quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Década de 80: Portugal e o Mercado Comum ( II ) *

Jorge Borges de Macedo, historiador...

"(...) A principal dificuldade da nossa "abertura" à Europa, que sempre foi uma realidade, está (...) no abaixamento das nossas capacidades de recusa política e social. Resulta, sobretudo, na natureza artificiosa e sedenta dos nossos políticos, inclinados, quase sem excepção, a pensarem no que avulta em Paris, Londres, Nova Iorque ou Moscovo, e a desinteressarem-se, em nome das grandes razões, dos motivos nacionais que, para quase todos eles, não têm, nem podem ter, a dimensão daquelas grandes razões que os empolam e julgaram ter aprendido.


No seu verdadeiro analfabetismo, não sabem transferi-las para a escala nacional, quando devia ser para isso que o País os poderia sustentar.


O Mercado Comum, na propaganda acéfala que dele se faz em Portugal, mas indo bem ao encontro de uma certa mentalidade da classe média portuguesa, fala muito de futuro, a única moeda que não serve para nada: se o futuro não for o que se diz que virá a ser, quem paga a factura do erro? Mas o português "culto" nunca conseguiu perceber que a única coisa que temos do futuro é o presente. E esse aconselha a maior cautela relativamente às promessas dos outros, apesar de tudo, por interesse dos seus próprios países, têm sido, em muitos casos, honestos nas prevenções que nos fazem. Alguns de nós é que só ouvem o que lhes convém.


(...) A mania do Mercado Comum é uma doença que limita a imaginação de muitos responsáveis portugueses, que, por causa dele, se desinteressam, como se fosse um problema menor, da sorte da indústria farmacêutica ou das indústrias alimentares, ou da importância fundamental, para a independência económica, dos quadros médios estáveis que, no mercado do trabalho europeu, não podemos garantir."


... escreveu.

* in "Os Portugueses no Mundo", de M.A.

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