Augusto de Castro
escreveu "A Voz dum Papa"
(1810 - 1903)
"(...) Leão XIII, nascido ainda durante o agonizar da águia napoleónica, morreu nos primeiros anos do século actual. Viveu quase um século. Não o conheci, é claro. Mas a forte tradição que a sua personalidade deixou em Roma foi tal que posso dizer que frequentes vezes, entre as sombras do Vaticano - que durante vinte e cinco anos de Pontificado ele iluminou com o seu génio - encontrei a sua sombra branca, os seus olhos pequenos, negros, de ave inquieta, o seu perfil de medalhão e os ecos daquela voz incansável que, num momento, resumiu o mundo.
Tinha sessenta e sete anos quando o Conclave, em 1878, o elegeu Papa. Era já então o mesmo velho extremamente magro, pálido como um círio, o rosto de marfim, malicioso e vivo, que Zola nos havia de descrever dezoito anos mais tarde.
Um dia, tinha já passado os noventa anos, recebeu em audiência um sacerdote, seu amigo de infância e velho companheiro de Carpinato, que fora a Roma visitá-lo. À despedida, o pobre padre, prostrando-se aos pés do Papa, pediu a benção pontifical, dizendo comovido:
- Não nos tornaremos a ver, Santo Padre. Sinto-me morrer. Nas minhas orações, nada pedindo para mim, rogo sempre a Deus que permita que Vossa Santidade chegue aos cem anos.
- É bom não pôr limites à Misericórdia Divina - atalhou, sorrindo, Leão XIII, que ainda não se cansara de viver."
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