segunda-feira, 9 de junho de 2014

Do lido, o sublinhado (62) - "Adeus" de Cabral do Nascimento

Conheci Cabral do Nascimento, sereno. Dele a Poesia, que é sempre o que fica depois de se ter esquecido quase tudo o resto ... Lembrei-o ontem num Certame em Santo António dos Cavaleiros, no momento público dedicado à Poesia.

ADEUS 

Manhãs serenas, pálidos
Dias sem sol. enevoados céus,
Opacas noites de perfumes cálidos,
Vejo tudo isso e digo adeus.

Frutos doirados, flores de estuante viço,
Rochas, praias, ilhéus,
Ondas do mar azul ... Vejo tudo isso
E digo adeus.

Que importa que este fosse o meu desejo,
Se o envolveu a sombra de pesados véus?
A vida existe para os outros. Vejo
Tudo isso, e digo adeus.

E porque é tarde, e estou cansado, sigo
A estrada do regresso; e quando volto  os meus
Olhos, além, vejo tudo isso e digo:
Adeus!

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