terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Espécie de poema para um "nado-morto"











Ausentou-se, consultou médicos e boticários, ouviu gente que dizia conhecer, pensou, tanto quanto a cabeça lho permitiu, e um dia, encheu-se de uma espécie da coragem que nunca tinha tido, e disse: "morri! O que julgas ver é a imagem de um nado-morto."

Ainda lhe disseram que não, que não tinha morrido, mas ele foi a uma gaveta e mostrou tudo: "estão aqui os relatórios que dizem que morri, que sou o cadáver que sempre fui..."

"Mas eu sinto que me observas, que pareces estar dentro do corpo que julgo ter conhecido ..."

"Não! Quem te olha não é aquele que, desajeitado embora, te disse, em tempos de virgindade, que era teu, teu para sempre. Não, não! Menti! Eu hoje, mais do que nunca, com os anos, tento parecer um homem para te dizer a verdade sem disfarces: sou o cadáver que sempre fui, mas que quer deixar-te enquanto ainda te possa parecer um homem.

Adeus! Sê feliz, tenta ser feliz, em ti e no prolongamento que juntos concebemos, na mentira da vida, quase inocentes, na antecâmara desta morte invisível de que tenho sido portador quase às escondidas.

Estou morto! Adeus! Até sempre! Os médicos te dirão o resto."

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