Nesta série de apontamentos a propósito de uma Volta ao Mundo (em ... 90 dias), é hoje a vez de aqui deixar, com parcimónia NETiana, um "testemunho" que, não sintetizando nada, me empurra para a exclusividade que lhe dou, fazendo, do mesmo passo, digo eu, apelo à leitura atenta de uma frase de Almada Negreiros, que também lembro...
Vamos à transcrição da prosa:
"EXIJO!"
"O ensino da língua portuguesa é peça vital da nossa estrutura de acompanhamento dos filhos dos emigrantes. Daí o interesse em ouvir um dos professores que, na Alemanha, o ministram às nossas crianças.
Para o efeito, contactei a Embaixada de Portugal em Bona e, em poucas horas, estava à fala com uma professora portuguesa de Dusseldorf, cidade de que, por ser um centro de maior concentração de compatriotas nossos naquele país, fizera o meu quartel-general para a colheita de elementos.
Assim, no mesmo dia em que, pessoalmente, dera conta, na nossa representação na capital da R.F.A.,do meu interesse, recebi no hotel o telefonema da professora, entretanto contactada pela embaixada portuguesa para o fim em vista. E logo se combinou que me deslocaria, por interesse recíproco de horários, à escola onde a professora leccionava as crianças portuguesas, aproveitando um intervalo das aulas, por volta das onze da manhã.
Chegado à escola, procurei de imediato a professora e tudo parecia ir decorrer com naturalidade. Porém, quando estavamos a combinar a sala em que o trabalho se efectuaria, entrou de repente a respectiva directora (que mais parecia um homem de saias...), que, desabridamente, quis saber o que se passava. Lá lho explicou a professora (que, aliás, é funcionária pública portuguesa, subsidiada pelas autoridades alemãs) sem, contudo, ter conseguido fazer acreditar a directora da impossibilidade de o ter feito mais cedo... Tudo "esclarecido", porém, foi posta à nossa disposição uma pequena sala e...e a entrevista iniciou-se...
Decorria a gravação há já uns minutos quando a srª directora do colégio volta a aparecer para, com um olhar desvairado, nos comunicar:
- "Stop", não continuem!... Acabo de falar, pelo telefone, com o director-geral da região que exige a presença desse senhor junto dele!... Só posso consentir a entrevista com uma autorização escrita.
Telefonei, de imediato, para o Consulado de Portugal a relatar o incidente a que, naturalmente, era alheio e, tudo esclarecido, saí...
"- Boa tarde, senhora directora. Agradeço que diga ao senhor director-geral que tinha muito prazer em falar com ele...mas, mas... tenho de partir hoje da Alemanha..."
A entrevista, entretanto, completou-se mais tarde no consulado português. E eu vim para Lisboa no dia seguinte, pensando no quanto deve ser, de facto, difícil a adaptação dos portugueses aos que se fazem respeitar - EXIGINDO."
Geneticamente, que eu saiba, português não é assim, noto agora... A verdade é que, acrescente-se, "naquele tempo", não estavámos, formalmente, na mesma secretaria europeia... E, a meu ver, a Alemanha tinha ainda tiques de que a "outra" Europa não gostava...
sexta-feira, 30 de abril de 2010
BOSTA
Popular: "...mas lembrando-se da esmerada educação que recebera na Suiça, disse porra não, chiça!..."
"Temos o sossego interior e temos a paz no estrangeiro; gozamos da liberdade política e da liberdade individual, e não obstante no País todo há um surdo descontentamento geral."
"( ... ) Está provado que pelo regime em que vivemos a dívida pública duplica invariavelmente de 15 em 15 anos. Portugal deve 54 mil contos mais do que devem, reunidos, todos os demais pequenos países da Europa - a Bélgica, a Suíça, a Dinamarca, a Grécia e a Noruega."
"( ... ) se em vez de grande dispêndio de prosa, Sua Majestade houvesse dito simplesmente: "Dignos pares e senhores deputados da nação portuguesa. Com o novo ano, que hoje começa, acho-me resolvido a começar nova vida. Tenho, portanto, a dizer-vos que, sendo a receita de Portugal de 26 193 contos de réis, uma parte desta soma será destinada a pagar os juros da dívida e a parte restante a satisfazer os encargos do Estado. Se estes encargos forem superiores aos rendimentos, o Estado que reduza os seus compromissos.Todo o ministro que, sob qualquer pretexto que seja, despender mais do que aquilo que o País possui será entregue aos tribunais como troca-tintas e ladrão. ( ... ) Está aberta a sessão."
in "As Farpas", de Ramalho Ortigão
"Temos o sossego interior e temos a paz no estrangeiro; gozamos da liberdade política e da liberdade individual, e não obstante no País todo há um surdo descontentamento geral."
"( ... ) Está provado que pelo regime em que vivemos a dívida pública duplica invariavelmente de 15 em 15 anos. Portugal deve 54 mil contos mais do que devem, reunidos, todos os demais pequenos países da Europa - a Bélgica, a Suíça, a Dinamarca, a Grécia e a Noruega."
"( ... ) se em vez de grande dispêndio de prosa, Sua Majestade houvesse dito simplesmente: "Dignos pares e senhores deputados da nação portuguesa. Com o novo ano, que hoje começa, acho-me resolvido a começar nova vida. Tenho, portanto, a dizer-vos que, sendo a receita de Portugal de 26 193 contos de réis, uma parte desta soma será destinada a pagar os juros da dívida e a parte restante a satisfazer os encargos do Estado. Se estes encargos forem superiores aos rendimentos, o Estado que reduza os seus compromissos.Todo o ministro que, sob qualquer pretexto que seja, despender mais do que aquilo que o País possui será entregue aos tribunais como troca-tintas e ladrão. ( ... ) Está aberta a sessão."
in "As Farpas", de Ramalho Ortigão
quinta-feira, 29 de abril de 2010
China 1980-Curta metragem a preto e branco (I) *
"Sete horas na China. Na República Popular da China. A que foi de Mao e teve um Bando dos Quatro - mau, dizem eles agora. Uma China mais aberta. Comunista, sem dúvida, mas gostando muito de Hong-Kong e de Macau. E também do restante mundo ocidental a que dedica um amor discreto, mas de que os soviéticos não parecem gostar.
Sete horas em território chinês. Com entrada pela Porta do Cerco, em Macau. Sessenta quilómetros e cinco horas de perguntas - ao povo: um motorista de primeira classe (filiado no PC local), uma guia turística que não devia ter mais do que a instrução primária (não filiada) e um responsável por um museu que afirmou ter instrução que deve ser correspondente ao nosso antigo sétimo ano do liceu (inscrito no partido).
De qualquer modo, se, como dizem, o comunismo se caracteriza por uma certa preocupação de igualdade, não há dúvida de que posso dizer que "vi" a China toda e que falei com os seus dez biliões de habitantes. Ou melhor: dialoguei com dez biliões menos trinta por cento, que são os analfabetos com quem não tive tempo de contactar. Mais precisamente, também não fui à fala com os seus dirigentes pardidários, que devem ser muitos...
De todas as maneiras, ao trocar impressões com as "bases", julgo ter tido o direito de não excluir as cúpulas das minhas perguntas. Que foram tantas e tão variadas quanto possível. E sem obediência a qualquer esquema prévio que não fosse o desejo de um esclarecimento amplo, que terminou com um abraço ao responsável pelo museu.
- Abracei o homem, não o comunista!...
Riu.
E - quase sem comentários - aí vão as perguntas e as respostas obtidas dos três elementos do povo que comigo conviveram desde as oito e meia da manhã até às três e meia da tarde de um dia nublado, algures na China.
- Comunismo chinês, comunismo soviético. Dois comunismos?
- Não é comunista quem invade outro país...
- Gostaria de ser rica?...
- Gostaria... mas não tenho coragem de pensar nisso...
- Barracas à beira do rio e mais além casas de bom aspecto exterior. Que dizem os das primeiras dos das segundas?
Assinatura adiante, em caracteres chineses, segundo um amável local.
Sete horas em território chinês. Com entrada pela Porta do Cerco, em Macau. Sessenta quilómetros e cinco horas de perguntas - ao povo: um motorista de primeira classe (filiado no PC local), uma guia turística que não devia ter mais do que a instrução primária (não filiada) e um responsável por um museu que afirmou ter instrução que deve ser correspondente ao nosso antigo sétimo ano do liceu (inscrito no partido).
De qualquer modo, se, como dizem, o comunismo se caracteriza por uma certa preocupação de igualdade, não há dúvida de que posso dizer que "vi" a China toda e que falei com os seus dez biliões de habitantes. Ou melhor: dialoguei com dez biliões menos trinta por cento, que são os analfabetos com quem não tive tempo de contactar. Mais precisamente, também não fui à fala com os seus dirigentes pardidários, que devem ser muitos...
De todas as maneiras, ao trocar impressões com as "bases", julgo ter tido o direito de não excluir as cúpulas das minhas perguntas. Que foram tantas e tão variadas quanto possível. E sem obediência a qualquer esquema prévio que não fosse o desejo de um esclarecimento amplo, que terminou com um abraço ao responsável pelo museu.
- Abracei o homem, não o comunista!...
Riu.
E - quase sem comentários - aí vão as perguntas e as respostas obtidas dos três elementos do povo que comigo conviveram desde as oito e meia da manhã até às três e meia da tarde de um dia nublado, algures na China.
- Comunismo chinês, comunismo soviético. Dois comunismos?
- Não é comunista quem invade outro país...
- Gostaria de ser rica?...
- Gostaria... mas não tenho coragem de pensar nisso...
- Barracas à beira do rio e mais além casas de bom aspecto exterior. Que dizem os das primeiras dos das segundas?
(sujeito a eventuais interrupções, esta é uma entrevista a "quase 10 biliões de chineses" que irei recordando, agora via NET, nos próximos tempos...).
* Entrevista publicada no suplemento "Sete Dias", do extinto jornal "O Dia"(cont.)
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Volta ao Mundo em 90 dias - Japão *
"É Japão, onde nasce a prata fina..."
Dissertando acerca do que foi dito, em Tóquio, durante o jantar com Mlle. Takano, em que se falou do Prof. Vitorino Nemésio, da existência de delegações da Sociedade Luso-Nipónica em várias cidades do Japão, de uma possível edição biligue de parte da obra de Eça de Queirós?
Ou lembrando diálogos?...
"- Sinto uma grande admiração pelos japoneses que proguidem mas não esquecem o que de bom têm as suas tradições... O japonês trabalha com o computador e extasia-se com as flores..."
"-Sim, é verdade, mas há muito de português nos nossos hábitos e maneira de ser..."
Cito-me (peço desculpa...):
"Tudo começa em 25 de Agosto de 1543. Os portugueses viajavam a caminho da China, mas "fustigados pelo mau tempo" vão parar a Tanegashima, no Japão, onde hoje a nossa memória está assinalada por cinco monumentos e um museu. Surge nessa altura a primeira arma de fogo no país do Sol Nascente e, a partir daí e durante largos anos, Portugal não mais deixa de fazer sentir a sua presença até 1630, data em que se verifica a expulsão definitiva dos portugueses, antecedida de massacres com origem em perseguições e na proibição do cristianismo.
Há, portanto, um longo período de interregno de que quase só Wenceslau de Morais, já muito próximo de nós, é excepção."
Entretanto, há palavras portuguesas que passaram a fazer parte do vocabulário japonês: banco, vidro tempero, pão e...e muitas mais. Já lá tivemos os nossos Francisco Xavier, Fernão Mendes Pinto, padre e médico Luís de Almeida...
E surge a pergunta: "será que Portugal, pioneiro nos Descobrimentos, ousado marinheiro nas Tormentas, se esqueceu do Oriente? A resposta, triste, a dar é a que parece: sim!"
Ou não?- pergunto eu, agora que estamos para cá do ano 2000. E deixo a resposta antiga do padre Jaime Coelho, que foi Leitor na Universidade da Sofia, em Tóquio: "Se Portugal produzir e tiver uma administração à maneira da Europa, for uma ponte eficiente de ligação com outros países não europeus e conservar a beleza da sua paisagem e do seu carácter - eu diria, do seu coração - então terá influência cada vez maior no Japão."
O que é que acha "disto" Senhor Presidente da República? Ou que é que pensa deste "desafio", Senhor Primeiro-Ministro?
Por aqui me fico. Não sei, neste meio provocador de resumos, actualizar melhor. Mas se, do que foi dito e escrito, está concretizado o essencial... tudo bem... Podem apagar as dúvidas. Caso contrário, fica aquele pedido quase idiota que aparece nos "mails" que nos enviam em nome de... : "lê e reencaminha para os teus amigos as boas sugestões que possas ter, se queres que não te lixem o juízo..."
É mais ou menos assim - em versão"light"...
* in "Os Portugueses no Mundo", de M.A.
Como é que, tendo estado no Japão no início de 1980, se sintetizam, hoje, na NET, as emoções então vividas no país do Sol Nascente?
"- Sinto uma grande admiração pelos japoneses que proguidem mas não esquecem o que de bom têm as suas tradições... O japonês trabalha com o computador e extasia-se com as flores..."
"-Sim, é verdade, mas há muito de português nos nossos hábitos e maneira de ser..."
Cito-me (peço desculpa...):
"Tudo começa em 25 de Agosto de 1543. Os portugueses viajavam a caminho da China, mas "fustigados pelo mau tempo" vão parar a Tanegashima, no Japão, onde hoje a nossa memória está assinalada por cinco monumentos e um museu. Surge nessa altura a primeira arma de fogo no país do Sol Nascente e, a partir daí e durante largos anos, Portugal não mais deixa de fazer sentir a sua presença até 1630, data em que se verifica a expulsão definitiva dos portugueses, antecedida de massacres com origem em perseguições e na proibição do cristianismo.
Há, portanto, um longo período de interregno de que quase só Wenceslau de Morais, já muito próximo de nós, é excepção."
Entretanto, há palavras portuguesas que passaram a fazer parte do vocabulário japonês: banco, vidro tempero, pão e...e muitas mais. Já lá tivemos os nossos Francisco Xavier, Fernão Mendes Pinto, padre e médico Luís de Almeida...
E surge a pergunta: "será que Portugal, pioneiro nos Descobrimentos, ousado marinheiro nas Tormentas, se esqueceu do Oriente? A resposta, triste, a dar é a que parece: sim!"
Ou não?- pergunto eu, agora que estamos para cá do ano 2000. E deixo a resposta antiga do padre Jaime Coelho, que foi Leitor na Universidade da Sofia, em Tóquio: "Se Portugal produzir e tiver uma administração à maneira da Europa, for uma ponte eficiente de ligação com outros países não europeus e conservar a beleza da sua paisagem e do seu carácter - eu diria, do seu coração - então terá influência cada vez maior no Japão."
O que é que acha "disto" Senhor Presidente da República? Ou que é que pensa deste "desafio", Senhor Primeiro-Ministro?
Por aqui me fico. Não sei, neste meio provocador de resumos, actualizar melhor. Mas se, do que foi dito e escrito, está concretizado o essencial... tudo bem... Podem apagar as dúvidas. Caso contrário, fica aquele pedido quase idiota que aparece nos "mails" que nos enviam em nome de... : "lê e reencaminha para os teus amigos as boas sugestões que possas ter, se queres que não te lixem o juízo..."
É mais ou menos assim - em versão"light"...
* in "Os Portugueses no Mundo", de M.A.
terça-feira, 27 de abril de 2010
BOSTA
"Ora os economistas... Mas é melhor citar J.B. Say, considerado como um dos publicistas que melhor têm compreendido e estudado o imposto. Diz:
"Quando os povos não gozam das vantagens que o imposto deve proporcionar-lhes, quando o sacrifício a que os submeteram não é contrabalançado por vantagens supervenientes, dá-se a iniquidade. Se a importância do tributo lhes não ministra um benefício que tenha o valor do tributo comete-se um roubo."
in "As Farpas", de Ramalho Ortigão
"Quando os povos não gozam das vantagens que o imposto deve proporcionar-lhes, quando o sacrifício a que os submeteram não é contrabalançado por vantagens supervenientes, dá-se a iniquidade. Se a importância do tributo lhes não ministra um benefício que tenha o valor do tributo comete-se um roubo."
in "As Farpas", de Ramalho Ortigão
in CARTAS À MINHA NETA *
Pode. Claro que pode. Mas não é assim sem mais nem menos... Talvez começando por... Nada disso: falemos, por exemplo, do uso (não te rias...) de brincos e nos cuidados que há que ter... ao furar as orelhas: os perigos de infecção, a irreversível novidade criada, uma certa violência sobre o corpo... Sem esquecer, é evidente, que essa afirmação de vontade é apenas uma gracinha para animar o espelho que... Mesmo que... Estava a lembrar-me dos "graffitis" que, dizem os autores quando admoestados, só "dão pica" se forem clandestinos... Não. Com as orelhas é diferente: o próprio não tem outras... Apesar da quase inocência do querer, confesso que não lhe vejo um bilhete de identidade que responsabilize, nem grandes preocupações imediatas ou a prazo... Nada... Não. Pode ser giro e, na idade apropriada, dar um toque... Sim!
Já os "piercings", bom, os "piercings", sobretudo, no umbigo, na língua... - mas os outros também são um pouco canibalescos...
Voltaremos ao assunto."
* a publicar ("Cartas do meu avô") quando houver um editor que não esteja falido e tenha netos. Bom dia, Facebook!
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Volta ao Mundo em 90 dias - Zaire *
Com os naturais cortes (estamos na NET...), "uma certa actualidade" do que, em Novembro de 1980, foi a "visita de médico" (anos depois, quase sem pressas ... repetida) a Kinshasa. Descontem-se-lhe, mesmo assim, alguns laivos de entusiasmo e...
"Não é a dimensão das comunidades que define a sua qualidade, como é óbvio. Os portugueses, muitos ou poucos, têm de comum tudo o que de bom e de mau os particulariza. Sem que as estatísticas existentes ajudem, admite-se que existam no Zaire cerca de seis mil compatriotas nossos. Gente que, fundamentalmente, se dedica ao comércio e que, de uma maneira geral, vive com desafogo, embora, sempre trabalhando "no duro". Uma vez mais, porém, há os outros (os belgas, os franceses e o branco, que é, na fala local, uma maneira simpática de nos denominar.
Uma viagem à volta do mundo para, quase em jeito de amostragem (a ida a todas as comunidades talvez levasse anos...), falar da presença dos portugueses é assim uma emoção indescritível, dando-nos bem a ideia - já o disse noutra oportunidade - de como "a obra é grande e o homem é pequeno".
Relatar, por isso, a forma como um simples representante de um jornal português foi recebido em Kinshasa, se é motivo de orgulho, é também tarefa extremamente difícil.
Desde logo, para resolver os eventuais problemas da chegada, tinha no aeroporto o Victor Antunes, eficiente e atencioso funcionário da embaixada de Portugal na capital zairense - e que útil ele foi!... Depois, do aeroporto N'Djili à cidade (cerca de vinte e cinco quilómetros), comecei a perceber as atenções que me estavam reservadas. Para começar, a marcação de hotel, que havia feito à partida de Lisboa, seria anulada: um português de Lei - Jaime Viana ( a minha homenagem, hoje póstuma, querido Amigo!) - tinha tudo preparado para me receber em sua própria casa. Inclusivamente, pensando-me com estada mais prolongada do que a que acabei por ter que ter, o nosso compatriota mandara arranjar um "stúdio" destinado a ser meu "quartel-general", onde não faltaria a máquina de escrever para trabalhar.
Portanto, qual hotel, nem meio hotel: em casa de uma família portuguesa, isso sim. Primeiro ponto.
A seguir - Embaixada. Recebido de imediato pelo nosso representante no país, Dr. António Baptista Martins, prosseguiram as emoções. Falámos, como era inevitável, de Portugal e dos portugueses com aquele entusiasmo (que me desculpem os aqui residentes...) de quem está fora do espaço físico lusitano. E chegou o primeiro convidado, Dr. António José Nogueira, que se juntou assim a um dos secretários da Embaixada, Dr. Fernando Ramos Machado, que, antes, aparecera no convívio.(...) Falava-se Portugal.
(...) "- E Goa, como encontrou Goa? E Macau? Olhe, como é que vão as coisas por Lisboa?..."
(...) Estivemos em Marvão e em Angola, Campo Maior e Goa. Em Portalegre e no Japão.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
(...) Caminhava para a uma hora da madrugada quando Jaime Viana, desejoso de me dar uma visão do meio tão completa quanto o tempo de que dispunhamos permitia, destravou o seu carro em direcção ao casino da cidade para aí vermos como brancos e negros se não distinguem na ânsia da vitória ao jogo, a que também não faltam as senhoras de cor com os seus penteados em forma de antena colectiva de televisão - com UHF e VHF...
Dir-se-ia que o serão estava terminado quando o meu cicerone e amigo Viana se lembra de visitar a "boite" "Le Chateau" onde, sem distinção de raças, se "rebolava o caneco" em frenética agitação ocidentalizada. Eram três da manhã. O avião para Dakar, meu destino seguinte, partia às oito. Contudo, ainda se arranjou folgo para ir para casa conversar da minha volta ao mundo (...)
- Como é tudo isso possível?- perguntarão alguns estrangeiros.
"Não é a dimensão das comunidades que define a sua qualidade, como é óbvio. Os portugueses, muitos ou poucos, têm de comum tudo o que de bom e de mau os particulariza. Sem que as estatísticas existentes ajudem, admite-se que existam no Zaire cerca de seis mil compatriotas nossos. Gente que, fundamentalmente, se dedica ao comércio e que, de uma maneira geral, vive com desafogo, embora, sempre trabalhando "no duro". Uma vez mais, porém, há os outros (os belgas, os franceses e o branco, que é, na fala local, uma maneira simpática de nos denominar.
Uma viagem à volta do mundo para, quase em jeito de amostragem (a ida a todas as comunidades talvez levasse anos...), falar da presença dos portugueses é assim uma emoção indescritível, dando-nos bem a ideia - já o disse noutra oportunidade - de como "a obra é grande e o homem é pequeno".
Relatar, por isso, a forma como um simples representante de um jornal português foi recebido em Kinshasa, se é motivo de orgulho, é também tarefa extremamente difícil.
Desde logo, para resolver os eventuais problemas da chegada, tinha no aeroporto o Victor Antunes, eficiente e atencioso funcionário da embaixada de Portugal na capital zairense - e que útil ele foi!... Depois, do aeroporto N'Djili à cidade (cerca de vinte e cinco quilómetros), comecei a perceber as atenções que me estavam reservadas. Para começar, a marcação de hotel, que havia feito à partida de Lisboa, seria anulada: um português de Lei - Jaime Viana ( a minha homenagem, hoje póstuma, querido Amigo!) - tinha tudo preparado para me receber em sua própria casa. Inclusivamente, pensando-me com estada mais prolongada do que a que acabei por ter que ter, o nosso compatriota mandara arranjar um "stúdio" destinado a ser meu "quartel-general", onde não faltaria a máquina de escrever para trabalhar.
Portanto, qual hotel, nem meio hotel: em casa de uma família portuguesa, isso sim. Primeiro ponto.
A seguir - Embaixada. Recebido de imediato pelo nosso representante no país, Dr. António Baptista Martins, prosseguiram as emoções. Falámos, como era inevitável, de Portugal e dos portugueses com aquele entusiasmo (que me desculpem os aqui residentes...) de quem está fora do espaço físico lusitano. E chegou o primeiro convidado, Dr. António José Nogueira, que se juntou assim a um dos secretários da Embaixada, Dr. Fernando Ramos Machado, que, antes, aparecera no convívio.(...) Falava-se Portugal.
(...) "- E Goa, como encontrou Goa? E Macau? Olhe, como é que vão as coisas por Lisboa?..."
(...) Estivemos em Marvão e em Angola, Campo Maior e Goa. Em Portalegre e no Japão.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
(...) Caminhava para a uma hora da madrugada quando Jaime Viana, desejoso de me dar uma visão do meio tão completa quanto o tempo de que dispunhamos permitia, destravou o seu carro em direcção ao casino da cidade para aí vermos como brancos e negros se não distinguem na ânsia da vitória ao jogo, a que também não faltam as senhoras de cor com os seus penteados em forma de antena colectiva de televisão - com UHF e VHF...
Dir-se-ia que o serão estava terminado quando o meu cicerone e amigo Viana se lembra de visitar a "boite" "Le Chateau" onde, sem distinção de raças, se "rebolava o caneco" em frenética agitação ocidentalizada. Eram três da manhã. O avião para Dakar, meu destino seguinte, partia às oito. Contudo, ainda se arranjou folgo para ir para casa conversar da minha volta ao mundo (...)
- Como é tudo isso possível?- perguntarão alguns estrangeiros.
Como referi anteriormente, voltei ao Zaire, da minha emoção, anos depois. Não foi fácil o visto, mas os de Mobutu lá mo acabaram por dar quando, em Lisboa, faltavam ... duas horas para apanhar o avião, ao encontro do luso entusiasmo que já tivera oportunidade de conhecer.
* Actual República Democrática do Congo.In "Os Portugueses no Mundo", de M.A.
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