Navegar contra o vento *
"Hoje (...) o Império romano é quase todo o mundo, mas os portugueses alargaram o império romano com uma invenção simples. Os romanos tinham inventado a estrada: nenhum grego jamais teve a ideia de que, deitando um muro ao chão, passava a ter uma estrada sólida. Os romanos tiveram essa ideia: toda a estrada romana é um muro enterrado no chão. Ainda conseguiram vadear os rios porque souberam construir pontes - e que pontes magníficas, algumas delas construídas apenas pelo princípio da força da gravidade, sem nenhuma espécie de cimento ou de argamassa a ligar as pedras. Quando chegaram ao mar, a respeito de ponte, na expressão popular tiveram que confessar que não havia jeito.
Tiveram jeito os portugueses: descobriram que um pedaço de estrada romana podia percorrer o mar, navegando a favor do vento, o que era fácil; porque o difícil nos descobrimentos foi navegar contra o vento, na volta - e isso é uma lição que todos os portugueses deviam procurar meditar. É muito fácil içar a vela e deixar-se ir a favor do vento. Eu queria ver os políticos com bastante mão no leme e bastante manejo de vela latina poderem
bolinar quando o vento lhe aparece com outra feição. Mas todo o navegador, novato ou bisonho, que entra nessas coisas de governar povos, esquece completamente essa lição dos descobrimentos portugueses."
* Agostinho da Silva (in "Cumprir Portugal")
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