sábado, 10 de março de 2012

Os portugueses no Canadá - foi assim ... ( V )





















Manuel Arruda, Toronto, conta a sua história

"Em Março de 53 falou-se em S. Miguel que precisavam de gente para ir para o Canadá. À primeira não acreditei, pois tinha havido antes notícia semelhante e não passara de boato. Faltavam apenas dois dias para a Imigração fechar em Ponta Delgada, quando me inscrevi, e fi-lo como quem compra um bilhete de lotaria. O meu pai morrera, tinha eu 12 anos e 12 irmãos, quase todos mais novos do que eu. Como iria a minha mãe arranjar-me quinze contos para me pôr no Canadá?

O inspector da imigração Ferreira da Costa, fez-nos um exame escrito e oral e escolheu os vinte homens mais bem classificados. Eu fui um deles.

- Traga 150 escudos e venha cá amanhã tirar as radiografias, disse-me o inspector depois do exame.

- O melhor é o senhor "cortar-me" e pôr outro no meu lugar, porque eu não vou arranjar quem me empreste tanto dinheiro para a viagem.

O inspector, que foi como um pai para mim, garantiu-me que ele próprio pagaria a despesa das radiografias se eu ficasse mal. E, no dia 21 de Abril, partimos para Lisboa, a bordo do Lima a fim de sermos inspeccionados pelos médicos canadianos. Éramos vinte rapazes solteiros, todos de S. Miguel. Levávamos connosco uma dívida de quinze contos e uma vontade enorme de triunfar.

Logo no primeiro dia de viagem para Lisboa, o inspector pediu-nos os quinze contos, dizendo que não nos deixaria entrar na cidade com aquele dinheiro no bolso.

Ao fim de 4 dias, desembarcámos em Lisboa. Comemos e dormimos duas semanas na Junqueira e ali tratámos de toda a documentação e inspecções médicas.

Um dia antes da partida para o Canadá, o inspector fez as contas todas, e entregou-nos cinco contos em dólares canadianos.

in Imigrantes Portugueses - 25 anos no Canadá

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