Ainda que, na prática, não tenha razões objectivas para pensar desta ou daquela maneira, às vezes, dou comigo a reflectir que a multidão não manipulada é mais tranquila do que a vizinhança limitada de um pequeno território. Isto é, ser um entre milhares é mais fácil do que viver rodeado de apenas meia dúzia de vizinhos. Porque ... porque "meia dúzia de vizinhos" tendem a "meter-se" na vida uns dos outros e acabam por transformar o pequeno "grupo", bastas vezes, num impossível vespeiro, onde a inveja acaba por fazer-se sentir sem disfarces; onde todos têm que ser do Benfica; onde todos têm que dar sinais políticos de votar no mesmo ...
Dir-se-á que a pequena localidade é mais facilmente solidária do que o grande aglomerado humano. Não sei ... Revejam-se os contemporâneos condomínios, por exemplo: numa mesma unidade, quantos condóminos falam com os demais sem reservas? Numa pequena freguesia, quantos fregueses falam uns com os outros "sem nada na manga"? Quantas famílias são amigas das restantes famílias conhecidas, por exemplo, das idas "à fonte"? Quantas pessoas invejam o bem-estar dos filhos das demais? Quantas reparam no que se veste e não veste, que na grande cidade ignorariam?
Mas então e o lado bom? Os sorrisos de quem se estima? A saúde que, de perto, é mais fácil acompanhar? A eventual solidariedade?
Não sei. A multidão assusta, sabe-se. Mas, em muitos casos, pode ignorar-se.
Os pequenos núcleos têm virtudes; às vezes, têm AMIZADE. Mas ...Mas talvez a CULTURA seja a solução. Mas só se for a CULTURA DA TOLERÂNCIA. Essa talvez. Embora haja sempre uns que, na turma, tiveram 10 e outros que tiveram 18 ... e tendem em abusar dos que não o conseguiram. Etc, etc.
Não é fácil, por exemplo, escrever num blogue, necessariamente assinado. Mas isso é o menos. Tem visitas, não tem visitas. Melhor será que as tenha, mas se assim não for, não morre ninguém - e sempre, quem o alimenta, desabafa, fala para o éter. E para gente que a gente sabe que tem o privilégio de saber o que os outros pensam ... sem dizer o que pensa. Nem às paredes.
É a vida. Também neste espaço de multidões e de ninguém.
Mas
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