A questão dos BIR é a que mais preocupa a comunidade de Macau mas as expectativas de que Cavaco Silva contribua para uma solução são poucas.
Inês Santinhos Gonçalves
A quatro dias da chegada do Presidente da República de Portugal, portugueses e macaenses mostram-se pouco entusiasmados com a visita e não acreditam que Cavaco Silva possa contribuir para resolver problemas, quer sejam a dificuldade na obtenção de Bilhete de Identidade de Residente (BIR), quer no apoio aos pensionistas da antiga Administração.
“Deixei de esperar fosse o que fosse dos responsáveis políticos da República. Já me mostraram que não vão fazer coisa nenhuma”, lamenta Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses.
“É uma visita de cortesia, não se pode ter grandes expectativas”, diz a presidente da Casa de Portugal.
Amélia António acredita que Cavaco Silva vem à China com intuitos marcadamente económicos e a sua passagem por Macau é apenas “um complemento”. “Não cairia bem que viesse à China e não passasse por Macau”, diz. Até o encontro com o Chefe do Executivo será, na sua opinião, “de cortesia, uma reafirmação de simpatia”, mas não “de análise de dossier”.
A presidente da Casa de Portugal gostava de ver a questão da dificuldade na obtenção de autorização de residência para portugueses “desbloqueada”, mas não tem esperança de que o Presidente contribua para a solução. “Duvido que seja matéria que o Presidente vá abordar especificamente. Deve ter conhecimento e pode manifestar interesse em ver o assunto mais desbloqueado. Há muitas maneiras de passar recados de forma diplomática. Mas que seja um assunto de agenda, não acredito”, afirma.
No geral, o entusiasmo com a vinda de Cavaco Silva não é grande, considera
Amélia António: “Não vem cá um Presidente a toda a hora. É natural que os portugueses sentissem alguma expectativa mas por outro lado estão muito desgastados com as presenças oficiais que têm vindo ao longo dos anos e que têm sido desoladoras”.
O problema dos BIR preocupa também Senna Fernandes. “Há muita gente que quer voltar e a facilidade que havia parece não existir mais. [Os portugueses] são tratados como qualquer outro estrangeiro. A comunidade portuguesa está cá há tantos séculos que justificaria um tipo de excepção. Espero que o Presidente da República tenha isso em mente e fale às autoridades competentes”, defende.
Mas mais uma vez são poucas as expectativas. “Não estou a ver o Presidente da República a conseguir interferir em assuntos internos da RAEM. Era bom que tentasse, mas se não o fizer também não há problema porque já estamos à espera”, comenta.
Pelo fim dos cortes para os aposentados
Para Pereira Coutinho “a prioridade das prioridades” é resolver a questão dos BIR e já lançou mesmo um apelo a Cavaco Silva para intervir. No entanto, o presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau lembra também que “os aposentados em Macau têm sofrido e não recebem os benefícios e apoios sociais que há em Portugal. Queremos que as pensões sejam actualizadas e acabem os cortes”. O deputado referia-se aos aposentados da antiga Administração Portuguesa, que mesmo vivendo em Macau têm sido abrangidos pelos cortes em Portugal.
A mesma preocupação tem Francisco Manhão, presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau: “Estamos a pagar a Contribuição Extraordinária de Solidariedade. Espero que não introduzam mais cortes”.
Manhão levanta ainda a questão da morosidade da burocracia em Portugal. “A pensão de sobrevivência demora quase um ano a ser paga. Tem de ser tudo emitido por Portugal, não aceitam documentos emitidos por Macau”, queixa-se.
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