quinta-feira, 15 de maio de 2014

Clemente, ALFAIATE DE PRESIDENTES






Clement  

VENEZUELA  








o alfaiate de Kennedy, 

Chávez e Cavaco

A fama do português Álvaro Clemente 


"Não se fica por Caracas. A lista de clientes estende-se dos EUA a Portugal. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, já foi um dos principais clientes da alfaitaria Mansion Clement, a melhor da Venezuela, criada nos anos 60 por Clemente.

A alfaiataria tem a loja principal na Avenida da Califórnia, em Caracas. “O presidente ia sempre à nossa loja do hotel Tamanaco comprar camisas ‘Brioni’, que são italianas. Depois, passou a vestir os nossos fatos”, lembra um administrador da Mansion Clement. Estávamos em 1997 e Chávez disputava as eleições para a presidência. Depois de ter estado preso por uma tentativa de golpe de Estado falhado, Chávez precisava de cuidar do visual. “Como andava em campanha e num grande corrupio não tinha tempo para vir aqui à loja fazer a prova dos fatos. Ia o senhor Álvaro a casa dele ou, então, pedíamos ao nosso alfaiate chefe. Era muito simpático e carismático. Não tinha nada a ver com o que aparece agora na televisão”, confidencia o administrador.
A mudança de imagem deu resultado e Hugo acabaria por ser eleito presidente. “Detestava os fatos pretos. Dessa cor não queria nenhum”, conta. No espaço de dois anos, entre 1997 e 2000, a Mansion Clement confeccionou 70 fatos para o presidente.

A partir do momento em que foi eleito presidente, Chávez foi encomendando cada vez menos fatos. Nos primeiros meses de mandato foi substituindo lentamente as calças e o blaser por uniformes militares. O alfaiate chefe deslocava-se ao palácio de Miraflores para lhe tirar as medidas. “Até que um dia, em 2004, nunca mais nos pediu nada. Tanto ele, como os políticos do governo deixaram de comprar fatos na nossa loja. Presumo que agora os compram no estrangeiro”, conta o administrador.

A alfaiataria é um dos estabelecimentos mais luxuosos da cidade. E contrasta com quase todas as lojas de Caracas. O design exterior do edifício é tipicamente americano dos anos 50, o porteiro César faz sempre a gentileza de abrir a porta e existe um parque de estacionamento exclusivo para os clientes. No interior da loja, os funcionários vestem fato e gravata e têm o cabelo impecavelmente arranjado. Hoje, os clientes são sobretudo empresários estrangeiros e venezuelanos. Estes últimos cada vez menos conservadores, segundo Ivanova Clemente, filha do dono e de Luba, uma descendente de ucranianos.
Um fato à medida custa 2.300 euros, mas se for pronto-a-vestir baixa para os 1300 euros.

Outro dos clientes mais famosos que vestiram fatos de Clemente foi o antigo presidente norte-americano John F. Kennedy, que em 1961 visitou oficialmente a Venezuela. Nesse dia, encontrou-se com o presidente da Venezuela à época e ficou encantando com o fato dele. Este respondeu-lhe que era obra de um alfaiate português. O americano pediu imediatamente para o conhecer. “O Clemente foi ter com o Kennedy ao hotel Tamanaco, tirou-lhe as medidas e tivemos de lhe fazer três fatos de fazenda em 48 horas. Pusemos todos os empregados a trabalhar de dia e de noite”, lembra o administrador.

O momento chave na vida e nos negócios de Álvaro Clemente aconteceu em 1960. Nesse ano, o presidente Betancourt sofreu um atentado levado a cabo pelo ex-general Trujillo. Ficou com queimaduras graves, mas não quis dar parte fraca e precisava de aparecer na televisão para se mostrar ao povo. Como os braços e as mãos estavam envoltos em ligaduras tornava-se impossível vestir os casacos que tinha. “Ligou, desesperado, ao Álvaro e pediu-lhe um fato novo em 24 horas”, lembra o administrador. O alfaite português só tinha uma solução: fazer um casaco em que as mangas, a parte da frente e a parte traseira do casaco teriam de estar ligadas por fechos éclair. Depois de 20 horas consecutivas de trabalho, o alfaiate foi encontrar-se com o presidente, vestiu-lhe oblazer, e o “Betancourt apareceu na televisão e foi um êxito. Deu uma enorme sensação de segurança à população”, afirma o administrador. A partir desse momento, Clemente tornou-se o alfaiate mais famoso da capital. A fama acabaria por chegar também a Portugal e ao longo dos anos 80 e 90 foram aparecendo clientes como os antigos presidentes da República Mário Soares e Jorge Sampaio e o actual, Cavaco Silva. Todos eles foram à loja da Avenida Califórnia tirar medidas.

Além de alfaiate e empresário, Clemente foi fundador e presidente da Câmara de Comércio Luso-Venezuelana, fez parte da direcção do “La Voz” e da “Hombre de Mundo” e ainda pertenceu à comissão que ergueu uma estátua de Símon Bolívar em Lisboa. Actualmente, é um dos presidentes da Confederação Internacional dos Empresários Portugueses. Natural de Loulé, foi um dos poucos portugueses a frequentar as festas dojet-set venezuelano. Condecorado com as maiores condecorações que se podem atribuir a um cidadão venezuelano, foi durante anos presença obrigatória no júri do concurso Miss Venezuela, falava frequentemente na televisão sobre moda e era amigo de políticos, artistas e toureiros. Hoje, cansado do país, só lá vai duas vezes por ano para visitar a família, tratar de negócios e cumprimentar o porteiro César, que há mais de 40 anos guarda a alfaiataria".

Não será abuso, mas apetece-me chamar-lhe gentileza - mesmo a jeito num espaço, num blogue aqui vizinho, publicado em 15 de Maio de 2008: Álvaro Clemente, alfaiate e ... e, à sua maneira, diplomata. 

Lembrei-me dele, em Lisboa, ao descer a avenida da Liberdade, onde Bolivar tem estátua e Clement terá sido, no caso, homem de influência luso-venezuelana.


Porquê Bolivar ali? Porquê Clement, o louletano, alfaiate de presidentes e cidadão politicamente activo na avenida onde se devia apenas festejar a lusa liberdade?...


A história dos países tem momentos assim ... Que viva Bolívar! E, já agora, Clement, alfaiate-diplomata. Diplomata - talvez seja isso. Diplomata pela universidade que lhe deu desenho e engenho para ser "o maior ..." 


Que, pessoalmente, gostaria agora muchisimo de cumprimentar, lembrando os tempos em que, em Caracas, o entrevistei, enquanto "figura incontornável" da comunidade portuguesa numa Venezuela diferente da que hoje rezam as crónicas.





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