terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Rimance

A apresentação é de Adolfo Casais Monteiro e está datada de 1944:

"O canto de Cabral do Nascimento é frágil - mas todas as notas são autênticas".

Em tempo de mentira, em tempo de gritos estéricos, em tempo de ternura de plástico, em tempo de Facebook ...

RIMANCE

Palácios rendilhados
Edifiquei na areia,
Com janelas e telhados
Voltados para o mar ...
Não tarda a maré cheia
Que os há-de aniquilar.


Castelos de espavento,
De cartas de jogar,
Tenho-os sempre em aumento,
Sustendo-se no ar ...
Não tarda um pé de vento
Que os há-de arruinar.

Barquinhos de cartão,
Que eu pus a flutuar,
Na água azul do mar ...
Ah, não tarda o tufão
Que os há-de naufragar!

Que coisa é que é segura?
Espreita-me a ilusão.
É uma serpe que morde
Mesmo no coração!
E nunca mais tem cura
Deixá-lo! Não acorde!

O Sol no céu descreve
Sua curva, depressa
O dia é muito breve,
Não tarda que anoiteça.
Por que insisto e prossigo?
Por que será que falo?
O que eu desejo, digo,
Mas só quando me calo.

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