domingo, 17 de abril de 2016

A propósito do lado bom dos internamentos hospitalares


Descobre que alguém gosta de o ouvir e naquele tu-cá-tu-lá em que o tempo sublima a conversa, e, pouco a pouco, o paleio que trazia consigo transforma-se numa espécie de "testamento oral" para quem quer ouvir. E fica-se por ali, hospital a tratar com injecções o que pode, mas, sobretudo, a receber ouvidos que oiçam histórias, eventualmente, contadas e recontadas enquanto os da enfermagem cumprem as instruções que lhes são deixadas em letra de médico com nomes que os INFERMEDES bem conhecem. E passam-se horas sem que as dores e as febres, na aparência, tenham espaço para afirmações próprias. As enfermarias são lugares, transformam-se assim em lugares, de revisão do que a vida deu, ou levou.
E a dor, as dores assustam-se e escondem-se onde podem nos silêncios a haver por força de uma certa disciplina colectiva imposta pelos remédios que fazem o que podem para que a conversa não se generalize e a enfermaria não se transforme numa espécie de plenário à revelia dos médicos de serviço.

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