"Escancarada, aí temos agora, todos os dias, a guerra que, sem espaventos, foi travada pelos jornais que, ao longo dos anos, baquearam sem dó nem piedade, na luta por um lugar ao sol na Comunicação Social portuguesa. Uns caíram de pé, outros não, mas muitos foram os que não aguentaram a livre concorrência em que viveram. Foi, no entanto, talvez na maior parte, uma agonia calada, um esbracejar apenas notado pelos mais atentos, eventualmente, leitores regulares de folhas de papel impressas, feitas jornal. Não deu muito nas vistas - a não ser quando, na hora do enterro, se transformaram em notícia ... nos outros jornais (impiedosos e oportunos ...), na rádio e ... na televisão.
Ditas, entretanto, todas as santas missas pelas folhas mortas, começa a verificar-se um fenómeno novo: o combate encarniçado entre as indisfarçáveis televisões que temos: maior audiência, maior divulgação do bom e do mau. Falta de espaço, portanto, para óbitos envergonhados ... Desde logo, ser televisão não é tirar 10, 20 000 exemplares e depois acabar ... Ser televisão é existir, ou falecer de pé, diante de toda a gente. Jamais vergar.
Os dos jornais, que dão vivas às velhas e às recém-chegadas televisões, filhas da luta pelo poder, gostariam, sobretudo, de não as ver soçobrar de joelhos ...
Admito que se esteja no pós-parto de uma nova conjuntura (e esta hein?!...). Contudo, pelo andar da carruagem, a coisa vai complicar-se. A publicidade é sempre escassa, quando os comensais são muitos e a crise ronda a porta.
Os canais de que passámos a dispor brigam à vista de todos nós e, até ao momento, estão a oferecer-nos um mau espectáculo ... Ao menos, a Imprensa é mais discreta - mesmo quando tem "morte anunciada".
Por favor, ponham-se de pé, filhos da luta!"
* publicado no Diário de Coimbra em 13 de Dezembro de 1992
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