sexta-feira, 4 de junho de 2010

NETa

Por mera curiosidade, pego nos "Diários" de Jorge de Sena (que reli em Janeiro/Fevereiro de 2005).


 Entretanto, quando me preparava para passar os olhos por eventuais anotações pessoais a propósito de um autor que, confesso, não era dos da minha "cabeceira", a páginas tantas, próximo do nome do Eng. Frederico Ulrich (ex- ministro das Obras Públicas do antigamente), de que fui vizinho na rua do Jardim, salta-me da página 84 uma observação, quase íntima, quiçá, ingenuidade - a lápis:

"...brinquei com os filhos, sem saber dessa coisa de ministros..." 

E fiquei a olhar-me e a desejar, sem pensar muito, em tempo de ódios mal escondidos, repetir o desabafo a toda a gente...










Sorte minha, agora: felizmente, tenho NETa...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Alegre, o Errante que quer ser presidente *

O oitavo soneto do Português Errante

"Fui Gonçalo da Maia o Lidador
campeando por meu reino imaginário
e entre ser ou não em Elsenor
já fui o desditoso o solitário.

Fui Príncipe banido deserdado
treze vezes cativo em Aquitânia
trago um país de exílio desterrado
na grande solidão de Lusitânia.

Viúvo sempre de qualquer idílio
eu sou o peregrino o desditoso
que a si mesmo se busca e não se encontra.

O meu próprio país é meu exílio
por isso o meu combate é sem repouso.
Eu sou o que nasceu para ser contra."

 * Grande Prémio de Poesia da A.P.E.


in Cartas à Minha Neta *

"A carta de hoje é breve como um bilhete postal, mas dada a "solenidade" do assunto... eleições!... É o que, enfaticamente, apelidarei de carta para a maioridade... A tua, é evidente. Tens 16 anos e o que te quero dizer,a menos que as leis mudem, só interessa, na prática, como sabes, a partir dos 18, altura em que passas a poder votar. E a pergunta é: chegada a hora, exercer ou não esse direito? Se queres que te diga, na minha opinião, sim! A não ser que não votar seja uma forma de ... votar. Ou haja razões de saúde, de ausência física ou doutro tipo que o impeçam.

Hoje (mal!...) hoje mesmo,na eleição para a presidência da República, tivemos quase 40% (quarenta!) de abstencionistas... Como, aliás, em eleições anteriores, quer para a Assembleia da República, quer para as autarquias. Está mal!... Quem não vota, em princípio, desperdiça parte das razões para criticar, não deve criticar. Mas, "em contrapartida", se tu andares por aí nos transportes públicos, nas lojas, nos centros de saúde, etc, o que se ouve, com alguma frequência, é gente a reclamar de tudo e de nada...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ..."

M.A.

* a publicar  ("Cartas do meu avô") quando houver um editor que não esteja falido e tenha netos.
 Bom Dia, Facebook!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Profilaxia do sarilho"

Eventualmente, esgotado no que disse em milhares de madrugadas, deram-no à luz, uma vez mais, no dia 28 de Abril de 1976.

Chamava-se "O Século" (jornal diário), a certa altura, um exemplar custou-me 4$00 e guardo-o, para ler, qual Breviário, sempre que, em democracia, a liberdade na Comunicação Social portuguesa é, ou tentam que seja, posta em causa.

Está lá tudo, na síntese dos "Resultados do inquérito na Sociedade Nacional de Tipografia, SARL" (propriedade do extinto, então, quase centenário e de inspiração republicana, jornal "O Século").

Numa altura em que, guardadas as devidas proporções, tanto se fala (e há-de continuar a falar) de liberdade de imprensa, abrevio transcrevendo, apesar de tudo, na íntegra, uma Nota Oficiosa do Estado-Maior General das (nossas) Forças Armadas,datada de 28 de Novembro de 1975 (correndo o risco, embora, de estar a referir-me, hoje, a um ... PORTUGAL ANTIGO...):

"Quanto ao sector estatizado da imprensa escrita, cinco diários matutinos e três vespertinos, o Conselho da Revolução considerou, entre outros, os seguintes factos:

- O deficit global mensal é da ordem dos 50 mil contos;

- Alguns destes jornais têm produzido informação tendenciosa, distorcida e monolítica;

- Clara reprovação popular e co-responsabilidade no clima geral de indisciplina e desordem pública;

- Contribuição para o ambiente que culminou no golpe contra-revolucionário em que se registou a perda de vidas;

- Necessidade de salvaguardar uma ampla liberdade de informação sem pactuar com irresponsáveis abusos dessa liberdade;

- Nestas condições, o Conselho da Revolução tomou medidas que incluiram:

- Demitir todos os membros dos conselhos de administração;

- Dissolver  os órgãos e corpos sociais incluindo as assembleias gerais, administrações, conselhos fiscais, direcções e conselhos de redacção quando existam;

-Suspensão da publicação de jornais e revistas das respectivas empresas até à nomeação pelo Governo de novos administradores;

- Salvaguardar o direito dos trabalhadores ao trabalho e ao salário, incluindo os dos que tiverem sido injustificadamente saneados;

- Responsabilizar os administradores pela salvaguarda do cumprimento da lei de imprensa e da unidade dos trabalhadores dentro do acatamento da vontade da maioria.

As presentes decisões aplicam-se às publicações das empresas proprietárias de "O Século", "Diário de Notícias", "A Capital", "Jornal de Notícias", "Diário de Lisboa", "Diário Popular", "Comércio do Porto" e "Jornal do Comércio".

Nota pessoal de rodapé: "Até que enfim..." Escrevi na altura. E lembro AGORA, que os tempos são de crise. A pedirem "Profilaxia do sarilho".

Migalhas da memória

A exposição de esculturas de Ernesto Canto da Maia (1890-1981) que, sob o título "O Escultor Português do Silêncio", esteve patente em Lisboa, na Galeria do Palácio Galveias, trouxe-me à memória a Academia de la Grande Chaumière, em Montparnasse...

Porquê?


Porque estive lá. Porquê? Porque sim!...


Escrevi-o vai para 30 anos...em 150 páginas que mantenho inéditas. Isso: saí de Lisboa rumo a Paris, a pensar apenas nos percursos "secretos", às vezes, silenciosos, dos artistas plásticos, e outros, que vivem Paris e...


"...No primeiro dia, transpôs (...) o guarda-vento da entrada do edifício cinzento da prestigiada instituição que deu nome àquela rua de Monparnasse que vê entrar há décadas nas instalações da velha Academia vagas sucessivas de artistas (...). Atravessou o atrio imediato, ladeado de "ateliers" escorrendo fama, subiu (...) os seus gastos degraus de madeira e, logo no primeiro andar, se sentiu, mais do que numa qualquer escola, numa Notre Dame, respeitada e venerada. (...) A breve trecho passou a conviver com as pequenas tertúlias dos que, como ele, consideravam incompleto tudo o que faziam no domínio artístico.


A princípio, assentava arraiais quase sempre no La Palette mas (...) era frequente vê-lo também no Le Dôme ou no La Rotonde, onde, sobretudo neste último, iam desaguar os que frequentavam as academias vivas de desenho e pintura.


Por ali haviam passado, aliás, nomes como Modigliani, Degas, Matisse, Braque, Buffet, Picasso, Dali, para não falar num Hemingway, num Trotsky e até num certo visionário chamado Lenine.

 (...) Aconselho-lhe a Academia de la Grande Chaumière, aqui em Montparnasse. Temos também a Collarossi, mas, se me permite, sugiro-lhe a de modelo nú da Chaumière. Não me pergunte porquê, mas dá-me ideia que tirará mais proveito desta do que de outra qualquer. Olhe, curiosamente, ali se travaram de amores a Vieira da Silva e o que hoje é seu marido, o excelente pintor húngaro Arpad Szenes, que já andava pela Academia quando ela para lá foi. De qualquer modo, o importante não é frequentar uma academia, o importante é frequentar Paris.

Experimente ir todos os dias à Chaumière e regressar a casa sem ter passado, pelo menos, por uma galeria de arte e sem estar uns minutos na cavaqueira connosco e aguarde... Nós é que somos a luz desta cidade! O que o meu amigo precisa é de um banho de imersão no nosso imenso meio cultural. Qual Londres, qual Nova Iorque, qual história!... Façam desaparecer Paris e verão o sarilho que arranjam... Não deixe de visitar com regularidade uma Galerie Pierre, ou uma Galerie Cardinale. Vá até à Galerie Staedler,onde expõe com frequência a vossa/nossa Vieira da Silva..."

"La Grande Chaumière" é emocionante?

É. E estava, até há dias, presente, também, nas esculturas de Ernesto Canto da Maia, no Palácio Galveias, em Lisboa. E continua visitável onde, discretamente, o artista espalhou os seus silêncios...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Os miúdos de Olinda

Brasil. Olinda. Setembro de 1972. Os miúdos da cidade. Guias a troco de uma moeda - como hoje, por certo...

Gravei. Deve ser lido, assim, sem pontuação e com sotaque cantado...

"- Posso começar?

- Podes começar...

- Esta igreja aí em frente é a catedral da Sé de Olinda  o ano dela é de 1537 tem quatro séculos e trinta e cinco anos por trás dela dá para se avistar o Convento de S.Francisco é de 1585 e ao lado tem a Ordem Terceira de 1811 aquele ali é o Seminário dos Padres é de 1549 lá foi onde funcionou o primeiro convento dos jesuítas no Brasil daquele muro ali dá para se avistar a igreja de Nossa Senhora do Carmo é de 1720 lá foi onde que funcionou o primeiro Colégio das Carmelitas e por trás tem o Mosteiro de S.Bento aonde o altar é todo banhado a ouro lá foi onde que funcionou..."

Gente Linda!... Também.

Filhos de putin

No passado dia 26 de Maio, o parlamento russo teve necessidade de aprovar uma lei acerca dos problemas do álcool no sangue.

A notícia: feitas as contas, o diploma acabou por ser aprovado por ... 449 votos a favor - com apenas ... 88 parlamentares na sala. Nos 20 segundos que havia para o efeito.

O que o YOUTUBE nos mostrou, naturalmente, foram, portanto, 88 srs. deputados a correr, de botão em botão, para conseguir votar por 449... Ao som das Bodas de Figaro, pois claro!...

Recuei, entretanto, a 6 de Setembro de 1972 (16 horas e 20 minutos) para lembrar qualquer coisa também digna de registo: em Brasília, na Câmara dos Deputados, um parlamentar faz um discurso de exaltação patriótica (150 anos da Independência do Brasil e Revolução de 1964) para uma assembleia com ... 6 (seis) "ouvintes", seus pares,em amena cavaqueira...Vi. Gravei.No "estádio" vazio...

E assim continuamos, pelos modos. 

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