terça-feira, 3 de maio de 2011

Em jeito de balanço

Sentei-me aqui a primeira vez no Dia de Finados de 2009, isto é, 1 de Novembro de 2009. Disseram-me que era um local aprazível e eu, que não sou superstioso, vim e sentei-me ... Para fazer duas ou três coisas: sem pedir nada a ninguém, sem ganhar materialmente o que quer que fosse, com serenidade, lembrar/registar o passado, desenterrar o passado, cultivar a memória - num mundo desvairado, amnésico, por vezes, estúpido, mais dado ao imediatismo vedetoide de um FACEBOOK telegráfico, do que a aproximações culturais eventualmente provocadoras de regressos às fontes que são as bibliotecas, onde o SABER, aí sim, espera a honestidade intelectual do aprofundar as coisas...

Numa palavra: estou aqui para provocar. Provocar, como sei, o que sinto faltar aos cidadãos: vontade de LER.

Exemplifico sem ares professorais: se cito um poeta, gostaria de o saber "estudado";

se cultivo "Canteiros de palavras", tento relembrar autores e trechos que, a meu ver, o merecem;

se, directa ou indirectamente, "casco" nos políticos, limito-me a soltar uma ponta do discurso que vale apenas um voto, mas pode ajudar um eventual indeciso;

se lembro pormenores do meu passado é porque sou avô, numa sociedade que é de consumo - e pouco mais ...

Se me atrevo a fazer fotomontagens é porque as aprendi no Jornal Novo, com Artur Portela, e as acho, por vezes, excelentes sínteses;

se ouso publicar fotografias, por vezes, sem legenda, é porque sei não haver vedetismo nos fotografados ou vejo beleza quase oculta no surpreendido;

se a coisa, não raro, sai apontamento/crónica é porque aqui sou livre, que é o que desejo que todos sejam ...

Se vou à NET "à pesca" do insólito, do belo, do menos visto, é por isso mesmo:  "provocação", tentativa de aproximação ao que, observado mais tarde, com outra profundidade, pode ser divertido ou merecedor do eventual interesse acrescido ...

Se escrevo é porque, além de gostar, sinto que caminhamos para um analfabetismo culto, para uma sociedade em três linhas, para uma sociedade com muitas edições e poucos livros ...

No fundo, escrevo ... escrevo para que não me leiam... Já que, às vezes, o que me dá ideia é que também já "embarquei" no universo dos "mails" que repetem conselhos como quem receita aspirinas - que não curam, embora possam aliviar, ou alertar ...

Tudo somado, o que sei é que vivo hoje numa sociedade cheia de farmácias, mas cada vez mais doente - ou doente como nunca, isto é, rodeada de antibióticos.

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