sexta-feira, 11 de maio de 2012
Os portugueses em França - anos 80 ( V )
"(...) Isto, evidentemente, como acentuei, sem falar da enorme importância da preservação da cultura portuguesa para além da segunda geração.Mas o filho do porteiro preferirá dizer bonjour (embora, em princípio, esteja preparado para optar para dar a salvação na lingua materna) enquanto o pai desejaria saudar os inquilinos do "seu" prédio com um bem português "bom dia", acrescentando, eventualmente, muito ao nosso velho jeito, um "Deus salve vossa mercê"... O espírito do "levar os meninos da senhora ao colégio" faz parte da nossa primeira leva de emigrantes para França, que apesar de amarem as suas origens e desejarem que os filhos falem português não os querem com nomes portugueses.
- Pretendo que o meu filho se chame Pierre!...
- Mas ... não pode ser, a lei portuguesa não permite. Terá de, aqui, para os registos oficiais, ficar Pedro ...
É o drama da integração, tanto mais fácil quanto mais próximo for tudo - até o nome - do que se "usa" em França. E, já agora, na aldeia Pedros há muitos, Pierres não ...
Com uma escala de prioridades que passa pelo automóvel, seguido da casa em Portugal, em simultâneo com a televisão a cores e o congelador em França, o português vai ficando a dar voltas ao miolo sobre o que há-de fazer quando regressar definitivamente - mesmo que isso nunca aconteça. Vive regressando, e
quando morre por certo a sua alma procurará movimentar-se, tanto quanto possível, por cima da aldeia que lhe foi berço... Porém, enquanto pertencer ao número dos vivos e andar para aí a sonhar, continuará fiel a si próprio, a informar-se, aqui e acolá, para ouvidos todos os pareceres sobre "o seu caso", adoptar soluções que previamente acertara com a "patroa" lá em casa, em terra estrangeira, onde, se entrou para ganhar dinheiro, apegado à boa cepa das origens, não pode ficar a perder ...
Entretanto, sem desvios, e como católico praticante que é, continua a contribuir para o equilíbrio demográfico da França. Há mesmo quem diga que contra os 1500 portugueses que morrem anualmente naquele país, só na região de Paris (não na Grande Paris) nascem, em média, 3500 a 4000 crianças. Isto enquanto em França já quase não há parturientes ... francesas. Em suma, Portugal cumpre mais uma vez a sua missão. Para além de tudo, ali crescemos e nos multiplicamos. Com a vantagem de termos, apesar de tudo, localmente direito a melhores abonos de família do que "cá em baixo", no nosso país."
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