segunda-feira, 29 de abril de 2013
Memórias do meu cata-vento
Quando, fora do aeroporto e do táxi, pisei terras de Hong-Kong, dei comigo com bagagem suspensa do pescoço, bagagem pendurada nos ombros direito e esquerdo e bagagem em ambas as mãos, para além da "entalada" entre o braço esquerdo e as costelas... Isto sem falar no, preso nos dentes, bilhete de acesso ao jet-foil, que, repleto de gente amarela e outra, me havia de conduzir ao cais de Macau.
Fiz assim, então, no barco, a viagem de pé, como um pastor zeloso cuida do seu rebanho: qual ilha no meio da sua própria bagagem, marcada para não se confundir com a que, eventualmente, lhe pudesse ficar à ilharga. E foi neste preparo que me vi, olhando muito, mas, das falas, não percebendo nada e, nos olhares, sentindo, no caso, uma total indiferença ...
Até que, aproximando-se o momento do desembarque no cais de destino, começou a verificar-se uma certa agitação, de resto, por si só, pouco perturbadora face ao que é habitual em toda a parte, em momentos idênticos (tinha a experiência do Lisboa-Cacilhas, por exemplo), e deixei-me ficar ... Ouviram-se, entretanto, uma ou duas apitadelas a partir do jet-foil, os olhares voltaram-se todos para a saída assinalada, salvo erro, em inglês e em caracteres chineses (mandarim?) e ... e houve ali um ligeiro "alinhar" para o desembarque, como se fosse o posicionamento para a partida de uma corrida de 100 metros barreiras ... Verificou-se a modos que uma espécie de chegada à frente, até que, de repente, se soltou a "ponte" do jet-foil para a beira do cais de Macau e ... e houve como que uma descarga de gente apressada para terra firme.
Foi então que, cilindrado pela multidão, tentei, feliz, sair do barco ao mesmo tempo que se me abria a mala principal em plena ponte levadiça do jet-foil, enquanto um sem número de chineses ávidos da chegada, me atropelava, me ignorava, me gritava a força da sua quantidade ... Passados talvez uns quinze minutos, desarrumado, mas refeito do susto, entrei, finalmente, no pequeno Macau verde-rubro, com a certeza física da minha insignificância. Numérica, pelo menos. Embora, embora sem ter perdido nada da lusa bagagem que se havia desarrumado por motivos alheios à minha vontade.
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