quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Austrália por quem a vive ( I )

LIBERDADE











Reformada: "Liberdade é cuidar do jardim que eu e o meu marido temos nas traseiras da nossa casa."

Pintor naif: "Ser livre é ter direito a fazer aquilo que se quer, não prejudicando realmente o próximo. Ter a liberdade de poder falar, de dizer o que se sente, de escrever o que se pensa, sem prejuízo do seu semelhante".

Professora: "Como mulher, o que posso afirmar é que, neste país, sou vista como uma cidadã. Ninguém anda deliberadamente a apontar o dedo a ninguém."

Cronista social: "A Austrália é um país que não tem necessidade de andar a pedir desculpa à democracia."

Cônsul honorário: "Na Austrália a vida é relativamente simples, simples no sentido em que há uma grande liberdade de acção. Conhecendo bem as estruturas e o ambiente, vive-se sem solavancos, sem problemas de maior."

Imigrante por amor: "O australiano é uma pessoa terra-a-terra, inimiga de convenções, inimiga de presunções. Vamos, por exemplo, à cidade e deparamo-nos com australianos em chinelos, de calções curtos ... É vulgar vermos advogados, médicos, em plena rua, a correr para o trabalho e a comer uma sanduíche."

Médica: "Vou para o consultório de jeans. A liberdade de que aqui falamos é um estado de espírito que ao longo de anos vamos criando..."

Assistente social: "Falsearia a verdade se não sublinhasse que assisto com desagrado a um certo estado de desintegração familiar..."

Os portugueses no Canadá - foi assim ... ( I )





Posta a tónica na expressão popular que reza ser a "necessidade mestra de engenhos", pode ficar dito isso mesmo no que respeita a emigração portuguesa, agora tornada tema central no discurso político entredentes ou mesmo oficioso, para não dizer oficial.


A verdade é que, para quem tem levado a vida a, volta não volta, pensar nisso por espírito descobridor, por facilidade natural de convívio seja com quem for, é duro ouvir agora o convite: "queres pão, vai ganhá-lo p'ra casa do teu irmão..." Qualquer coisa assim ... Por outras palavras: os políticos levaram anos a dizer que estávamos a progredir, a não precisar de emigrar por razões económicas e, de repente, saiem-se com esta: "queridas mães portuguesas, as senhoras pariram em excesso ... Somos muitos mais do que as nossas capacidades permitiam ... Tivemos que nos endividar para conseguirmos paparoca para todos ... Têm que retomar os caminhos do "cantando espalharei por toda a parte ..." Sem meias palavras, têm que fingir e abalar ... Digam que somos os dos Descobrimentos, etc. Nesta linha ..."

Vou-me aos "papéis velhos" e sai-me, assim de repente, o Canadá imenso, mas fraterno, em tempo de carência de mão-de-obra. E lá encontro o Portugal de Salazar e Caetano, pobrete, mas alegrete.

In Imigrantes Portugueses - 25 anos no Canadá

"... Já no século XV há notícias de que alguns navegadores portugueses arribaram à costa atlântica do Canadá. Reza o estudo que, mais adiante cita uma estatística do Departamento de Mão-de-Obra e Imigração do Canadá para sublinhar que, entre 1946 e 1978, ter-se-ão fixado naquele país cerca de 160 000 portugueses, a maior parte (2/3) oriundos dos Açores."

Mas ... mas a análise está feita e publicada. Não adianta repeti-la envolta em considerações que, em devido tempo, houve quem fizesse. Vou-me, por isso, directamente a um ou outro testemunho na primeira pessoa, desses que andam por ai perdidos no meio de literaturas eventualmente especializadas.

Lanço-me a eles, que aqui é um espaço aberto e, no caso, tem esta espécie de coreto, à ilharga de um banco da rua do jardim, onde a palavra é ouvida por quem passa ou por quem pára, por exemplo, para entrar na Galeria Nacional de Fotomontagens que é a parte lúdica (com mais uma ou outra fotografia) do que há para, eventualmente, reflectir.

Em próximo "post", subirei, então, ao coreto ... Não sem agora deixar uma referência grata a quantos, há uns anos, naquele vizinho dos EUA, me acolheram com a maior simpatia. Nomeadamente:

Ernesto Magalhães Feu (antigo Cônsul), Francisco Alvarez (director do programa Festival Português, transmitido pela Global Television Network), Maria Alice Ribeiro e António Ribeiro (fundadores do jornal Correio Português), Rev. Padres Alberto Cunha e Francisco Fatela.

Homenagem às presenças e às eventuais e saudosas ausências.

Até um dia destes.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A fonte

1687
Vila Viçosa

A solução ...

Turismo - um dia em Vila Viçosa











Eu sei que, sentado num banco de jardim, por vezes, junto a um lago a ver os peixinhos, ou a falar-lhes, tendo, ainda por cima, como "concorrentes" os/as escritores/escritoras facebookanos/bookanas, é difícil "chegar às massas" ... E porque sei isso, é sempre com grande humildade que aqui apareço a gritar contra as injustiças de que me falam os muitos "mails" que, eventualmente, mesmo ausente, acumulo na caixa do correio deste blogue ... Contudo ... Posto isto ...

Posto isto, o essencial da conversa desta tarde, aqui, centra-se nesta coisa simples, mas "inquietante" que é, por exemplo, ter andado um dia inteiro, no caso, em Vila Viçosa, sem ter visto um só turista, português ou estrangeiro, a visitar, não digo a cidade (que também o merece), mas os museus, os seus excelentes museus. Mas já um dia destes tinha estado em Abrantes, por exemplo, que tem, nomeadamente, um castelo rodeado de um belo jardim com vistas soberbas para o rio Tejo, e ... e NADA! NINGUÉM!

NEM UM! Horas e horas, primeiro no Ribatejo, agora no Alentejo e ... e ZERO ... Paço Ducal, Museu de Arqueologia, Museu do Mármore, Museu da Caça ("um dos melhores do mundo") situado num castelo com uma invulgar vista panorâmica - NINGUÉM. Nem português, nem estrangeiro. Horas de visita. NINGUÉM!

Trouxe-vos uma amostra da decoração do Museu da Caça, em especial. Espero que gostem.







Secretária de Estado do Turismo - hoje:
"O grande desafio é a procura interna"

ANGOLA dependente II *

* Do Relatório do Banco de Angola 1973

Geografia - Perú, Lima - O susto












Interessado em aproveitar, a caminho de Caracas, uma escala aérea de vinte e quatro horas em Lima, no Perú, logo me procurei informar acerca da atmosfera humana local que me esperaria se quisesse tentar percebê-la, ainda que em jeito do "ai que bom vai ser, não foi ..."A resposta não se fez esperar: "deves contar com eventuais encontros com o susto ..."

Foi então que, dizendo da parte de que jornal falava, me foi garantido pela simpática diplomacia peruana em Lisboa o apoio local necessário pelo Ministério dos Estrangeiros em Lima.

E, com "as costas quentes", embarquei ... Embarquei, hotel marcado, para, logo no percurso entre o aeroporto de Lima e o centro da capital peruana ter sentido, ainda dentro do táxi, o desejo de, mal chegasse, me "refugiar", não pôr pé na rua até ao dia seguinte - a caminho da Venezuela, enquanto destino obrigatório nos contactos a fazer junto da comunidade portuguesa, em Caracas.

"Senhora telefonista, por favor, ligue-me às Relações Públicas do Ministério dos Negócios Estrangeiros, aqui em Lima ...", disse num portunhol correcto, creio.

"Com certeza!..."

Contacto estabelecido, expliquei ao chefe que me atendeu as garantias de segurança que a embaixada peruana me assegurara à partida em Lisboa, mas ... Mas ... nada! Não aconteceu nada ...

Voltei a ligar e a repetir a conversa de Lisboa. As responsabilidades assumidas e ... Nada! Não aconteceu nada ...

À terceira chamada, a conversa foi seca e simples:

"Se não me garantirem a segurança pessoal de que a vossa embaixada em Lisboa, inequivocamente, me falou, dentro de uma hora, vou, sozinho, fazer o meu trabalho em Lima ..."

Meia hora depois tocou o telefone do quarto:

"está aqui um senhor do Ministério dos Negócios Estrangeiros à sua espera ..."

Desci, recebeu-me o sorriso simpático de um funcionário superior do MNE do Perú que nunca me deixou arredar um minuto que fosse do seu ombro direito, enquanto Lima se revelava o que era ... E o meu musculado cicerone me ía falando de um tal Sendero Luminoso e de certas teorias peruanas da eventual eleição futura de um Papa de origem latino-americana.

"For Portuguese people only" ( I )











País decimal

País decimal em tudo
com ou sem razão
Dez metros prá nossa vida
e dez tábuas pró caixão

... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Queremos a cama no chão
ter por lençol o luar
Como não queremos ser ricos
vamos todos emigrar 


Satírica, de Mendes de Carvalho

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

"Arigato", Japão!

Rostos

"Minha alma é como a pedra funerária ..."

 Foto M.A.
Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar,
Nunca os meus braços lânguidos traçaram
O voo dum gesto para os alcançar ...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar ...
- Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar!

Minha alma é como a pedra funerária
Erguida na montanha solitária
Interrogando a vibração dos céus!

O amor dum homem? - Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada ...
Um homem? - Quando eu sonho o amor dum Deus.

Florbela Espanca


Canteiro de palavras ( XXXVII ) - Escrever *

"Escrever! Poder escrever! Isso significa o longo divagar diante da folha em branco, o garatujar inconsciente, as brincadeiras do aparo que gira à volta de um pingo de tinta, que mordisca a palavra imperfeita, a risca, a eriça de setazinhas, a adorna de antenas e de patas, até ela perder o seu aspecto legível de palavra, metamorfoseada em insecto fantástico, voando como borboleta-fada ...

Escrever ... É o olhar fixo, hipnotizado pelo reflexo da janela no tinteiro de prata, a febre divina que sobe às faces, à fronte, enquanto uma morte bem-aventurada gela no papel a mão que escreve. Significa também o esquecimento das horas, a preguiça no canto do divã, a orgia de invenção de onde se sai exausto, embrutecido, mas já recompensado e portador de tesouros que se transmitem lentamente à folha virgem, no pequeno círculo de luz que se abriga sob o candeeiro.

Escrever! Lançar com ira toda a sinceridade de nós mesmos no papel tentador, lançá-la depressa, tão depressa que, às vezes, a mão luta e resiste, assoberbada, exausta pelo deus impaciente que a guia ... e encontrar no dia seguinte, em lugar do raminho de ouro miraculosamente desabrochado numa hora flamejante, uma silva seca, uma flor abortada ...

Escrever! Prazer e sofrimento de ociosos! Escrever!... Sinto, de longe em longe, a necessária, forte como a sede de Verão, de anotar, de escrever ... Pego na caneta, para iniciar o jogo perigoso e falaz, para aprender a fixar, sob a pena dupla e dúctil, o cambiante, o fugaz, o apaixonante adjectivo ... Mas é apenas uma crise breve, o prurido de uma cicatriz ...

É necessário muito tempo para escrever! E, de resto, eu não sou Balzac ..."

* Colette in A Vagabunda


















Colette nasceu em Saint-Sauver-en-Puisaye, em 1873, e morreu em Paris em 1954, onde, no Cemitério do Père-Lachaise, há duas dezenas de anos, estivemos à conversa, enquanto a neve, lembro-me bem, no silêncio grandiloquente das campas, emoldurava quantos, ilustres, por ali tinham ficado na primeira fila da Sala dos Mortos, à espera doutros convidados, para a Ceia Final sem data marcada.

Galeria Nacional de Fotomontagens ( CXXI )

LABORATÓRIO DE IDEIAS



- Traz-me ideias seguras!...


domingo, 26 de fevereiro de 2012

Com ou sem sal


O sal em excesso na comida, dizem, faz mal. Há mesmo quem, a brincar, lhe chame sal azar.

Entretanto, a maioria dos cozinheiros acha que meio sal é, em regra, o indicado.

Mas ... mas há também os apaniguados de uma dieta mais rígida, isto é, sem pitada de sal.

Em que ficamos? Ervas aromáticas?  Ó quê? ... Estou com fome, porra!

Bom dia, Cabinda! ( I )

KIMUENE LIESO:
KA TOBULANGA LIESO

O que vemos (com os próprios olhos):
Não costuma furar-nos os olhos.

Anatomia das ideias (0010)

Navegar contra o vento  *












"Hoje (...) o Império romano é quase todo o mundo, mas os portugueses alargaram o império romano com uma invenção simples. Os romanos tinham inventado a estrada: nenhum grego jamais teve a ideia de que, deitando um muro ao chão, passava a ter uma estrada sólida. Os romanos tiveram essa ideia: toda a estrada romana é um muro enterrado no chão. Ainda conseguiram vadear os rios porque souberam construir pontes - e que pontes magníficas, algumas delas construídas apenas pelo princípio da força da gravidade, sem nenhuma espécie de cimento ou de argamassa a ligar as pedras. Quando chegaram ao mar, a respeito de ponte, na expressão popular tiveram que confessar que não havia jeito.

Tiveram jeito os portugueses: descobriram que um pedaço de estrada romana podia percorrer o mar, navegando a favor do vento, o que era fácil; porque o difícil nos descobrimentos foi navegar contra o vento, na volta - e isso é uma lição que todos os portugueses deviam procurar meditar. É muito fácil içar a vela e deixar-se ir a favor do vento. Eu queria ver os políticos com bastante mão no leme e bastante manejo de vela latina poderem
bolinar quando o vento lhe aparece com outra feição. Mas todo o navegador, novato ou bisonho, que entra nessas coisas de governar povos, esquece completamente essa lição dos descobrimentos portugueses."

* Agostinho da Silva (in "Cumprir Portugal")

Gatos

Uma rede social sem preconceitos ...

A cidade e as serras

















A cidade e as serras, as terras ... Isso era dantes. Hoje a televisão, a Internet, a Comunicação Social instantânea leva a guerra ao mais recôndito lugar do mundo e a gente vai da cidade convencido de que consegue ignorar a maldade, a vigarice, a guerra, o proscénio e ... e, de repente, lá está tudo ao virar da esquina, no minimercado que foi tenda, no forno comunitário que é padaria, no talho que foi açougue, no café que foi taberna.

E, por novos caminhos, quase não há quem não seja conduzido aos pecados dos grandes espaços: basta para isso que não seja cego e surdo.

É claro que há a Escola. Escola que ensina. Mas irrompeu uma diferença: agora tem que ensinar uma matéria nova, mais relevante do que qualquer das outras aprendidas no passado, como as letras, os números, as terras e uma ou outra invenção feita às vezes longe e comunicada, sabe Deus como, por quilómetros e quilómetros de fios esticados a partir ignora-se donde ... Hoje, abrem-se os olhos, fecham-se os olhos, carrega-se num botão ou escreve-se uma "palavra mágica" e aí temos o mundo, tal qual é, a não consentir tendas, açougues, tabernas, fornos comunitários.

"Ah, mas a comunicação humana contemporânea tirou do isolamento milhões e milhões de pessoas ..." Dir-se-á. É verdade! Mas tirou-nos uma certa simplicidade das coisas ... E é isso que noto, sem grande razão de queixa, apesar de tudo: não ando com o portátil às costas, por exemplo. O portátil dos "abraços de plástico", das amizades sintéticas, da ilusão permanente de que estamos em todo o lado, ainda que a fingir ...

É verdade que passámos a ter bibliotecas que dir-se-iam inacessíveis; é verdade que nos foi franqueada a entrada fácil em palácios e lugares de visita quase impossível ... É. É assim. Mas pagamos por isso o alto preço da quase queda da privacidade. Já não há aldeias, há lugares que foram aldeias ou mesmo vilas. Não tarde aí o desaparecimento do conceito de cidade. A Terra qualquer dia não passa de um sítio dos arredores da Lua, onde talvez, numa primeira fase, passe a haver tendas, fornos comunitários, açogues, tabernas - com a diferença, a novidade do electrónico a impor-se como se, no planeta Terra, estivessemos há mais de 1000 anos a vermo-nos ao espelho das águas límpidas de um rio ...

Acho piada, acho até mesmo comoventes, as lutas intestinas que, em tempos de maternidade electrónica, se congeminam a favor da existência de certas divisões administrativas nos pedaços de espaço cibernético em que nos dividimos ... Tem piada até porque, pelos modos, quer dizer que as chamadas redes sociais, assim, não passam de meras tribunas de vaidades sem camisa, sem qualquer mérito na chamada comunicação humana, saudosa dos tempos da velha tasca e do forno comunitário, enquanto pontos de encontro e tribunas políticas. Mas é assim que vivemos. Na cidade e nas serras, nas terras.

Rostos

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Galeria Nacional de Fotomontagens ( CXX )

ANGOLA dependente I *

* Do Relatório do Banco de Angola 1973



Ainda o Entrudo

 Na foto, o vice-presidente do Agrupamento de Escolas do Tortosendo que apareceu disfarçado, mas bem disposto, na escola do Dominguizo, a dar o ar da "sua graça"...

O "fotógrafo" estava lá ...E gostou: da brincadeira e da simpatia ao sim à foto ... A Escola, hoje, é outra, pois claro!

E o medo,querida garotada,se o há, é só aparente ...
Como se vê...

Descentralização

Dos jornais

A notícia:

"Câmara - Sessão em Aldeia do Souto

A próxima reunião descentralizada da Câmara da Covilhã esta agendada para 17 de Fevereiro, a partir das 10 horas, na freguesia de Aldeia do Souto. Esta sessão de carácter público, vem na sequência da decisão tomada pelo executivo de, a partir de Janeiro, as reuniões passarem a ser realizadas numa fregeuesia rural."

O aplauso:

Ora aí está!...
Se não é (e não será, acredito) para fazer demagogia e/ou "lavar roupa suja", por parte dos fregueses locais, parabéns Covilhã!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Paisagens

rua do jardim - com banco (em Londres)

Eu, tu, nós, vós - elas ...

Beira Interior - Como ía dizendo ... ( II )


Alçada Baptista *












"(...) Tira-se o crucifixo e os Sãos Luíses Gonzagas, que nada dizem já ao remorso dos nossos pecados, e, antes que se note o vazio, cola-se depressa na parede Che Guevara ou Fidel, protectores da boa consciência para um sono tranquilo; deita-se fora a Imitação de Cristo e toda a sua mediocridade e passa-se, apressadamente, para o obscurantismo medíocre dos pensamentos de Mao-Tsé. Vejo poucos enfrentar a dificuldade: como na religião alienada, sempre em fuga para a facilidade e, no fundo, para o conforto interior.


As pessoas andam muito justamente perturbadas e talvez o melhor seja refazermos outra vez a viagem desde o princípio até ao local onde reparámos que estavámos perdidos. (...)"


* in Peregrinação Interior (vol.I)

Tomar - passado vivo

Beira Interior - Como ía dizendo ... ( I )

Vergilio Ferreira *










"Voltar à aldeia, à terra onde fui. Mas é impossível. Porque não é voltar apenas às casas e ruas, mas às pessoas que aí foram e já não são. Olhar-me-iam assim olhos estranhos e surpresos - quem é? E eu não saberia dizer-lhes quem sou. Resta repetir a memória evocação do espaço em que fui e das pessoas que se integravam nele e eram a sua necessidade como de todos os espaços habitáveis. E o passar das estações desde as invernias glaciais aos calores do Verão, ao Outono das tardes que esmoreceram. Voltar à imobilidade da montanha desde a criação do mundo. À sua nudez na eternidade. À infinidade dos séculos que choram no seu peso e imensidão. Voltar à aldeia. Nunca mais. Ainda que voltasse."

* in Escrever

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Londres - a partir da Grande Roda

Mais de uma hora na fila para subir aos céus de Londres, mas depois é isto ... Cá em baixo fica quem tem medo das alturas, mas que, para não correr o risco de, sozinho/a, ser, eventualmente, incomodado/a, pode, por exemplo, resguardar-se no parque infantil - e fingir, e fingir ... que está a cuidar de crianças ...

As manas

Centro de Cultura Lusíada

Cito e transcrevo porque a citação "me autoriza":

Citação

"... ao escrever sou fatalmente humilde. Embora com limites. Pois no dia em que eu perder dentro de mim a minha própria importância - tudo estará perdido".

in "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", de Clarice Lispector

Transcrição

(passagem de uma conferência presidida pela Prof. Doutora Maria Beatriz Rocha-Trindade e proferida, em 1993, pelo signatário deste blogue)

"(...) consinta-se, já que "de feitos tais, por mais que diga mais me há-de ainda por dizer", que me atreva a esboçar a esperança de que, em breve, no tão falado Centro Cultural de Belém, se instale o Centro de Cultura Lusíada que, no (...) Encontro "Os Portugueses no Mundo - uma cultura a preservar",sugeri , diante de homens e mulheres da nossa cultura em 13 países, dos quatro cantos do Mundo.

Aí previa a instalação de um museu e de uma biblioteca de obras que, no estrangeiro, os portugueses tenham escrito no passado recente;

aí propunha, na mesma linha, a realização de conferências, de exposições temporárias, de concertos, enfim, a troca de experiências que alimentasse o pensamento do Poeta, para além das palavras em dias de ver a Deus, nos quais sempre surge quem corte a fita e sorria às crianças." 



NOTA DE RODAPÉ 

- Bom dia, Dr. Vasco Graça Moura! O Centro de Cultura Lusíada poderá ser e vir a estar aí, perto do Jerónimos, a seu lado, sob sua orientação? Se calhar a Cultura Portuguesa espalhada pelo mundo agrupar-se-ia para que tudo pudesse acontecer ... Não quer, na primeira oportunidade, pensar nisso?

Prontidão e eficácia

Sobre o que se terá passado, as autoridades anotaram tudo, presumo. Mas quem acompanhou a sequência, independente dos resultados finais obtidos, pode afirmar que os esforços e a rapidez na acção das equipas que apareceram foram notáveis. NO TÁ VEIS! Infelizmente, há quem diga que não 100% proveitosos ... Por razões que transcedem o empenho para que tudo corresse melhor. A morte não tem solução ... E houve uma morte, dizem.

Aqui regista-se apenas como, "num repente", surgiram os apoios que as fotografias documentam. E que a PSP igualmente terá registado por dever de ofício.

Moral da história: é também preciso dizer bem do que se faz bem - para que a humana e natural lusa dita pieguice não tenha razão de ser ...


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Lisboa: eu dou as imagens v/ dá a legenda






Revisitar a revista VESTIR: olá, Sofia!


A VESTIR - revista técnico - pedagógica, foi, p´ra mim, o ponto final de quarenta e tantos anos de trabalho, distribuidos por mais de uma dezena de empresas, mas não é por isso que a chamo ... Quarenta anos resumem-se, como se sabe, num qualquer ACERCA DE MIM. E esse está aí logo no início deste tu cá, tu lá tentado ... O que me conduziu até este apontamento é outra coisa, é a curiosa síntese a que um fulano acaba por chegar neste mundo de "montanhas russas"... Esse é que pode ser pedagógico modificar, sobretudo agora que ninguém se sente seguro (isto não é piada política, sublinho).

In VESTIR:

Número UM: "E que venham agora as críticas dos que sabem. Que as dos restantes já se conhecem."

Número DOIS: "(...) a realidade é esta: mesmo quando, nestas andanças, as décadas pesam, a preocupação de aprender, de aprender sempre, é o único acto inteligente possível - e jovem."

Número QUATRO: "Tudo muda. A mudança é uma característica do nosso tempo. Mudar, entretanto, não por mudar, mas mudar para (tentar) mudar. Com um safanão, se indispensável. De preferência, com suavidade (...)."

Número SEIS: "(...) não se perca no supérfluo o que (...) se ganhou no fundamental (...)."

Número CATORZE: "Os nossos empresários só ganham se inovarem, só triunfam se formarem, só vencem se se actualizarem."

Número QUINZE: "Não adianta cobiçar os conhecimentos dos outros; bom é, se se preferir saboreá-los a quente, aprender como é que se confeccionaram, servindo-os, mais tarde, quiçá melhorados, após cozedura em fogo brando para não cheirarem e, muito menos, saberem a esturro ..."

Número TRINTA E SETE: "(...) servir sem servilismo, obedecer sem mesuras, cumprir sem abdicar."

Entretanto, concluído o que havia a concluir, feitas as amizades e criados os inimigos "da praxe", quem devia procedeu à óbvia e atempada substituição - "a que todo me dei", como era natural.

E, por indicação, creio, do Instituto do Emprego e Formação Profissional, foi admitida uma jovem que ...
que, para abreviar, grata, achou por bem escrever na primeira edição que lhe coube coordenar que (peço himalaias de desculpa pela citação - já se vai perceber porquê ...) ... que "M.A. incansável ao longo dos 11 anos que coordenou a revista, fê-lo de forma brilhante e audaz. No meu espírito não tenho dúvidas de que tudo o que a revista é hoje o deve a ele, à sua juventude e ao seu trabalho. Obrigado caro colega pela (imensa) ajuda que me prestou ..."

Exmos. Visitantes deste blogue, A JORNALISTA EM CAUSA não chegou a coordenar o número seguinte da VESTIR ...

... e Portugal tá na mesma ... Porque é assim ... Espero, entretanto, que a Sofia Vargas (de seu nome) continue a ser a Mulher, a Jovem, a Profissional de que, agora talvez mais do que nunca, Portugal carece: vertical e honrada.

- Olá, Sofia!

Rimance

A apresentação é de Adolfo Casais Monteiro e está datada de 1944:

"O canto de Cabral do Nascimento é frágil - mas todas as notas são autênticas".

Em tempo de mentira, em tempo de gritos estéricos, em tempo de ternura de plástico, em tempo de Facebook ...

RIMANCE

Palácios rendilhados
Edifiquei na areia,
Com janelas e telhados
Voltados para o mar ...
Não tarda a maré cheia
Que os há-de aniquilar.


Castelos de espavento,
De cartas de jogar,
Tenho-os sempre em aumento,
Sustendo-se no ar ...
Não tarda um pé de vento
Que os há-de arruinar.

Barquinhos de cartão,
Que eu pus a flutuar,
Na água azul do mar ...
Ah, não tarda o tufão
Que os há-de naufragar!

Que coisa é que é segura?
Espreita-me a ilusão.
É uma serpe que morde
Mesmo no coração!
E nunca mais tem cura
Deixá-lo! Não acorde!

O Sol no céu descreve
Sua curva, depressa
O dia é muito breve,
Não tarda que anoiteça.
Por que insisto e prossigo?
Por que será que falo?
O que eu desejo, digo,
Mas só quando me calo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sente-se aqui, no Jardim, e esqueça o resto ...

Este cão dava-me um jeitão, ão, ão, ão ...

Galeria Nacional de Fotomontagens ( CXIX )

Nos 60 anos da subida ao trono do Reino Unido,
o sorriso

Disseram ...

Este

"ESTOU A VER-TE O ÁS DE COPAS"

vale 190 milhões de euros!

Portugal não licitou. Já tem cópias ...


















Esquecer o aprendido

A propósito do programa da RTP (ontem)
de homenagem à nossa Cultura 2011, lembrar André Maurois:

Cultura é o que fica
depois de se esquecer
o que se aprendeu

Só ficou "aquilo"?...
Aquele "nervoso da primeira vez?..."
Em particular, na realização e transmissão...




Os macacos e a política *

Corro o risco de poucos dos poucos que se sentam aqui para "a cavaqueira" resistirem a uma leitura mais longa. Quem aqui vem, sabe-se, é gente com pressa, ou que é pressionada por milhões de palavras que aguardam vez.

Acontece que o texto que se segue foi publicado, há uns anos, em A TARDE e, não por ser longo, mas por ... (o melhor é lerem-no ... ), fez aparecer à sua volta um coro de "personalidades" com "indirectas" pessoais as mais diversas ... À direita. acrescente-se.

Leia-se hoje - a ver ... A ver se estamos mais ou menos maduros ... para a liberdade.

* in À Sombra da Minha Latada (colectânea de crónicas)
"Quando nasci não havia democracia em Portugal. O que, até ao 25 de Abril, sabia dela devia-o aos livros. Prática - nenhuma, portanto. Ouvia falar de direita e de esquerda. Lia nos jornais que isso existia "lá fora", mas pouco mais. Veio, então, o 25 de Abril e comecei a fazer uma formação política intensa (anteriormente nem sequer tivera uma daquelas honrosas prisõezitas ...), passando a conceber com alguma clareza o que eram essas "coisas" da direita e da esquerda. E da democracia também.

A primeira que me foi apresentada foi a esquerda. "Tudo" era esquerda. Logo, mas logo a seguir conheci a "prima" - a extrema esquerda (ou extrema-direita? Não percebi bem ...). Estúpida, angulosa, boçal, macilenta, com caspa e dentes de ouro, suja, cheirando a suor. Todavia, "em terra de cegos quem tem olho é rei" e a verdadeira extrema-esquerda, não sendo cega, viu que à sua volta tinha um país politícamente analfabeto. E como, embora não fosse inteligente, estava atenta e era servil, bastou-lhe cumprir as ordens que recebia da estranja para parecer "brilhante". Fê-lo com o rigor néscio dos falhados.

Entretanto, a esquerda que me fora apresentada no dia 1 de Maio de 1974 (lembro-me como se fosse hoje), sumira-se. Nunca mais a vi. Consta-me que não era estúpida, nem alarve, embora as más línguas já me tenham dito que tem gente de baixa condição moral, com um passado pouco limpo. Mas, como digo, mal a conheci e, por isso, não me atrevo a fazer, sobre ela, juízos de qualquer espécie.

Meses depois, quiseram apresentar-me a direita, mas logo se atravessou, com pé leve, a extrema-direita (ou extrema-esquerda?). Também não lhe liguei, mas julgo ter fixado os seus métodos e a maneira como se apresenta. É elegante, lustrosa, engravatada, bebe chá e "whisky" do melhor, pega na chávena com dois dedinhos, beija a mão, come bolacha "shortcake" e palitos "La Reine". Discute a marca do relógio e a velocidade dos seus carros. Joga "golf", roleta e "bridge". Embriaga-se (à noite) na "boite" e "administra" (de dia). Tem azia, ou antes, acidez no estômago. Levanta-se tarde e lê o matutino em roupão - com as torradas. É redonda, bem nutrida, cheira a "Paco Rabane", pinta o cabelo, se necessário, e tem botões de punho de ouro. Às vezes, apresenta-se descuidada no vestir. Não é tão estúpida como a extrema-esquerda, mas julga-se, apesar de tudo, "dona do Mundo". Vive rodeada de lacaios e concede, de vez em quando, uma "regalias" aos trabalhadores. É insinuante, fala bem - sobretudo, inglês. Tem "montes de absolutamente". Janta noTavares e almoça, à pressa, "por aí" para ter tempo de participar nas reuniões que as secretárias lhe marcam. Para ela tudo está analisado previamente, tudo já era do seu conhecimento - por isso pode ser rápida  nas decisões que toma. E decide - mal. Entretanto, os lacaios que a adulam, tentam cobrir as suas deficiências - mal.

E o País agoniza. E Portugal morre. Já tem gangrena nalguns pontos da parte inferior da "cintura". Que apareceram pelo facto de as receitas estrangeiras da extrema-esquerda não se aplicarem à nossa constituição física e por a extrema-direita julgar que resolve os problemas do País entre duas xícaras de chá ou numa"divertida" ida para os copos.

Vistas bem as coisas, tanto a extrema-esquerda como a extrema-direita são idiotas. O que cada uma escolheu foi a forma de o ser. É um direito, como é óbvio. Nós, os da esquerda, do centro e da direita é que podemos não concordar com os seus métodos. Sobretudo agora que já temos umas "luzes" do que é a democracia.

Bom seria, por isso, que alguém prestasse o excelente serviço de as apresentar uma à outra, posto que, estou convencido, se acabariam por, inicialmente, entender às mil maravilhas (há quem diga que são gémeas ...) numa mesa em que a extrema-direita não deixaria de beber tinto e a extrema-esquerda de "alinhar" no "Chivas".

Não me surpreenderia, todavia, que um dia viesse a acontecer entre os seus militantes, prantados frente a frente, história semelhante à daquele indivíduo que todos os dias se barbeava com a janela da casa de banho aberta defronte a um macaco que o espreitava num prédio do outro lado da rua e que, sistematicamente, o imitava com uma navalha idêntica à sua. Aconteceu que o sujeito se maçou e, numa manhã, pôs a navalha com a lâmina para fora, simulando golpear o pescoço com o lado não cortante. O macaco não percebeu o truque, imitou-o - e morreu. 

Os extremos também se imitam - como os macacos. E acabam por se anular. Esperemos que, entretanto, não nos anulem a nós também. De nada teria valido a aprendizagem acelerada que cada um procurou fazer da democracia." 



domingo, 5 de fevereiro de 2012

Princípio do prazer *

















à sua volta os pombos cor de lava
nos arabescos pretos do basalto
e gente, muita gente que passava
e se detinha a olhá-la em sobressalto

no seu olhar havia uma promessa
nos seus quadris dançava um desafio
num relance de barco mas sem pressa
que fosse ao sol-poente pelo rio

trazia nos cabelos um perfume
a derramar-se em praias de alabastro
e um brilho mais sombrio quase lume
de fogo-fátuo a coroar um mastro

seu porte altivo punha à vista o puro
princípio do prazer que caminhava
carnal e nobre e lúcido e seguro
com qualquer coisa de uma orquídea brava

e nas ruas da baixa pombalina
sua blusa encarnada era a bandeira
e o grito da revolta na retina
de quem fosse dela a vida inteira.

* Vasco da Graça Moura in Antologia dos Sessenta Anos

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