domingo, 2 de dezembro de 2012

Apelo

1950, por aí ... Salazar no poder. Lisboa, calçada do Combro, os livros em segunda mão. O liceu, o curso Comercial, o Industrial, o trabalho três dias por semana. As propinas escolares a doer. Os livros em segunda mão. Os livros em terceira mão. As meias solas nos sapatos. O sabão azul e branco para a roupa e para lavar a cara e os pés. As roupas de pais adaptadas para quem era possível dar um jeito ... As "casas ricas" e a caridadezinha. A "casa do senhor doutor".O jornal ao domingo.O ranho no nariz. A janela como se fosse um grande S. Pedro de Alcântara com vista para o castelo. A varina que passa. Os bigodes do polícia. O molho de chaves do guarda-nocturno. Os pregões. O jardim, a banda dos bombeiros voluntários: a festa. 

Daqui para a vida como pode vir a ser, só que agora num cenário maior, com um  écran panorâmico onde se consiga ver, não só Lisboa, mas Madrid, Atenas, quem sabe se ... se a Europa toda. Uma Europa em exposição temporária, quiçá, mas uma Europa com tudo o que tínhamos aqui de castiço nos anos 50, mas onde até o mercado se possa dizer comum - e não aquela saloiice do da Ribeira alfacinha que era o comum, sim senhor, mas dos pobres.Uma coisa em bom!

Recomecemos, por isso e para já, em clima de austeridade: correndo o risco de tirar à vida todo o castiço,  regressemos aos anos 50 - mas em liberdade, que é para a gente, ao menos, ganhar alguma coisa, poder manifestar-se em frente das Cortes e, calhando, noutros lados. Pobrezinhos, mas ordeiros.E sem PIDES, sem o marido da ... da ... que, salvo erro, até tinha sido legionário ... 

Paguemos as propinas, sim, claro. Voltemos ao azul e branco, sim, mas embalado, já agora. Estudemos após múltiplos olhares d'outros, não faz mal, mas no computador do vizinho,  e oiça-se o telejornal das oito no clube do bairro, que é quanto basta para se saberem as principais notícias, sem esquecer que se pode ler o jornal na montra de várias tabacarias ou papelarias, um pouco por todo o lado.

PORTUGAL GIGANTE, a HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO, como nas edições exemplificadas na imagem. Em segunda mão, se não se conseguir de outra maneira. Um passo de cada vez.


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