quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

gutta cavat lapidem

RECOMEÇAR Viva 2014!

Tenho a certeza de que fui criado com as palavras mais bonitas que havia no vocabulário escasso de quem me embalou o crescimento.

Tenho a certeza de que cresci no meio dos sonhos que vinham nos livros que não tinha. Recordo-me das revistas inglesas que, depois de vistas, serviam para pôr debaixo do capacho que tínhamos à entrada da casa para limpar as solas dos sapatos.

Tenho a certeza de que os livros mais importantes que li, depois dos da Primária, que tinham textos que os políticos haviam encomendado aos pedagogos/políticos, foram os que me emprestou o sr. Lima, que era escriturário no meu primeiro emprego, e filho de um jornalista famoso na época.

Tenho a certeza de que as coisas da vida, que não tinham vindo com o leite materno, me foram ensinadas por um antigo capitão do exército, que adorava armas e que sabia falar do mundo como poucos ...

Tenho a certeza de que o primeiro dinheiro que ganhei não passou das centenas de escudos, que entreguei, depois de me terem feito descontos vários, a minha mãe, para juntar ao que, de segunda a sexta, ganhava meu pai e minha mãe de vez em quando ...

Tenho a certeza de que foi no jardim mais próximo de minha casa, em Lisboa, que criei as sementes que me fazem gostar de estar aqui - onde sempre disse não querer pôr um dedo que fosse ...

Tenho a certeza de que, se não mo proibirem, é aqui que farei o resto da história a que os livros que publiquei e as palavras ditas, ou sonhadas não chegaram.

Tenho a certeza de que é aqui que, de futuro, continuarei a tentar recrear as viagens que me deixaram fazer.

Tenho a certeza de que é aqui que darei ainda não sei quantas voltas ao mundo ...

Tenho a certeza de que, sem saber por falta de quê, é aqui que ficará sem destino predeterminado, uma parte significativa do que houver a dizer - provocado ou não pelos factos ou por conversas em que possa ter sido impossível entrar ...

Tenho a certeza de que isto é importante para os que, a sério, a brincar ou em nome de sabe-se lá de quê, me acharem desmemoriado ...

gutta cavat lapidem





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