sábado, 31 de março de 2012

Fernando Pessoa - A Viagem

Fundação Gulbenkian . Fernando Pessoa - Leituras Encenadas




"Partir?... Partir? ... Tudo menos saber onde é o universo!..."
- gritou Álvaro Campos.

Passageiro ocasional, ainda entrei no barco, mas assim que isso aconteceu, a agitação nas águas ficou tanta que, de imediato, senti uma espécie de batalha naval e ... e afundou-se-me a imaginação... Eu que tanto queria convencer o Álvaro à ousadia do Mar Salgado ...

Na primeira fila, ao centro, uma tia de Fernando Pessoa


Águas Furtadas


Hoje à tarde vou ter, na Gulbenkian, em Lisboa, uma conversa com um senhor a quem alguns, sem desprimor, chamam "ventríloquo": Fernando Pessoa. Mas, na verdade, ainda não sei com quem vou falar ... A Helena Vasconcelos, que vai lá estar também, dirá.

sexta-feira, 30 de março de 2012

De 80 no B.I., 50 no Diário de Notícias




Casa da Imprensa, em Lisboa, para festejar 50 anos de trabalho numa única empresa - a proprietária do Diário de Notícias. Dar um abraço a Fernando Pires autor do livro hoje, ali, lançado, e que sintetiza, sobretudo, nos tempos que correm, a proeza. Com sala cheia. Cheia de abraços também. 

À margem, tento imaginar o que são 50 anos ao serviço do mesmo "patrão"... Impossível. Entretanto, o que fala por si, penso, são as imagens do momento que ficam e documentam - ou quase, porque falta nelas a emoção de toda a gente.

                     Ei-las - com várias figuras destas cenas ...







Fernando Pires
"Os meus 50 anos
no Diário de Notícias"

Carta do padre António Vieira

A D. Rodrigo de Meneses, no último dia de Dezembro de 1672:

"... Portugal, senhor, está no mais miserável estado em que nunca o conheci nem considerei, e a maior miséria é o nosso engano, e a maior guerra a nossa mal entendida paz. Já me contentara que fôramos a segunda Galiza com segurança; mas esta não sei, nem vejo sôbre que fundamentos no-la possamos prometer. É necessário governarmo-nos com a espada sempre na cinta, e com a balança na mão, pesando os poderes de todos os principes, e fiando-nos só do próprio. Não estamos em tempo de el-rei D. Manuel ou D. João III em que só os nossos astrolábios sabiam navegar, e só os nossos galeões tinham nome.

Holanda, Inglaterra e França, se têm feito potentíssimos no mar, e por isso uns podem contrastar e outros resistir à fortuna nos maiores apertos dela; e porque Espanha (cujos êrros nós seguimos devendo aprender dêles) o não fez assim, se começou a perder, e perderá de todo, se não abrir os olhos, como já parece quere fazer.

A mesma Espanha é inimiga nossa irreconciliável, e todos os castelhanos em nenhuma outra coisa têm pôsto a mira, que tornar a ser senhores de Portugal. Assim o oiço nas bôcas de todos, e lho vejo muito melhor nos corações, e cada dia saem impressos nas gazetas de Itália e Alemanha, não só indícíos dêstes intentos, mas os fins declarados dêles entre os quais andou mui vulgar estes dias o do casamento do duque de Iorque com a casa de Áustria, para que Espanha unida com Inglaterra nos conquistasse, repartindo-se entre os dois o Reino e as Conquistas, falando-se na legitimidade da nossa Princesa, e no direito do Príncipe, com têrmos tão indecentes a nós, como assentados no juízo de muitos.

De Inglaterra não tenho que dizer de novo, e quando falo em Inglaterra, não exceptuo a ninguém; mas Inglaterra, França e Holanda, todos têm os olhos postos nas conquistas, e não têm outras para onde olhar, senão as nossas, que só com armadas prontas no rio de Lisboa se podem defender, e ainda que aí apodreçam, ao parecer inùtilmente, só elas são os muros das Conquistas (...)."

Águas Furtadas


Portugal estava a pedir chuva. Ela aí está!



Não era esta? Era trovoada?... Talvez seja melhor assim, miudinha: mata tolos ...

quinta-feira, 29 de março de 2012

Marcial - cartaz de um dia de glória



 

10000 cantam Beethoven - Ode à Alegria

Anatomia das ideias (0014) - O monóculo de Eça













Segundo o jornalista Luís de Oliveira Guimarães (1990-1998), "foi da janela do seu monóculo que Eça se debruçou para observar a vida. (...) Em Coimbra, usava lunetas. Quando chegou a Lisboa, uma das suas primeiras atitudes - quantos talvez o ignorem! - foi substituir as lunetas por um monóculo. Pedantismo? - dirão muitos. Engano. Ao premir na órbita essa pequenina rodela de cristal, Eça fê-lo na convicção, aliás justa, de que esse propositado incidente fisionómico lhe comunicava qualquer coisa de vivo, de pitoresco, de perspicaz, de intelectual e, ao mesmo tempo, de satânico, tão útil ao seu pensamento e à sua acção (...)"

"A política é a ocupação dos ociosos, a ciência dos ignorantes, e a riqueza dos pobres."

"Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado: doze ou quinze homens, sempre os mesmos, que alternadamente, possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder ..."

"Pertencer a um partido é meter-se a gente num omnibus que leva aos empregos - e que puxa o chefe do partido, sempre com o freio nos dentes."

"O grande mal, o mal terrível, são as oposições pessoais. Das subversões políticas, das crises ministeriais, dos antagonismos de poderes, saiu uma classe de homens que consideram o governo propriedade sua. Para estes há só duas situações possíveis: ou uma oposição facciosa - ou uma pasta."

"Cada governo costuma mandar como embaixadores para fora aqueles que não quer ver dentro como chefes da oposição. Na realidade, os diplomatas são como os criados que os companheiros mandam espreitar para a sala - para eles comerem mais à vontade na cozinha."

"A arte é tudo, porque só ela tem a duração - e tudo o resto é nada! As Sociedades, os impérios, são varridos da terra, com os seus costumes, as suas glórias, as suas riquezas; e se não passam da memória fugidia dos homens, se ainda para eles se voltam piedosamente as curiosidades, é porque deles ficou algum vestígio de Arte, a coluna tombada dum palácio, ou quatro versos num pergaminho."

Revoluções urbanas

Águas Furtadas












Talvez seja um problema de cifrões, talvez. A Fundação Gulbenkian é capaz de ter muito mais dinheiro do que a Fundação Joe Berardo. A verdade é que as exposições temporárias na avenida de Berna, em Lisboa, podem não ter obras mais importantes do que se podem ver regularmente em Belém, mas ...

Sem mais conversa: revisitem-se as palavras de Fernando Pessoa na Gulbenkian. Melhor: visite-se a Festa das Palavras na Gulbenkian. E perceba-se, de uma vez, a riqueza da Obra Pessoana - nas sombras, na luz, nos "apelos" à leitura", na interpretação, diria, coreográfica, concebida a partir do baú. NOTÁVEL! Livros, citações, documentos pessoais, anotações em papéis os mais diversos. A urgência de escrever ... Os efeitos luminotécnicos, o teatro de uma peça em múltiplos actos. O convite à descoberta, à participação. A multiplicação do espaço. No incrível de uma imaginação fértil, o convite à juventude, às escolas ... Portugal, ele todo, deveria organizar-se para se reencontrar - ali, na avenida de Berna, em Lisboa. Para se percerber melhor no melhor de si próprio. Em tempo de mágoas várias.

"Conversas Diferentes" - Publicações CERCI Lisboa

Um livro com o Alto Patrocínio
do Presidente da República

Com apoio
da Junta de Freguesia de Carnide

e de mais quatro generosos patrocinantes














(não estava na banca da CERCI do Cinema S. Jorge - por lapso, com certeza. Mas creio que ainda há exemplares à venda na CERCI Lisboa, através, nomeadamente, deste "contemporâneo balcão", que tem um FACEBOOK , a que não faltam potenciais olheiros, ao que se sabe)

quarta-feira, 28 de março de 2012

REQUIEM por Antonio Tabucchi














REQUIEM por Tabucchi, REQUIEM de Tabucchi, o escritor italiano: "num domingo de Verão, um homem está a ler O Livro do Desassossego debaixo de uma amoreira numa quinta de Azeitão e, de repente - por um sortilégio, por uma alucinação - encontra-se em Lisboa. Está um dia tórrido, a cidade está quase deserta. O homem começa a percorrer a cidade à procura de pessoas e de coisas que desapareceram da sua vida (um amigo, uma mulher, o pai, um poeta, uma casa, uma pintura), dos quais quer despedir-se pela última vez.

Mas no seu percurso vai encontrar, alucinadamente, mortos e vivos no mesmo livro."

Isso! É isso!

E aqui estamos. Num mundo onde há vivos que estão mortos e mortos que não morrem, como tu António Tabucchi: tenho-te aqui, não importa em quantas páginas, mas AQUI, nesta Lisboa, que amamos. Conta-me mais uma história.

Letras de protesto


















Eça in Campanha Alegre

"Para quê o discurso da coroa? Para quê obrigar o chefe do Estado a repetir uma velha lauda de prosa escrita em 24, e que é hoje uma negação da verdade, uma falsificação da história? O País está desorganizado: esta certeza é dada pelaa discussões do parlamento, pelos relatórios dos ministros, pela afirmações da imprensa, pelas conversações dos cidadãos. Por consequência, ou o discurso da coroa exprime rigorosamente a opinião e a consciência do chefe do poder executivo - e então que confiança nos pode inspirar este magistrado, se ele ignora inteiramente o estado do país? Ou não exprime opinião alguma - e então que seriedade tem o chefe do poder executivo, vindo diante do País, quando eram necessárias palavras decisivas, recitar parolas ocas e vãs?

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Porque (...) o que logicamente devia dizer? -Isto:

"Meus senhores: - É com o maior desprezer que me acho no meio de vós, pois que estou fatigado da vossa imbecilidade, da vossa intriga e do vosso desleixo. A situação exterior é esta: somos o que somos, porque nos deixam ser por misericórdia. A interior é esta: finanças em ruína; colónias exploradas pelo estrangeiro; marinha nula; indústria entorpecida; clero ignorante e imoral; ensino caótico; vida municipal extinta; funcionalismo desbragado; pensamento emudecido; carácter corrompido; serviços públicos desorganizados; leis em confusão; agiotagem em triunfo; proletariado em miséria, etc, etc. Vão, e que o Diabo os carregue, para os seus lugares. Disse."

Segundo o pessoal do Jardim, HOJE, haveria que fazer modoficações neste discurso, mas ...

Rostos

O João Veiga, ex-colaborador empenhado do Jornal Novo
e agora viola da fadista Kátia Guerreiro. Foi um prazer reencontrá-lo - ao vivo.
Num momento de Solidariedade.
Boa viagem e bons espectáculos em Bordéus - hoje.

Grande Gala da Solidariedade

Sala Manoel de Oliveira - no Cinema S. Jorge

O desfilar da boa vontade - numa sala que deveria estar esgotada. Mas não estava ... Três ou quatro apontamentos fotográficos não para documentar vazios, mas enaltecer as boas vontades ANÓNIMAS e as que, no palco ou na retaguarda, deram a expressão possível ao que, apesar de tudo, lá foi conseguindo acontecer ... ao longo de 10 fados, escritos, ditos e cantados com entrega.



Águas Furtadas


Segundo o comentador de serviço na RTP, ontem, a certa altura, o Benfica estava a jogar com 
ONZE JOGADORES ESTRANGEIROS.

Que tristeza, Portugal! Os cifrões ... Os cifrões e as exigências das massas associativas.

terça-feira, 27 de março de 2012

Dia Mundial do Teatro

Hoje é Dia Mundial do Teatro, disseram-me ao ouvido na telefonia.

O que recordar?

Assim de repente ...

. aos sábados, as Tardes do Teatro da Trindade, em que, depois de terminado o espectáculo, um dos artistas (cena aberta) vinha ao proscénio trocar impressões com o público acerca da peça acabada de representar;

. a actividade do Teatro Moderno de Lisboa, no palco do antigo Cinema Império, em Lisboa;

. duas ou três peças de teatro: O Tinteiro, Doze Homens Fechados, As Árvores Morrem de Pé, Deus lhe Pague;

. artistas: Palmira Bastos, Amélia Rey Colaço, Ribeirinho, Vasco Santana, Eunice Muñoz, Rui de Carvalho, António Silva, Beatriz Costa, João Vilarett, Raúl Solnado;

. em plena actividade, o Parque Mayer - e todos os teatros que, por uma razão ou por outra, foram obrigados a encerrar.


Águas Furtadas

Antes de ir para o jardim, sempre que m'apeteça sair, um olhar sobre a cidade:

hoje o dia acordou soalheiro e os do Chelsea trazem Jesus no pensamento ...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Canteiro de palavras XLI - Cantiga


                                                                                     









Sem pena ou sem favor, 
Nem per graça devinal,
Não pode bom servidor
Medrar neste Portugal.

Sem pena sabeis qual pena
Acerta pena de pata,
Que a vivos morte cata
E a mortos vida ordena,
Sem esta, ou sem favor,
Que queria Deus eternal,
Não pode bom servidor
Medrar neste Portugal.


Foi Álvaro de Brito Pestana que escreveu (1432-1500), consta.

Palavras cruzadas VII - Sexo


















"(...) assim como o canto grave e devoto ajuda a levantar o espírito gerando nele bons pensamentos, e saudade da Pátria Celestial; e por isso se usa nas igrejas entre os Divinos Ofícios: assim nas sarabandas, e modos mui festivos, e picados, o distraem, afeminam, e corrompem; e por isso se usa nas comédias, nas ceias nupciais, e nas músicas e descantes dos que de noite fazem pé de janela para os fins, com que a mocidade os inquieta (...)."
Padre Manuel Bernardes


De uma carta a Ofélia:
"(...) O engraçado era que no ano que vem eu já pudesse dar estes parabéns de manhã, antes de me levantar. Percebes, Nininha?


Muitos beijos, muitíssimos do teu, muito teu,
Fernando
Fernando Pessoa


"(...) É preciso que venha uma noite ao meu "cottage", antes da partida para Veneza, não é assim? pediu-lhe inclinado com as mãos entre os joelhos.


Constance respondeu imitando-lhe o patoá, o que o fez sorrir, e, por instantes, duelaram brincalhonamente em dialeto.


- Vai ao meu "cottage"? insistiu êle
- Sim, respondeu ela, ainda em patoá imitado.
- E dormirá comigo? Indispensável! Quando vem?
- Talvez domingo, respondeu Constance em patoá errado.
- Ótimo. Mas não é assim - e corrigiu-lhe a frase, caçoando. Não, você pode me imitar.
- Por que não?
Ele ria-se. Ela era tão cômica a lhe imitar o dialeto!
- Está bem. Vamos-nos daqui. É tarde.
Disse-lhe isso, inclinado sobre ela, a acariciar-lhe o rosto.
- Você é um bom cono, isto é que é. O melhor cono que resta no mundo - mas só quando quer.
- Que quer dizer isso - cono?
-Ah! Não sabe? Cono! É você embaixo.
- Como é copular?
- Copular é o que a gente faz. Os animais copulam. Cono é muito mais do que isso. É você mesma, compreende? E você é muito mais que um animal, mesmo copulando. Cono! É o que a faz bela, minha pequena! (...)"
D. H. Lawrence (em ed. brasileira)

"(...) Eu tinha um hímen muito resistente, sabes? Às vezes até é preciso operar. Nessa altura não sabia nada dessas coisas. Pensava que seria um bocadinho doloroso, que deitaria sangue ... uns minutos ... e depois ... Mas não foi nada assim. Foi preciso quase uma semana antes de ele ser capaz de o romper. Mas posso-te dizer que ele gostou assim! Oh, e como era delicado! Talvez aquela história de ser resistente fosse peta sua, talvez não passasse de uma manha para prolongar as coisas ... Por outro lado, ele também não era muito forte e tinha a coisa curta e grossa. Parecia-me que a enfiava toda, mas eu estava tão excitada que não o poderia jurar. Ficava muito tempo dentro de mim, quase sem se mexer, mas duro como uma pedra e a estremecer como se dançasse uma jiga. Às tirava-o e brincava do lado de fora. Era maravilhoso! Conseguia fazer isso tempos esquecidos sem se vir. Dizia que eu tinha uma constituição perfeita ... que uma vez a membrana perfurada seria delicioso ir para a cama comigo. Não usava linguagem obscena ...como o outro bruto. Era um sensualista. (...)"
Henry Miller

domingo, 25 de março de 2012

Aprenda a"falar" com os seus botões ...


















Já o escrevi. AQUI. Trasantontem, ou ainda há mais tempo ... Sim! Foi há muito mais tempo, teclei na máquina de escrever desta "coisa" (dizem-me que tem o mundo cá dentro e, mais do que isso, a Humanidade toda "desde o Princípio"... Meu Deus!) esta coisa simples, mas que articulei na minha cabeça como sendo importante, embora, eventualmente, óbvia: não sou o endireita da Esperança, que era, em Lisboa, no bairro da Madragoa, um homem que "arranjava" os ossos das pessoas. Isto é claro e o meu humilde Acerca de Mim inicial, mais as letras que se lhe seguem no "à la minute", dizem-no inequivocamente, penso.

Mas ... mas não resisto à tentação de ...(para quem não lê livros isto não interessa ...) à tentação de revelar, neste sabe tudo, como é que um leitor consegue, com o tempo, dialogar consigo próprio, sem grande esforço.

É assim: escolha um livro que tenha feito, por uma razão ou por outra, cócegas na sua curiosidade pessoal e, munido de um lápis bem afiado, comece a leitura, sempre "na esperança" de um possível sublinhanço. Sem exageros, mas sempre em homenagem à verdade instantânea, sublinhe então o que o possa ter impressionado, por um ou outro motivo. Chegado ao fim do livro, sempre com a mesma preocupação do sublinhanço, anote, a lápis também, no princípio do livro, a data (ano e mês) em que concluiu a respectiva leitura. Um traço contínuo por baixo do que o interessou, para além de eventuais notas consideradas importantes, assinala, portanto, a leitura efectuada.

Se, por exemplo, anos mais tarde, voltar ao mesmo livro, sentir-se-á assim confrontado, não só com o que o respectivo autor escreveu, mas com os eventuais sublinhados feitos por si anos antes, quem sabe ...

O ideal será, então, abordar a eventual a segunda leitura do livro sublinhado ... com lápis na mão para possíveis novos sublinhados - agora intercalados de espaços brancos. Assim: ____    ____    ____    

O que é que vai acontecer? Você pode agora tentar perceber-se melhor ... Concordar, ou não, com o que assinalou, às vezes, eventualmente, uma década antes. E assim por diante: cada leitura nova ... possíveis novos sublinhados.

No fundo, essencial: VER SE ESTÁ DE ACORDO CONSIGO. Se não estiver até pode ser bom.Muito bom mesmo. Mas será você o primeiro a sabê-lo. O que facilita, pode facilitar tudo - agora, então, que a vida tanto nos baralha ...

"Isto", obviamente, só é aplicável aos seus livros. Os meus sou eu que trato deles ...

A Amizade e as Redes Sociais


Francamente, francamente, a mim, que frequento este jardim imaginário, apetece-me falar de hipocrisia, da hipocrisia das redes sociais, por exemplo. Mas não gostaria de ir por aí ... Preferia, prefiro ir à palavra AMIZADE e ler o que a seu respeito escreveu,  não o homem simples que joga todos os dias as cartas além junto ao tronco de uma árvore, com os mesmos parceiros, mas um escritor que, por certo, muito reflectiu sobre a vida, e nesta, acerca das relações de amizade que terá tido ou observado: Vergilio Ferreira.



A AMIZADE


"Uma amizade que perdura é normalmente um fruto que se vai comendo por dentro, mas a que se deixa a casca por fora. Assim ela é por fim só a aparência. Mas que pode durar até à morte."

"A amizade como sentimento só funciona na juventude. Depois é uma recordação e uma forma de estar aí mais ou menos disponível. Ou ter aí uma certa cumplicidade. Ou um formalismo como dar pêsames ou parabéns para fora do seu destinatário."

"O amor destrói. A amizade constrói."

"A distância a que chamamos por alguém conhecido varia na razão directa da nossa intimidade com ele. Há assim um limite da nossa amizade que se mede a metro pela distância do nosso encontro. Se a amizade é grande, e a distância é grande, podemos desatar aos berros. Se ela é apenas formal ou de intensidade reduzida, fazemos que não vemos. Ou seja: diz-me a quantos metros me falas e dir-te-ei a amizade que me tens." 

sábado, 24 de março de 2012

Esperar ...


Volto ao livro que li, exactamente, em Junho de 1980, portanto, há mais de trinta anos: CHOQUE DO FUTURO, de Alvin Toffler. E volto justamente para aqui transcrever um simples parágrafo que filhos e
 netos confirmam sem palavras - sobretudo, hoje. 

"Quando um pai de 51 anos diz ao filho de 15 que terá de esperar dois anos para ter um carro seu, essa espera de 730 dias equivale a uns meros 4% do tempo de vida do pai, mas representa mais de 13% do tempo de vida do filho. Não admira, pois, que a espera pareça três ou quatro vezes maior ao filho do que ao pai. Do mesmo modo, duas horas na vida de uma criança de quatro anos podem equivaler a 12 horas na vida de um mãe de 24 anos. Assim, pedir à criança que espere duas horas por um chupa-chupa equivale a pedir à mãe que espere 14 horas por uma chávena de café."

E aqui temos, de uma forma eventualmente simplista, o drama das sociedades modernas às quais se pede que suportem sacrifícios agora ... que DEPOIS, depois serão ... depois lá virá o ...

O drama para os que esperam em familia é ... é esperar, mas o drama grande, não sei se o maior, é explicar aos povos que têm que esperar ...

Letras de protesto

Eça de Queirós in Uma Campanha Alegre


















"Ser padre não é uma convicção, é um ofício: o sacerdote crê, e ora na proporção da côngrua. E como acredita mais na secretaria dos negócios eclesiásticos do que na revelação divina, trabalha nas eleições. O povo, esse, reza. É a única coisa que faz além de pagar."

"Os jornais conversam baixinho e devagar uns com os outros. O parlamento ressona. O ministério, todo encolhido, diz aos partidos - chuta! As secretarias cruzam os braços. O tribunal de contas, lá no seu cantinho, para se entreter, maneja sorrindo as quatro espécies. A polícia, torcendo os bigodes, galanteia as cozinheiras. O conselho de Estado, rói as unhas. O exército toca guitarra. A câmara municipal mata em sossego os cães vadios. As árvores do Rossio enchem-se de folhas. Os fundos descem, e descem há tanto tempo que devem estar no centro da Terra. O povo, coitado, lá vai morrendo de fome como pode. Nós fazemos os nossos livrinhos. Deus faz a sua Primavera ... Viva a Carta!"

"Serve-se, não quem se respeita, mas quem se vê no poder."

"O deputado é um empregado de confiança."

"Se algum dia (...) encontrardes o influente, tirai-lhe o vosso chapéu. Ele reina, e o seu reino assenta sobre a coisa que, apesar de ser a mais lodosa, é ainda a mais sólida - corrupção."

Caros Visitantes deste espaço movido a pilhas, tirai a tudo os eventuais excessos, mas continuai a pau que os homens agora são electrónicos, mas quanto ao resto ...

Continua.

Tempos modernos

"Que bem que se está no campo ..."

sexta-feira, 23 de março de 2012

"Carta di amô pa Macau" (2500ª mensagem)

Uma brevíssima introdução para uma carta que é longa e foi escrita no Território quando tudo ainda não era o que é ... Ou era nos bastidores e ... e à mesa do botequim ... Vale, portanto, apenas, eventualmente, o que vale a emoção.


Fica o registo. Que saiu em jornal e está no livrinho "À Sombra da Minha Latada", que consta, pelo menos, aí no Acerca de Mim, que antecede estas 2500 mensagens que, no fundo, agora assinalo. 





















"Minha querida Macau

De emoção me tremem as mãos no momento em que te escrevo e penso na honrosa e bela responsabilidade que assumes ao continuares a apresentar armas à nossa bandeira em cada manhã que chega. És da têmpera do Decepado e é, por isso, que, tudo perdido à tua volta, a seguras nos dentes como coisa também muito tua e que só largarás se te matarem.

De amargura me correm, entretanto, também, no rosto, lágrimas que são um grito de revolta contra todos os que esqueceram o Épico e nos andaram por aí, corpo vivo e integro, entragando sem dignidade nem glória em nome de alguns princípios que respeito, mas eles, afinal, bem vistas as coisas, rejeitaram. Mas as minhas lágrimas - esta ora amarga e triste, ora suave e doce, e elevada, e muita profunda emoção - são, ao mesmo tempo, qualquer coisa que, por parodoxal que pareça, sabe bem. São lágrimas que cantam, são lágrimas que fazem tremer os lábios e dizer baixinho, só para mim, os versos de "A Portuguesa". Sem saudosismos piegas, sem recurso a grandezas do passado para desculpar o presente. São lágrimas que correm mesmo que se não vejam - lá onde a garganta se aperta e a voz se emudece.

Macau, minha querida terra do Nome de Deus, em obediência a ti própria, resgata o que aconteceu em Timor e não deixes nem sequer que a sombra da bandeira portuguesa seja pisada. Nunca! "perdida a independência de Portugal a favor da Coroa de Castela nem por isso Macau deixou de continuar a hastear nos mastros das suas fortalezas a bandeira das Quinas".

Segue o destino que quiseres, mas jamais inutilizes a tua, a nossa bandeira.

Vai alta a noite quando te escrevo, rebentava se o não fizesse já, ainda sob a emoção do padrão que não destruiste, do Lusíadas que não rasgaste. Progride, como é do nosso tibre, em paz e convivência estreita com os outros povos, mas não deixes que arranquem das tuas mãos sagradas o pedaço de pano verde e rubro, o facho luminoso que conservas na tua honrada terra com a mesma determinação com que Camões, nadando com um só braço, salvou Os Lusíadas.

Eu não sei se vou ferir a tua modéstia, minha chinezinha querida, mas permite-me que, daqui, do recanto lusitano desta pátria tantas vezes ultrajada, te preste a homenagem, te diga uma palavra, te acaricie os cabelos, te beije a areias da praia, te chame cada vez mais minha - pela coragem, pelo elevado sentido cívico, pelo patriotismo, pela sabedoria que revelaste não deixando de levar até às grutas de Camões as crianças das escolas sem olhar à sua origem racial.

Macau, aceita uma palavra de estímulo - que, bem sei, não precisas - e continua! O futuro não pode construir-se em cima de folhas rasgadas de uma Obra que é de toda a Humanidade e que fala dessas paragens sem a preocupação de saber se a compõem maioritariamente chineses, portugueses ou outros.

Não é este o momento para dissertar sobre os teus problemas, as tuas preocupações, as tuas feridas. Não é esta a oportunidade para eu te considerar num plano mais vasto como território do sul da China. Para isso, outra ocasião há-de surgir. Hoje o que te queria transmitir era esta palavra trémula, mas consciente, de incontido palpitar, de verdadeira alegria por te ter visto chinesa por fora mas portuguesa no mais profundo de ti própria.

Sabes, Macau, eu conheci há pouco tempo gentes nossas compatriotas em terras também distantes da América do Norte e do Canadá e vi como Portugal não se deixa morrer nos costumes, no amor, na saudade da Terra-Mãe. Aí, muitos já nem portugueses são de direito, mas são-no de facto pela garra, pela força com que seguram a pequena bandeira que levaram das suas origens e conservam religiosamente em casa como símbolo de uma pátria que só se finará quando finado estiver o último dos seus filhos. E tu, Macau, que és Portugal, que não te fazes ainda representar por embaixadores, que conheces bem e não rejeitas Camões, tens obrigação, tens o dever de continuar honrando o nome deste pequeno rectângulo ocidental que te ajudou a dar expressão própria dentro daquele espírito, bem nosso, de integração cultural que faz com que estejamos em todas as partes do mundo por direito próprio com os Lusíadas numa mão e a enxada na outra. O que é importante é que não ignores e penses maduramente, serenamente, no alto e transcendente papel que desempenhas para a continuidade de uma cultura que já não é nossa por ser da Humanidade, mas que se for destruída ou profanada atentará contra aquilo por que ainda vale a pena viver: os reais valores da História.

Macau, minha querida, vai longa esta carta que a emoção quase impediu te escrevesse. Deixei que a minha caneta deslizasse, contudo, ao ritmo do coração e aqui tens uma dúzia de linhas, quiçá sem importância, de um português do Ocidente, emocionado e feliz por te ter encontrado tão lucidamente portuguesa, tão ordeiramente chinesa. Tu és, de facto, Portugal. Mesmo que os séculos de outro modo te venham a apelidar. Senti, com efeito, que seja qual for o futuro, nas tuas casas há-de haver sempre lugar para, na convivência fraternal entre os povos, mais do que entre as nações, recordares este pedaço de terra ocidental que também será sempre teu mesmo que se alargue para além dos Pirinéus em zona comum num mundo sem fronteiras.

Deixa que, por fim, te saúde com uma vénia e de mãos postas, como por aí fazem nessas paragens, te mande um grande beijo, minha querida, forte, e resistente, e única Cidade do Nome de Deus - leal como não há outra."






 

Excertos de cartas de pai 2 vezes ( 3 )

"... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 

- Boa tarde! Pode explicar-me ... Gostava de ... Sabe, sinto-me um pouco perturbado, pataroco, analfabeto, talvez até meio extravagante ... Olho para o que julgo ver e apetece-me, em vez de falar consigo, assobiar, ou coisa assim ... Dizer frases soltas, delirar, mascarar-me ... Sim! Talvez assobiar, assobiar-lhe!... E pular ou sentar-me no chão a comer pevides e rir à gargalhada ou chorar, não sei.

- Mas ...

- É o que lhe digo, menina! Desculpe! É assim que me sinto depois do que observei ali atrás...

- ??? É o olhar da autora ...

- O quê?... Encenou aquilo para ... E o olhar sobre?... Ver o quê? ... Isto é uma exposição de fotografia ou não é?

- Bom ... Talvez ... talvez não se devesse chamar assim ...

- Mas publicitam-na assim ... É falha no baptismo? ...

- Talvez ... Os géneros históricos estão a ...

- Ok! Estão como a minha conversa ... Não se assuste. Há quem nos queira provocar e ao rotular faltam-lhe palavras ... Deve ser isso ...

- ???

- Que juízo fazer? Que juízo fazer ...

- ???

- Pronto, não pense mais nisso. Boa tarde, boa tarde, menina! E desculpe ...

Ainda dissertámos mais uns minutos. E sem que a direcção do C.C.B soubesse, despedimo-nos no meio de grande galhofa ... Saí sem nada ... Nem emoção, sequer. (...)."

Nota: este "post" não tem ilustração por motivos alheios à minha vontade ...Mas se quiserem podem adaptar a da mensagem anterior ("PONTO DE VISTA").

Ponto de vista




                                                                   
                                      

 

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Arte Contemporânea na Culturgest

Esperei cinco minutos que as duas exposições abrissem (abriam às onze da manhã e eu apareci às 10 e 55) e vi-as, minuciosamente, em cinco minutos. 

É certo que paguei dois euros para entrar, mas valeu a pena.

Nenhuma obra tem título, mas toda a gente percebe ou, pelo menos, é tocada.

 E, para os largos metros quadrados que ocupam no edifício da Culturgest, em Lisboa, até nem são caras.


Importante

No "post" seguinte, a homenagem do JARDIM7 (7Garden) às exposições aqui objecto de apontamento.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Ainda Vila Viçosa - frescos




Greve, grave "ma non troppo" ...

Álvaro Cunhal in Rumo à Vitória:

"Quando se trata de concentrações e paralisações em grandes empresas, o patronato chama com frequência em seu auxílio o aparelho repressivo. Quando das concentrações na Carris e nos Telefones de Lisboa, nos serviços de Gás e Electricidade e na Carris do Porto, por exemplo, as empresas foram cercadas por forças da GNR, PSP e PIDE, com grande aparato de armamento e fizeram-se prisões."


Hoje é dia de greve geral em Portugal, mas estamos em 2012, alguns anos depois de ... de 1974. Há liberdade de paralisação, como se sabe. Mas também aparecem os desordeiros - que não são a maioria. E maioria rima com democracia.

De qualquer modo, a pergunta: tudo somado (ou diminuido), em que estado fica o "mexilhão", se o que pára, de uma maneira geral, é pago pelo rico dinheirinho do Zé?

quarta-feira, 21 de março de 2012

Canteiro de palavras XL - O Rosa


Não sei se Rosa (Mendes) é flor que se cheire. O que já percebi é que tem picos ... Mas tem uma prosa que, desde que a ouvi na Culturgest, em Lisboa, passei a gostar. Tanto que a vou pôr no meu Canteiro. Embora não saiba se se vai dar bem no meio de tanta gente ...No meio desta selva.



in Baía dos Tigres, de Pedro Rosa Mendes 




"(...) Andar de dia. Andar de noite. Comer fuba ou não comer nada. Poupar a última lata. Ferver chá colhido em arbustos. Cozinhar em panelas negras na terra lavrada pelos pneus. Comer a última lata. Comer à mão em pratos de esmalte esboroado. Imaginar água fresca. Salivar línguas de sal. Quebrar de frio uma hora depois da Lua. Abafar de calor uma hora depois do Sol.

Sonhar com uma cama.
Acordar com susto.
Adormecer com susto.
Desprezar as lágrimas.
Evitar os cães.

Defecar à frente dos outros. Tomar banho nos rios, nadar na sesta dos crocodilos, fugir das cobras, secar o corpo com as mãos, colher os arrepios por fora dos ossos, vestir a pele de roupa imunda. Vomitar o próprio cheiro. Dormir ao relento, dormir em alerta, em trânsito, em casa abandonadas, em colchões de palha e piolhos, em cobertores com buracos e sarna. Escutar o vento debaixo do divã. Ouvir as folhas que se riem quando arranham o cimento que não se levanta do chão.

"Perigo Minas." Não tocar em nada, pisar na pegada, andar para trás rebobinando o filme dos passos, os mesmos passos, exactamente, ou ...

Cruzámo-nos ontem com duas palhotas. Até ao momento, ninguém mais passou pela nossa imobilidade. Localização possível: situam-se entre o rio e a sede dos bois. É esse o sítio. Não vem no mapa. Nós tão-pouco. Havia uma mãe e um filho. O filho não tinha cara. Em bebé, quando ambos dormiam um noite junto à fogueira - único recurso para manter as feras ao largo dos homens -, o filho virou-se sobre as chamas. O fogo lambeu-lhe as feições com a violência do ácido.

Acho que ele me olhou atrás da árvore. Não tenho a certeza se estava virado para mim. Difícil: a criança não tem cabelo, tem uma casca uniforme e as pessoas, com as feras, impiram-lhe pânico. Ele correu de mim.

A savana fugindo à volta.
Vamos chegar. É já ali. Quando for, não importará mais.
O rio roubando-me os lugares na sola dos pés.
Mas é já ali.
A selva à solta por dentro." 

Primavera 2012, no Jardim









Este banco não é meu, mas é o meu banco. Esta árvore não é minha, mas há pouca gente viva que a conheça como eu ...




"Na casa da pintura
começa a cantar,
ensaia o canto,
derrama as flores,
alegra o canto.
... ... ... ... ... ...
Livro de pintura é o teu coração,
vieste cantar,
fazes ressoar os teus tambores,
tu és o cantor,
No interior da casa da Primavera,
alegras toda a gente.

Tu só ofereces
flores que embriagam,
flores preciosas
Tu és o cantor,
No interior da casa da Primavera,
alegras toda a gente."

Trad. Agostinho Baptista

Palavras cruzadas VI - O Mar


No Dia Mundial da Poesia

















"Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes."
Ricardo Reis

"O homem que está à mesa
Tem qualquer coisa que escapa

Qualquer coisa que o faz ser
Ausente quando presente

Às vezes como de mar
À vezes como de sul

Um certo modo de olhar
como atravessando as coisas

Um certo jeito de quem
está sempre a partir."
Manuel Alegre

"Mar!
Tinhas um choro de quem sofre tanto
Que não pode calar-se, nem gritar,
Nem aumentar nem sufocar pranto ...

Mar!
E quando terá fim o sofrimento!
E quando deixará de nos tentar
O teu encantamento!"
Miguel Torga

Excertos de cartas de pai 2 vezes ( 2 )





















"Ontem à noite, ao fechar o estore do meu quarto, reparei que, do lado de fora do vidro, ficara, cativa, uma mosca que nada conseguira afastar.

Hoje de manhã, mal me levantei, abri o dito estore e, com a claridade, lá vi a mosca da véspera. Bati no vidro convencido de que, morta, iria cair. Bati várias vezes e nada ... "Morreu e nem se mexe, está colada ao vidro ..." - pensei. Voltei a bater. De repente, a mariola mexeu-se e quando eu esperava a queda, voou, voou e foi, provavelmente, em liberdade, tomar o pequeno almoço que os da limpeza cá da freguesia lhe haviam reservado (a ela e às manas) nos arredores dos caixotes do lixo.

E aqui tens a história de uma mosca que não estava morta.

Fim."

terça-feira, 20 de março de 2012

Palavras cruzadas V - Democracia












"Democracia é uma ideia que procura traduzir-se em instituições e que se desenvolve na História. Esse desenvolvimento, passados mais de 25 séculos, tem sido tão vário e, por vezes, tão oposto nas suas formas que, embora exagerando, se poderia dizer que Democracia só tem de verdadeiramente comum a definição nominal: "governo do povo". Quando se trata de concretizar o que é "governo" e, sobretudo, o que é "povo" as divergências aparecem logo."
Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura


"(...) O que se tem realizado é, quase sempre, um arremedo de democracia sem verdadeira liberdade sem verdadeira igualdade, exactamente porque se tomou como base do sistema uma relação do homem com o homem e não uma relação do homem com o espírito de Deus. Por outra palavras: para que a democracia se salve e regenere é urgente que se busque assentá-la em fundamentos metafísicos e se procure a origem do poder não nos caprichos e disposições individuais, mas nalguma coisa que os supere e os explique, aprovando-os ou reprovando-os."
Agostinho da Silva


"A força da nossa verdade tem que ver com a verdade da nossa força. Porque a verdade é o que é a sua justeza, mais o músculo anterior de quem a enuncia. Por isso é tão incompreensível a tolerância na juventude como a intolerância na velhice. Assim a intolerância é um sinal na juventude de se ser homem firme como na velhice é um sinal de ser taralhouco. Assim a democracia não é o triunfo da juventude, a não ser como um terreno é o triunfo do que se lá cultiva. Porque a democracia não é uma "ideologia", mas o caldo em que todas elas se podem desenvolver."
Vergílio Ferreira

Rescaldo ...

Não é rescaldo ... É ...

Ontem uma criança arrancou uma flor aqui num canteiro ao lado.

"Isso não se faz, minha querida!...", lembraram-lhe.

E a criança olhou, sorriu e disse:

"- mas não tenho outra, e esta é p'ra meu pai ..."  E deu uma corrida para casa ...

 Ficou no ar um perfume diferente. O meu jardim está, aos poucos, a renovar-se.

Anatomia das ideias (0013) - O selo

Numa mensagem já aqui publicada em 17 de Agosto de 2010, "dei notícia" de um selo de correio de 20 avos, cuja circulação, em Macau, terá sido proibida pelos chineses pelo facto de conter uma ilustração em que se vê um mandarim a prestar vassalagem a D. Manuel.

É uma estampilha postal impressa aquando das Comemorações (1972) do IV Centenário dos LUSÍADAS, que sublinha a História. 

Ei-la, num formato (ampliado) que, penso, vai permitir a sua leitura integral.



Contudo ... contudo, não sejamos ingénuos... Lénine citado por Mao já sublinhava: "( ...) A literatura e a arte proletárias são uma parte do conjunto da causa revolucionária do proletariado; como dizia Lénine, elas constituem uma pequena roda dentada e um pequeno parafuso da máquina geral da revolução."

Mas é tudo. Que viva a China, sem que Portugal morra ou abdique também dos seus valores!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Galeria Nacional de Fotomontagens ( CXXVI )

- Vamos voltar a crescer em 2013 ...
"- Este homem é uma grande cabeça!..."

Os filmes da culpa

Um dia destes, na estrada frente à minha varanda, houve um acidente mortal que não testemunhei, mas de que segui todos os passos posteriores. É claro que fiquei a fazer os meus juízos do sucedido, tirei, à distância, uma ou outra fotografia e ... e, dias depois, pensando bem, achei que deveria sugerir à autoridades locais a colocação de faixas moderadoras de velocidade no sitio onde se tinha verificado o  acidente. Já se passaram, entretanto, algumas semanas e ... e nada. Não é grave, mas ... mas poderia ser ...

Ora bem. Recebo de quando em vez "mails" que são, de algum modo, relatos paralelos do que aconteceu na estrada minha vizinha: a culpa da crise foi de ... E vem logo a seguir o nome de alguém que ...

A velha história "se não foste tu, foi a tua mãe ... Se não foi a tua mãe, foi a mãe dela ...", é conhecida. Se no dia a seguir ao recebimento do meu alerta para as autoridades locais, tivesse havido outro acidente idêntico, é certo e sabido que, por muito bonzinho que eu quisesse ser, lá me assaltaria a vontade de reclamar o "não atendido..." - na véspera ...

O que é que eu quero dizer com isto? É simples: o culpado da Crise não é Passos Coelho, não é Sócrates, não é Cavaco, não é Mário Soares, não é Guterres, não é Vasco Gonçalves, não é Salazar, não é D. Carlos. Talvez seja o Infante D. Henrique, mas o homem não sabia que o que se ( e se ...) ía descobrir ... Talvez seja então de ... talvez a culpa seja do mau feitio de D. Afonso Henriques, que correu com os mouros ... Depende de quem escreve a crónica.

É isso: há uns que detestam Sócrates. Há outros que o querem sossegado nas aulas de Filosofia. Há outros ainda que não gostam de "marquises" e ... pimba!... E há também os profissionais do bota-abaixo, para quem "quanto pior, melhor."

Mas "isto" é um blogue, não é uma cartilha, ou um "mail" santo, imaculado como alguns que por aí circulam. Acorre-me, por isso, uma citação, em vez de uma queixa. Cito? Não cito? Cito:

Mao Tsetung (que tal?...)

"Quando se toca piano, os dez dedos devem mover-se; não se pode tocar apenas com alguns dedos, deixando os outros parados. Mas se os dez dedos fazem pressão ao mesmo tempo, também não se consegue qualquer melodia. Para produzir boa música, os dez dedos devem mover-se com ritmo e coordenadamente."

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