sexta-feira, 4 de maio de 2012

"Ferry Street a rua mais portuguesa da América" *

* do livro COISAS da LUSOLÂNDIA, de Eduardo Mayone Dias


Na Ferry Street "passeei", ao serviço não me lembro de que jornal, uma violenta gripe (quase pneumonia, penso) apanhada no trajecto diário entre uma apelativa Nova Iorque e a "rua mais portuguesa da América". O que ficou desse percurso apaixonado, a saúde pouco permitiu...  Salva-me agora, com a devida vénia, a única e, por certo rigorosa, informação disponível da autoria do Prof. Doutor Eduardo Mayone Dias, de que tomo a liberdade de transcrever brevíssima passagem para assinalar ... para assinalar uma rua como não há outra, a não ser, talvez, em Toronto, onde conheci pessoalmente Henrique Mendes, então em período delicado da sua vida profissional. Mas adiante ...


Ferry Street: "...fica em Newark, ali a vinte minutos dos arranha-céus de New York. É uma rua com um certo ar de pobreza, escura e tristonha, mal amenizada por meia dúzia de árvores que florescem palidamente na Primavera. Nos passeios amontoam-se himalaias de sacos de lixo, ameaçando tombar sobre os transeuntes que vão passando sem grandes pressas. Pelo chão papéis e restos de jornais.

Newark é uma cidade de quase 400 000 habitantes, 63 por cento deles negros, que vivem de actividades fabris e portuárias. Blocos de apartamentos construídos há meses apenas têm já janelas quebradas e um aspecto de irremediável degradação. Homens escuros, mal vestidos, sem dúvida encharcados de "bourbon" ou de droga, jazem estendidos nos degraus da estação. Passa um grupo de "Anjos da Guarda", jovens de boina vermelha, treinados em artes marciais, que patrulham os comboios e o metro para proteger os passageiros dos constantes assaltos que sofrem. No centro da cidade é impossível andar à noite sem grave risco para a carteira e para a integridade da epiderme e tecidos musculares subjacentes.

Em Newark vivem 60 000 portugueses, gente da Murtosa, do Minho, da Madeira e dos Açores. Concentram-se sobretudo num bairro chamado Ironbound, separado pela via férrea da zona negra da cidade. E Ferry Street é o grande eixo comercial e social do Ironbound. Se descontarmos a presença de alguns espanhóis e cubanos que por aqui abriram lojas e restaurante, Ferry Street é uma rua portuguesa."

A pergunta: como é hoje a Ferry Street? Continua assustadora como quando lá fui ao encontro dos portugueses que sempre que me atrasavam no regresso a NY, e já noite, me levavam até à paragem de autocarro e donde só saiam quando me viam partir?... Ou já não é assim? ...

O que sei é que, para além da gripe, Ferry Street e ruas adjacentes é responsável pelo que não vi em Nova Iorque. Mas era lá que estávamos.Em lusa humildade. E é, por isso, tudo quanto, com ajuda, posso escrever. Agora.

Sem comentários :

Enviar um comentário

Seguidores