domingo, 26 de abril de 2015

0 25 de Abril visto de Macau



by PONTO FINAL

Vivida à distância e sem o mesmo entusiasmo que gerou em Lisboa, a Revolução dos Cravos também foi benéfica para Macau.
Rodrigo de Matos



Embora tenha sido acompanhada de longe por quem estava em Macau, a revolução que deitou abaixo o Estado Novo e instituiu a democracia em Portugal é ainda hoje recordada com satisfação pelos macaenses, que também cá sentiram uma maior abertura nos tempos que se seguiram.
“Cá não houve grandes manifestações, mas a verdade é que institucionalmente o 25 de Abril trouxe grandes mudanças”, considera Miguel de Senna Fernandes, entrevistado pelo PONTO FINAL. “Houve pessoas que, por estarem conotadas com o antigo regime, viriam a ser saneadas”, recorda.
Na altura, o advogado e dramaturgo tinha apenas 13 anos. “Foi a primeira vez que ouvi o termo ‘golpe de estado’. Lembro-me do meu pai chegar a casa de semblante fechado e dizer: ‘Prenderam o Marcello Caetano!’. Eu era muito novo, mas fiquei incrédulo, porque ouvíamos falar dessas figuras do regime e achávamos que fossem intocáveis”, conta.
Para José Pereira Coutinho, em Macau, o 25 de Abril “cada vez representa menos, com as comunidades portuguesa e macaense a diluírem-se, como tem vindo gradualmente a acontecer. Mas não deixa de ser uma data marcante para Macau, por aquilo que representou na altura”.
O deputado da Assembleia Legislativa (AL), que tinha 16 anos e estudava no liceu, lembra-se de que a notícia do golpe “não foi vivida com grande euforia”, uma vez que as pessoas em Macau “nunca sentiram assim tão reprimidas nas suas liberdades”, mas “a verdade é que havia censura”. “O meu pai escrevia para o jornal Gazeta Macaense e os seus textos eram revistos pela censura. Assinava com o pseudónimo de Ernesto, mas depois do 25 de Abril, isso acabou e passou a usar o seu nome verdadeiro”.
Na altura, Macau estava mais entretido com outras coisas, como a construção da Ponte Nobre de Carvalho. Rita Santos tinha apenas 14 anos e recorda esse momento e como “ainda não percebia o que era democracia”. “Lembro-me de que no colégio para meninas onde eu estudava algumas das minhas colegas tinham reprovado o ano. Mas nesse dia vieram dizer: ‘Houve uma revolução que acabou com o fascismo! Os professores já não podem bater em nós!’. Foi uma grande alegria porque antes apanhei tanta reguada! Mas quando disseram que tinha havido uma amnistia e que todos passavam de ano, foi uma festa!”, recorda.
“A emancipação das mulheres foi um dos efeitos positivos que o 25 de Abril teve em Macau, a liberdade de expressão”, considera a antiga secretária-geral adjunta do Fórum Macau. “Ainda hoje, conto aos meus sobrinhos e sobrinhos-netos a importância que teve para nós a Revolução dos Cravos.”

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