quinta-feira, 29 de março de 2012

Anatomia das ideias (0014) - O monóculo de Eça













Segundo o jornalista Luís de Oliveira Guimarães (1990-1998), "foi da janela do seu monóculo que Eça se debruçou para observar a vida. (...) Em Coimbra, usava lunetas. Quando chegou a Lisboa, uma das suas primeiras atitudes - quantos talvez o ignorem! - foi substituir as lunetas por um monóculo. Pedantismo? - dirão muitos. Engano. Ao premir na órbita essa pequenina rodela de cristal, Eça fê-lo na convicção, aliás justa, de que esse propositado incidente fisionómico lhe comunicava qualquer coisa de vivo, de pitoresco, de perspicaz, de intelectual e, ao mesmo tempo, de satânico, tão útil ao seu pensamento e à sua acção (...)"

"A política é a ocupação dos ociosos, a ciência dos ignorantes, e a riqueza dos pobres."

"Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado: doze ou quinze homens, sempre os mesmos, que alternadamente, possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder ..."

"Pertencer a um partido é meter-se a gente num omnibus que leva aos empregos - e que puxa o chefe do partido, sempre com o freio nos dentes."

"O grande mal, o mal terrível, são as oposições pessoais. Das subversões políticas, das crises ministeriais, dos antagonismos de poderes, saiu uma classe de homens que consideram o governo propriedade sua. Para estes há só duas situações possíveis: ou uma oposição facciosa - ou uma pasta."

"Cada governo costuma mandar como embaixadores para fora aqueles que não quer ver dentro como chefes da oposição. Na realidade, os diplomatas são como os criados que os companheiros mandam espreitar para a sala - para eles comerem mais à vontade na cozinha."

"A arte é tudo, porque só ela tem a duração - e tudo o resto é nada! As Sociedades, os impérios, são varridos da terra, com os seus costumes, as suas glórias, as suas riquezas; e se não passam da memória fugidia dos homens, se ainda para eles se voltam piedosamente as curiosidades, é porque deles ficou algum vestígio de Arte, a coluna tombada dum palácio, ou quatro versos num pergaminho."

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