Aqui, na rua, que é de jardim e tem bancos, que apenas servem para a gente se sentar, nos últimos tempos tem-se falado muito pouco de política. É verdade que a alguns a palavra puxa-os muito para Cuba, ou mesmo para a ex-União Soviética ou para o nosso 1975, de Vasco Gonçalves e outros ... Certo, porém, é que, quando se lhe revelam recortes do luso e velho Jornal Novo, por exemplo, se, não raro, surge, um sorriso de louvor ao que foi a madrugada de um tempo repleto de esperança, logo aparecem os incómodos sinais (David Mourão-Ferreira forçado a demitir-se do jornal A CAPITAL, etc, etc) que obrigaram, nomeadamente, à palavra satírica e certeira, às vezes, romântica, de Artur Portela Filho, que tanto agrado provocou.
Só que, agora, a coisa é outra: sabemos que, conquistada a liberdade, modificado o mundo, a história, a conversa fia mais fino ... Já não é possível falar de conquistas de Abril. Temos que falar, nomeadamente, nas consequências da assinatura que Mário Soares, por exemplo, em momento de grande solenidade e sorrisos triunfantes, botou no livro das adesões à Europa do Mercado Comum Europeu. Temos que falar no pós-25 de Abril e no que, de positivo, mas também negativo, nos foi trazido pela abertura ... Temos que imaginar como seria se não tivesse sido assim ... Activos, com certeza, mas sem falsidades ... O Dr. Mário Soares e outros que tais têm que estar caladinhos a arrolar também as asneiras produzidas em nome da Liberdade - de falar, de comerciar, de se estar em "espaço único". Com o povo que somos, as preguiças que temos, o eventual bem-bom que invejámos ...
Mas, sobretudo, esta coisa simples: temos ou não tomates para estar e ser como os melhores ... COM os melhores e não "apenas" à procura de paisagens desconhecidas onde as populações indígenas possam ainda viver pior do que nós ... O desafio é novo, mas só para os bons: conseguir viver no meio de gente que há muito deixou a tanga e ser digno do tal passado de que falam os livros ... Não é regressar a 1974, não é regredir a 1975 ... É ser 2013 - com trabalho, sem dívidas, com suor, com igualdade de oportunidades, certamente, mas também com a consciência tranquila: o Estado a gastar apenas o que pode, os cidadãos a usufruírem da liberdade sem a estragarem. Todos a dizerem NÃO a novos Salazares, mas igualmente NÃO a novos Vasquinhos ...
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