domingo, 9 de setembro de 2012

Atrás das grades ( 3 ) - O teatro











A minha varanda com grades é uma espécie de camarote do Teatro D. Maria II, em Lisboa, com, apesar de tudo, uma diferença importante: neste espaço, embora pague Imposto Municipal para estar, faço-o apenas duas vezes por ano, tantas quantas as prestações a que as disposições oficiais obrigam. Mas é difícil lugar melhor e mais cómodo: vejo, oiço e imagino. Sobretudo, imagino, o que, a bem dizer, não tem preço. Por aqui, diria, de algum modo, desfila o quotidiano de quem passa, anónimo ou não. Limito-me a estar a apanhar ar ... Sem dormir.

Hoje, por exemplo, a uns dez metros das grades passou uma mulher, sozinha, que se queixava, em voz alta, da vida ... Pareceu-me que, no caso, a situação teria contornos graves. O que não percebi é se a mulher estava a falar consigo própria ou ao telemóvel ... Mas lá que, se não era, parecia, parecia grave: "ele sabe que me deixou dois filhos para ..."

E assim estamos nos intervalos dos oficiais discursos: a falar sozinhos. Na esperança que alguém nos oiça.

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