Por tudo isto e para defesa dos nossos interesses, enquanto emigrantes, talvez fosse vital que tivéssemos representação na Assembleia Regional. Entrementes, sugeria que fosse feito um inquérito às actividades municipais madeirenses.

Recolhidas que ficam estas linhas de preocupação, rumemos, aproveitando a tarde, em direcção à Época dos Descobrimentos para um convívio fraterno, sem protocolo e sem pompa, com a história e os lugares que Bartolomeu Dias e Vasco da Gama, em especial, bem conheceram."

.../...

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Papéis velhos *

* este, garanto, tem 61 anos e aparece aqui, não para provocar o riso de quem quer que seja, mas para disfarçar uma lágrima de saudade... Trata-se de uma espécie de "retrato", onde me revejo, publicado há... 61 anos na imprensa da época .... 

Do lido, o sublinhado ( 18 )












in Confissões de Santo Agostinho

"Contra vontade, ninguém procede bem, ainda que a acção em si mesma seja boa"


in Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau

"Tal como o arquitecto que, antes de erguer um grande edifício, observa e sonda o solo, para saber se ele pode sustentar o peso, o instituidor prudente não começa por redigir leis intrinsecamente boas, mais vai antes examinar se o povo a que elas são destinadas está apto a suportá-las."


"Memórias do meu cata-vento" ( 12 )













Gazeta a preto e branco: África do Sul ( XIX )


















Não sabemos se teremos tempo de o indagar. Oiçamos, todavia, e para já, gente da Madeira que chegou, há muitos anos, à África do Sul, de bolsos vazios - e ainda trabalha a valer:

- Afirmaram-nos que na província do Cabo há muitos portugueses que vivem com dificuldade. Que pode dizer-nos sobre esse assunto?

- Na minha maneira de ver e, tanto quanto sei, não há por aqui compatriotas nossos passando necessidades económicas de maior e, se os há, querendo trabalhar, deixam de as ter - desde que haja saúde.

Outro tema:

- Que acha que se deveria fazer para proteger as casas dos emigrantes, "de modo a ficarem devolutas e à disposição"?

- Olhe, na África do Sul, se o dono da propriedade a quiser para si ou para venda, tem a faculdade de despedir o inquilino, dando, para o efeito, apenas o prazo de três meses. Em relação a Portugal, que não existisse uma lei com prazo certo, vá que não vá, mas que ao menos se pudesse retomar a habitação que lá tivéssemos ao fim de, por exemplo, três anos ... Assim é que não é nada ... Ter valores que permitiriam algum conforto na vida e passar miséria por causa das defeituosas e injustas regras existentes, não está bem ...

"Senhor Presidente do I Congresso das Comunidades Madeirenses, minhas Senhoras e meus Senhores

Não estamos a fazer um congresso ambulatório, mas, por favor, anotem, se possível, ainda melhor, estes gritos colaborantes dos vossos conterrâneos que, por uma razão ou por outra, não estiveram nas sessões de trabalho realizadas na sua terra natal. Como sabem, os de fora são maioritários, querem falar e, apesar da falta de informação objectiva que afirmam ter, estão atentos aos seus interesses.

Vamos terminar. Perdoem-nos, entretanto, este discurso, mas, pelo menos, na Assembleia da República, a coisa não vai lá de outra maneira - quando vai."

Este sábado de Primavera africana aproxima-se do seu termo. Contudo, para milhares de portugueses ainda  por estas paragens não acabou o período de trabalho, quantas vezes, começado às seis da manhã, ou antes. Trabalhemos, por isso, nós igualmente mais um pouco, perguntando a um chefe de família madeirense, residente neste país há 32 anos, qual devia ser a atitude das autoridades governamentais, nacionais e regionais, quanto ao chamado problema da segunda geração e seguintes. A resposta obtida aí vai ficar "em repouso" na consciência de quem de direito - para os devidos e legais efeitos:

- Tinha o maior interesse criar condições para manter viva a língua e cultura portuguesas. A minha filha, por exemplo, foi passar férias a Joanesburgo; gostaria muito mais que ela tivesse tido facilidades da nossa companhia aérea nacional para se deslocar à Madeira. Penso também que seria extremamente importante que as autoridades criassem melhores e mais frequentes oportunidades para a vinda à África do Sul de artistas e intelectuais portugueses que trouxessem, sobretudo, aos descendentes dos emigrantes, um pouco da nossa cultura. E assim por diante.

Findara para nós este 15 de Dezembro de 1984, quase vésperas da lapinha. Antes, porém, ainda nos levaram ao grande espectáculo nocturno de Cape Town: vistos de uma montanha nos arredores, em baixo, ao nível do mar, são milhares os pontos luminosos da cidade, qual gigantesca procissão das velas, parada a olhar o oceano imenso, protegida dos ventos pelas colinas dos doze apóstolos que rasgam o céu vários quilómetros em redor, ante a majestade tranquila da Mesa famosa, agora, em época festiva, também ela sob a luz coada dos projectores que, mesmo à noite, a fazem vedeta."

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Estatisticas blogueiras no JARDIM

Falou-se hoje abundantemente na televisão dos malefícios que "esta coisa" pode trazer, quando usada "sem moderação", sobretudo, pela "malta nova". Reconheço, entretanto (depois dos 70 de idade em que me encontro), méritos diversos a "esta gerigonça", mas ...

OBVIAMENTE, não sendo exemplo para ninguém ... já com apenas cabelos brancos, acabei hoje mesmo (ora tomem lá ...) de "bater o record" de visitantes (entre Julho de 2008 e Janeiro de 2013), mas ...mas, Meus Amigos, sem menosprezar os inúmeros "escritores" destes "jornais", fazendo do passado escrito e lido em papel o eventual "suporte", a "inspiração" do que foi saindo na ruadojardim7
















Vejamos o título de algumas "secções" que acolheram AQUI os paleios, suportados por livros "bibliotecados"  e relidos (fundamental: ler com lápis afiado na mão...)

. CANTEIRO DE PALAVRAS (o "melhor" do lido em suporte papel)

. ANATOMIA DAS IDEIAS (a "polémica" entre ideias de diversos autores oportunamente lidos em livros)


. LETRAS DE PROTESTO (a eventual crítica a situações actuais com base em textos lidos em livros ou jornais)


. COPIANÇOS (reprodução, sem comentários, do que se leu sem ser aqui ...e pode ser menos conhecido)


. PALAVRAS CRUZADAS (o cruzar de opiniões sobre o mesmo assunto, em épocas diferentes, ou não, mas em autores diversos - no suporte papel).


. DO LIDO, O SUBLINHADO

E, pronto, meus eventuais jovens leitores/olheiros disto, vamos, antes de mais, ao papel ... que é lucrativo. 


Há tempo para tudo. 


Quem figurará nos resumos escolares da História?















Morreu o general Jaime Neves que chefiou, em Portugal, o Regimento de Comandos no golpe militar de 25 de Novembro  de 1975. E a pergunta, quiçá, corriqueira, pode ser esta: nos resumos de História que vão ser impressos daqui por uns anos para serem lidos pelos miúdos do Ensino Básico, quem é que "lá" estará e quem é que não estará?  

Por exemplo: Otelo Saraiva de Carvalho ou Jaime Neves? Salazar ou Vasco Gonçalves? José Sócrates ou Passos Coelho? Como se sabe, em princípio, as selectas, os resumos, são os grandes filtros visíveis da História ... Donde, donde estou a pensar pedir à minha neta, que é quem me está mais próximo para o efeito, que tente não fazer "juízos apressados" acerca dos tempos que vivemos e que espere pelos seus eventuais descendentes para tentar começar a perceber parte do que agora, por vezes, enche as páginas dos jornais ...  Entretanto, temos que continuar a viver com o que vão dizendo os comentadores de serviço ... Para já, nos noticiários de ontem, Jaime Neves teve direito a todas as honras.

Para a posteridade ...


"Memórias do meu cata-vento" ( 11 )














domingo, 27 de janeiro de 2013

Palácio Ducal de Vila Viçosa - sem flash

Neste espaço internetiano, (quase) nada se cria, mas tudo se pode transformar. Aqui, eventualmente, transformar, por exemplo, negócio de livraria, sem uso de qualquer método técnico invasivo, na simples alegria de, tendo visto, poder mostrar esse visto - sem custos para o "utilizador".







































































































Se me disserem um NÃO, retiro tudo, excepto a fachada. 

Respeitosamente, M.A.

Gazeta a preto e branco: África do Sul ( XVIII )

Uma palavra prévia para a simpatia e o interesse que esta Gazeta tem despertado nos amáveis visitantes deste blogue. Bem-hajam! Ofereço-vos a verdade vivida - na Gazeta como em tudo o que, às vezes, ouso escrever com base numa vida parcialmente dedicada a tentar conhecer os Portugueses no Mundo.Digam aos vossos amigos, se isso não vos maça, que há um banco de jardim, algures, em Lisboa, onde a sua presença é bem-vinda - e não paga impostos ...

Recomecemos:






















"15 de Dezembro de 1984

Um padre nosso

Ir da Lisboa à beira Tejo para Joanesburgo, a quase dois mil metros de altitude e, a seguir, ou quase, vir para uma cidade como a do Cabo, onde se está, de novo, ao nível do mar, provoca uma certa sacudidela física e dá sono. Mas como dormir não é a função portuguesa na África do Sul e, pela nossa banda, há muito que respirar e ouvir - avançaremos. E avançaremos recordando palavras do membro do governo português que, admitiu viver neste país "a mais rica das nossas comunidades", pondo-as em confronto com as de um padre, padre nosso, que está nesta terra, que nos garantiu que se a riqueza existe não é, por certo, na província do Cabo. Esquecemos, entrementes, esta diferente visão do termómetro económico local e embrenhámo-nos na cidade, procurando, como o sociólogo, as traseiras dos prédios, onde é difícil disfarçar ... Só que, quem chega, tem dificuldade em desembaraçar-se do miolo dos centros urbanos e nestes tudo é largo: ruas, lojas, pessoas, a atmosfera que nos envolve. Cape Town não foge à regra: é uma cidade, na sua baixa, perfeitamente equilibrada, onde, cremos, os arquitectos modernos fizeram o gosto ao dedo, jogando com planos variados, sem que a cintura montanhosa que resguarda o betão armado saia diminuida. Muito pelos contrário.

Contudo, nesta primeira olhadela, não nos conseguimos libertar do caroço e o máximo que nos foi possível observar foi uma exposição de fotografia sobre os rapazes da rua, de uma Cidade do Cabo onde parece não haver desenvolvimento separado, mas somente desenvolvimento - que, aliás, as fotografias em pleno e espectacular Centro Cívico, pretendem desmentir. Registe-se, neste caso, uma certa liberdade de informar que mostra os "sem eira nem beira", algures, nas rectaguardas da cidade, aguardando melhores dias. E a pergunta surge, automática: para lá do cheiro a pipocas das ruas centrais de Cape Town, viverão portugueses como os mulatos das tais fotografias do Centro Cívico? O padre terá razão?"

"Memórias do meu cata-vento" ( 10 )













sábado, 26 de janeiro de 2013

Regresso aos mercados


Ultimatum de Álvaro de Campos *

* Álvaro de Campos tema de conversa, no jardim7, entre gente com rugas na cara, e noutros sítios, a precisar de desabafar ... A precisar de adaptar discursos antigos, que já não há quem diga/escreva coisas assim ...












"Mandado de despejo aos mandarins da Europa!

Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!

Se não querem sair, fiquem e lavem-se.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 

Falência geral de tudo por causa de todos!

Falência geral de todos por causa de tudo!

Falência dos povos e dos destinos - falência total!

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 

Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!

Tu, "esforço francês", galo depenado com a pele pintada de penas!
(Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)

Tu, organização britânica, com Kitchener no fundo do mar mesmo desde o princípio da guerra!

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 

Tu, cultura alemã, Sparta podre com azeite de cristismo e vinagre de nietschização, colmeia de lata, transbordante imperialóide de servilismo engatado!

Tu, Áustria súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!

Tu, Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!

Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se partiu!

Tu, "imperialismo" espanhol, salero em política, com toureiros de Sanbenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterrdas em Marrocos!

Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho de açorda transatlântica, pronúncia nasal do modernismo inestético!

E tu, Portugal - centavos, resto da Monarquia a apodrecer República, a extrema-unção - enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em África!

E tu, Brasil, "república-irmã", blaque de Pedro Álvares Cabral, que nem te queria descobrir!

Ponham-me um pano por cima de tudo isso!

Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!"

Gazeta a preto e branco: África do Sul ( XVII )




















"14 de Dezembro de 1984

O caminho da Esperança que foi Tormenta

Dizer que não conhecemos a Cidade do Cabo, seria faltar à verdade. Para já, em 1980, sobrevoámo-la e, se não estamos em erro, poisámos no seu aeroporto. Mas não é isso que nos confere qualquer autoridade a respeito do que dela possamos saber. A razão que nos dá o título de visitante entendido é a mesma que têm os demais portugueses que, na escola, aprenderam a ler Portugal e o seu passado das caravelas, das tormentas e das esperanças. Com efeito, a distante Cidade do Cabo é "nossa" também. Quanto mais não seja, fomos perto dela, sem medo, sacudidos e encharcados pelas águas que lhe refrescam agora os calcanhares, quando outros de lá fugiam, justamente, a ... a sete pés.

Temos hoje o privilégio de um reencontro, navegando nas entranhas de uma destas grandes e complicadas aves do século XX a que chamam aviões.

Avancemos, portanto, para o Cabo, afoitamente, que o pior já passou há séculos. Queremos prosseguir o "bailinho". Temos o visto das autoridades. Não vai, por isso, ser preciso o heroísmo de ousadias a nado, como aquelas que relatamos nesta gazeta (impressões de 5 de Dezembro) e que, frise-se, têm a nossa, não necessária, mas humana compreensão.

Onde os oceanos continuam a brigar

Chegámos ao aeroporto da Cidade do Cabo cerca da uma hora da tarde. Esperava-nos um amável madeirense. "É baixo, careca e de bigode", haviam-nos dito. Ia começar a dança. "Arrumámos a sala" e só à noite se tornou possível começar o ensaio da "festa". Iniciámo-la pela Associação Portuguesa do Cabo, cujo  presidente é, exactamente, um madeirense, que foi nosso anfitrião ocasional. Reunia-se, na oportunidade, nas suas instalações, o corpo directivo da ramificação, na Cidade do Cabo, da famosa Academia do Bacalhau, enquanto na sala ao lado alguém comentava, para nós ouvirmos, a penúria crónica da Associação e "a clássica falta de espírito associativo dos portugueses: só pagam quotas pr'aí uns cinquenta ...", dizia-se em voz alta.

Quanto ao resto, as horas foram passando e nem "ensaio" se pode afirmar que tenha existido: atrapalhação aqui, improviso acolá - nada! Salientaram-nos que é a primeira vez que alguém de um jornal diário português os visita ... Uma verdadeira tormenta que nos dias imediatos tentaremos dobrar, desde que os ventos nos favoreçam e os espíritos se iluminem e façam luz à sala - que o "bailinho" tarda ..."

"Memórias do meu cata-vento" ( 9 )













sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

AS VIAGENS DAS OBRAS DE ARTE

Viajar ou não viajar, eis a questãoA notícia está aí, mas a dúvida também. 

Há problemas apenas culturais ou, quando isso acontece, o que, por vezes, está em causa são grandes negócios no "submundo da Cultura"? Sim ou não? Têm a palavra os especialistas. Os do jardim o que querem é ver ... Mas ...

 - É verdade! Como é que estão as coisas com o Comendador Berardo?

PORNOLÍTICA 24: fotografias proibidas


"Como te chamas? - perguntou Zé Vicente, com as folhas de ponto na mão.
- Sagui.
- Isso é alcunha. O nome?
- Nã sei. Toda a gente me chama Sagui.
- Já trabalhaste nos telhais?
Acenou que sim.
- Então que nome te puseram lá nos assentos?
- O mestre do Telhal Grande disse que eu ficava a ser Tóino.
- E quantos anos tens?
- Sei cá.


Zé Vicente mirou-o de alto a baixo e escreveu: "António Sagui - 11 anos" Embora lhe parecesse que ele não tinha mais de 8.
- O outro que se segue. Nome...
- João da Fonseca. 
- Idade? 
- Vou fazer doze.
-Até que enfim, aparece um que sabe tudo. Inda não andaste no telhal?
- Não, senhor. Andei na escola.
- Isso pr'aqui não interessa. Vai ao almajar e diz ao mestre que te dê
   trabalho."


Foi o que escreveu Soeiro Pereira Gomes in ESTEIROS

Do lido, o sublinhado ( 17 )












O lido é antigo, porque o documento em apreço tem 50 anos, mas vale a pena, quanto mais não seja como apelo para que estudo idêntico seja publicado e nos explique, como este sublinhado, em cinco linhas, qual é a situação actual.

Posto isto, vamos, em jeito de quase provocação, ao sublinhado - antigo:

"Em 1962, era presumivelmente de apenas 2,3% a percentagem das famílias que, no Continente português, auferiam réditos anuais superiores a 60 000$00.

No mesmo ano e a julgar pelas estatísticas do imposto profissional, seria de 92,8% a percentagem dos trabalhadores por conta de outrem, não incluindo os funcionários públicos, que recebiam anualmente iguais ou inferiores a 15 000$000, não excedendo 1,1% a dos que usufruiam de mais de 50 000$00. Incluindo o funcionalismo público, seria de 85,2% a dos que recebiam menos de
15 000$00 e de 1,6% a dos que ganhavam mais de 50 000$00."

Para quem tiver saber e paciência, fica o desafio da eventual actualização. Se achar que vale a pena ... Quanto mais não seja, para estruturar o que se souber do HOJE.



Nota: o sublinhado foi feito numa colectânea organizada pelo Prof. Sedas Nunes ("O Desenvolvimento em Portugal - aspectos sociais e institucionais" 1971)

"Memórias do meu cata-vento" ( 8 )






quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Universidade dos Pés-Descalços

Clara Ferreira Alves "fez a sua parte" chamando a atenção no semanário EXPRESSO para o valor da obra. São, entretanto, milhões os visitantes do vídeo que, aqui, na ruadojardim se reproduz. Não importa a insignificância do contributo da rua: sempre são mais alguns que tomam conhecimento do BEM, da FRATERNIDADE, do AMOR ao próximo no meio de tanto olhar para o umbigo, no meio de tantos "pavões" ... Oiça até ao fim. Ou reveja até onde quiser ... E depois vá à sua aldeia e, sem dizer nada a ninguém, olhe à volta e ... e pense um pouco... 

Galeria Municipal de Fotomontagens (Reservas)

















PORNOLÍTICA 23: Conto de Fadas Animado

                                                               Taxar os ricos 

Gazeta a preto e branco: África do Sul ( XVI )

















"13 de Dezembro de 1984

Alvorada: cinco da manhã!

Instalados - bem! - a uns sete quilómetros do centro de Durban, fomos despertados para a claridade intensa deste dia de vésperas de Estio, pelo chilrear de uma passaral orquestra que acha que de manhã é que se começa a vida e que, portanto, a partir das cinco horas, já ninguém deve dormir. Espera-nos uma jornada de calor a que, por certo, apenas irá pôr algum cobro a acariciadora brisa marítima da costa que banha a cidade e os turistas em trajos menores que, de longe, a demandam. E, já agora, vale esclarecer que há costa para todos: negros, mestiços, brancos e outras cores que apareçam. Mas nada de misturas que, se a água lava tudo, no dizer de quem manda, "é assim maior o à vontade racial." Respeitemo-lo como hóspedes que somos. Aliás, não temos outro remédio, que a nossa missão não é molhar pés em águas mornas do oceano, mas a de desencantar madeirenses onde quer que eles se encontrem. E, desde logo, se os portugueses também são de carne e osso e gostam de férias, a verdade é que é o trabalho que, quase sem descanso, os mobiliza - aqui como em qualquer parte do mundo, excepto no seu próprio país. E, pelo nosso lado, para não destoarmos, às sete da manhã, já estávamos a visitar uma obra de construção civil (moradias) a dois passos de Durban e de que é responsável o nosso prestável anfitrião madeirense nesta cidade. Apetece o comentário: que capacidade, que energia, que vontade de acertar oferecem os portugueses fora da sua terra!... Entrada na C.E.E.? Talvez, mas pensando na hipótese de uma grande transfusão que fizesse entrar os que, na estranja, trabalham no duro, contra a saída de Portugal, dos que, intramuros, pensam que a riqueza há-de cair do céu ... numa manhã de nevoeiro. É legítimo supor que, a estes últimos, o treino lhes fizesse bem ... Finalmente, ao cabo de alguns anos, com as selecções A e B assim conseguidas, devidamente rodadas, é natural que retomássemos os caminhos que nos garantiram a admiração estrangeira no passado das Descobertas. Estaríamos, alfim, na Europa e a Europa não teria razões para não estar connosco.

"O mê denheirinho ..."

Decorridas as primeiras horas úteis da manhã, saímos de Durban com destino a uma instalação de engarrafamento de leite, a uns trinta quilómetros da cidade, onde outro madeirense ganha "o sê rique denheirinho ..." Sem luxos, sem alardes, mas, pelos modos, com eficácia e recurso a dois computadores.

De referir, entrementes, a belíssima paisagem do percurso, a partir de Durban. As boas estradas são, de facto, uma constante, a verdura uma imposição da natureza e o casario um regalo para os olhos.

Está muito calor e, no percurso, não raro, damo-nos conta de que há negros estiraçados na relva fresca. "Assim é que eles se sentem bem", comentam a meu lado. E contam-nos aquela anedota que diz que, estando um negro, tranquilo, a pescar para comer, lhe foram, sucessivamente chamando a atenção para as possibilidades de ter mais canas, depois - quem sabe? - um barco, até chegar a patrão, e não precisar mesmo de trabalhar ... Ao que o negro terá respondido com simplicidade: "mas isso é o que já me acontece agora ..."

Abandonemos, porém, esta espécie de nacional "cantiga de escárnio de mal dizer", para chamarmos a atenção para a entrevista que publicamos noutro local deste caderno com o arq. Luís Ferreira da Silva, Prémio do Instituto dos Arquitectos da República da África do Sul (a esta distância, não me lembro onde a tenho. Peço desculpa aos visitantes da rua) pelo seu projecto da sede social para a Associação Portuguesa do Natal, e um dos homens presentes no encontro realizado no Porto, em 1983, subordinado ao tema "Os Portugueses no Mundo - uma cultura a preservar", que congregou intelectuais portugueses de todos os continentes (ver neste blogue a referência ao Encontro). Lugar de relevo, pois, a quem, sendo igual, é diferente.

As nossas homenagens à diferença!

E agora, até à volta, Durban! Esperamos que não te esqueças que em 1985 passa o centenário da morte de Fernando Pessoa, que bem conheces."

"Memórias do meu cata-vento" ( 7 )























quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

ruadojardim7 - num banco, entre árvores de pé ...












A ruadojardim7 (sinto necessidade de dar a explicação que ... que ninguém pediu ...) é isso mesmo: uma rua no jardim, num jardim com bancos, onde, naturalmente, se fala de tudo ... Não há nesta rua bancos especializados. Há bancos - que são de jardim. Ponto.

Vistos na perspectiva informática, poderiam, claro, ser bancos especializados, como, por certo, há por aí milhares, preocupados com uma área específica. Quer dizer, uma espécie de jornais de negócios que só tratassem de negócios e de assuntos correlativos; uma espécie de jornal de medicina que só falasse de doenças e remédios, etc.

Ora bem, em vez de a rua ser isso, tenta ser, como já se percebeu, mas penso que nunca se disse, um espaço para TUDO - e o visitante que escolha, como, aliás, acontece. Talvez numa palavra se clarifique a questão: é um blogue generalista, como "cumpre" à "população" de um banco de jardim e arredores.

O meu primeiro emprego foi o Diário de Notícias. Doze anos a, "obrigatoriamente", ler generalidades ... fizeram-me (?) generalista ...Sentado num banco de jardim ... faz de conta que, guardadas as devidas e óbvias proporções, sou um Diário de Notícias - sem várias secções... Por exemplo. Uma delas, a da publicidade, de que, aliás, o "patrão Google" já me falou várias vezes ...

Fica escrito. Percebo pelas estatísticas (generosas!) recebidas para onde se voltam certas preferências. Mas ... mas o porno a quem é do porno, as desgraças para quem é de desgraças, política partidária para quem é dela ... ruadojardim é isto, ou procura ser: um espaço onde caibam todos, mas onde ninguém é obrigado a sentar-se. Vamos a caminho dos 100 000 visitantes - em liberdade. Uns de que se conhece o rosto, outros anónimos - mas todos, até agora, dando os sinais mais importantes para quem escreve aqui quase todos os dias do ano.

E já chega de conversa generalista. Amanhã, por exemplo, talvez continuemos na África do Sul, etc ...Mas, se "cair o Governo", espero continuar como as árvores na interpretação, essa notável, de Palmira Bastos.

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