quarta-feira, 27 de abril de 2016

Do lido, o sublinhado (85): Um velho *

* De Konstandinos Kavafis (lido pelo signatário deste espaço numa Comunidade de Leitores, coordenada por Helena Vasconcelos, em Junho de 2005)



No café no lugar de dentro na zoeira turva 
senta-se um velho na mesa se curva;
com um jornal diante dele, sem companhia.

E no desdém da velhice miserável

pensa como tão pouco o tempo deleitável
em que força, e eloquência, e beleza possuía.

Sabe que envelheceu muito; sente-o, é visível

E contudo o tempo em que era novo ao mesmo nível
do de ontem. Que espaço apressado, que espaço apressado.

E considera como burlava dele a Prudência;

e como nela tinha confiança sempre - que demência! -
a perjura que dizia: "Amanhã. O tempo é demorado"

Lembra-se de impulsos a que punha freio; e sem medida

a alegria que sacrificava. Cada história perdida
agora troça da sua desmiolada sageza.

... Mas do muito que foi pensando e não esquece

o velho atordoou-se. E adormece
no café apoiado sobre a mesa.




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