sábado, 27 de julho de 2013

O mundo e o submundo de La Rinconada (1980)*

* Apontamento de viagem ao serviço de O DIA













Caracas, Hipódromo La Rinconada - o segundo mais importante do Mundo (o primeiro é nos Estados Unidos, ao que dizem os especialistas). Domingo à tarde. Calor. Gravata obrigatória na tribuna. A "banca suiça" usa gravata e nem sempre anda ao sol. Vive nos corredores. Desafia aqui, "cobre" acolá, engana mais adiante, enquanto os apostadores fazem também o seu jogo falando com o ginete, dando uma palavra ao treinador, cochichando com o dono da montada. É o submundo dos cavalos, em que os únicos inocentes são, de facto, e quase sempre ... os cavalos. Tudo o resto é um complicado esquema de interesses em que se arriscam, ganham e perdem milhões. Do ponto de vistam espectacular, o importante não é tanto a corrida mas a assistência dos apostadores. Dir-se-ia que as corridas de cavalos deveriam ter uma pista ao meio e uma bancada de um lado para os que apostam e outra, do outro, para os que vão ver - os cavalos e ou os apostadores. Para uma visão de beleza, ritmo, elegância, equipa ginete-cavalo - a pista de corridas; para uma imagem de loucura, interesses de milhares, ou milhões, em jogo em poucos instantes, de gestos e gritos, de caras que se contraem e quase choram, de rostos que se animam, de olhos que se esbugalham e de mãos que se crispam ou fazem figas - a bancada dos apostadores.

O espectador que acaba de chegar e nada tem a ver com aquele mundo surpreende-se no primeiro instante, mas logo se apercebe que o que se passa é que o verdadeiro jogo se faz fora da pista, à sombra do mais perfeito bas fond em que os cavalos são o meio e o dinheiro o fim. Desportistas, são, deste modo, as bestas - que correm com doping ou sem ele, com pilhas eléctricas nas mãos dos ginetes, ou não, mas com aquele bom, alegre e puro instinto de vencer que não sabe o que é a Mafia, nunca ouviu falar nisso, orgulhando-se apenas, por vezes, da sua ascendência e dos prémios que ajudaram a ganhar - ao dono e "demais família" que nos corredores, e até fora do Hipódromo La Rinconada, aposta forte, ou faz apostar, nas suas virtudes.

À força de se integrarem na vida local, os portugueses também aqui jogam. E entram nas jogadas ... Continentais e madeirenses. Às vezes, começando apenas para tentar ganhar fortuna rapidamente. Quase sempre, como os demais, e, por fim, para recolher mil e acabar por perder dois mil.

No hipódromo, com efeito, desporto, desporto - só os cavalos o fazem, como podem e os deixam."

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