segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Movimento pró-Democracia em Macau?


by Ponto Final
Testemunha privilegiada dos protestos em Hong Kong, Macau poderá também ter em breve o seu despertar político, defende académico americano em artigo publicado na revista The Diplomat.
Hong Kong Occupy Central
Apesar da consciência política não ser muito evidente no seio da população de Macau, a RAEM não está imune aos ventos democráticos que sopram do outro lado do Delta do Rio das Pérolas. E a influência de Hong Kong dá uma energia reforçada ao activismo político e laboral em Macau, preparando o terreno para a eclosão do seu próprio movimento pró-democracia.
Esta tese é defendida pelo académico norte-americano David Gitter, da escola de Assuntos Internacionais da Universidade George Washington, em artigo publicado na revista The Diplomat.
No texto, recorda-se que a indignação popular manifestada a propósito do diploma do regime de incompatibilidades levou para as ruas de Macau cerca de 20 mil pessoas, obrigando o Chefe do Executivo Chui Sai On a ceder. O artigo, citando uma funcionária de um casino, sustenta que a população de Macau via antes os manifestantes pró-democracia em Hong Kong como agitadores, mas que começa a ter a percepção de que o activismo político pode conduzir a uma melhor governação e que “a mudança é possível se estivermos unidos”.
O texto cita também um dos organizadores do protesto, Sulu Sou, que embora tenha considerado a cedência do Governo uma vitória, não deixou também de defender que o problema da legislação impopular advém do “sistema político não-democrático que temos”.
Continuando a descrever acções que, na sua perspectiva, são sintoma de mudança política, o académico americano lembra que o referendo não-oficial promovido em Junho mostrou que 95 por cento dos votantes quer ver eleições directas em Macau, e sublinhou que a carência de recursos humanos e consequente crescimento do poder negocial dos trabalhadores da indústria do jogo fazem prever nos próximos tempos uma intensificação das manifestações laborais, como indica um relatório da Morgan Stanley.
A conjugação de todos estes factores, numa altura em que continua por resolver o impasse político em Hong Kong, “pode muito bem criar condições favoráveis à realização de manifestações políticas de massas, com apoio das associações laborais”. O académico norte-americano recorda, a propósito, que o operariado apoiou as manifestações estudantis na China em 1989 e que agora em Hong Kong “10 mil trabalhadores de todos os sectores mostraram-se solidários com o movimento Occupy Central, emprestando maior legitimidade à sua causa política”. David Gitter defende que “os trabalhadores de Macau podem eventualmente sentir-se inspirados a fazer o mesmo, ao serem testemunhas do modo como os seus compatriotas de Hong Kong se juntam aos milhares no apoio às liberdades políticas”.
O académico da Universidade George Washington considera ainda que por agora os cidadãos de Macau vão manter-se na expectativa, enquanto não se decide o futuro político de Hong Kong. “Ainda assim, Pequim e o mundo não devem simplesmente descartar a população de Macau como tendo uma orientação apolítica, já que pode bem cedo apostar que é tempo de fazer a democracia chegar”, conclui.
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