Nos e-mails que nos enviam, às vezes, chega-nos a poesia, a poesia verbal das imagens que "esta coisa" retém, quiçá, para que, do anunciado, fique a vontade quase incontida da imaginação e nela o universo engolido na origem - a sublimar, quiçá, todo o enorme prazer de o VER substituído pela GULA de o adivinhar.
E, por este caminho, que é pretexto, vou direito ao fim do apontamento começado: à compreensão, à homenagem aos que, não, nunca, tendo podido observar, conseguiram SENTIR o universo que os rodeia, sem Braille para a fantasia dos escultores, dos pintores, dos arquitectos que se dedicaram de corpo e alma à imortalização do que idealizaram. Fica, enfim, o valor das palavras de uma leitura especial "treinada" também para que outras artes o sejam.
Foi bom não ter recebido algumas das fotografias que, amáveis, me quiseram mostrar enquanto aqui não estive. Vou vê-las nas enciclopédias que me ensinaram a ler. Com o Braille da minha fantasia, onde nelas se falar. Quiçá, na poesia, que está em quase tudo o que se quer, realmente, VER, na GULA, na ânsia do absorver.
Em extremo, no sorriso dos invisuais, afinal, por vezes, toda a beleza do Mundo. Recordo, a propósito, no Louvre, em Paris, um casal cego, a quem uma guia fazia passar as mãos pelas esculturas em presença. Lembro a alegria do tacto. Lembro os rostos iluminados cujos dedos eram como que olhos sem opacidades.
Prazer em VER-TE, dizem. E apenas nos tocaram.
Perder um e-mail? Não: substituí-lo pelos livros que o descrevem. E continuar aqui, nesta alegria de estar com. Com os que sentem. E é a maior parte, para não dizer todos quantos se aproximam, indirectamente, ou não, da ruadojardim7, onde quer que estejam.
Recordo o cego que, na aldeia interior, que foi berço familiar, fazia questão de me interpelar acerca das mazelas do espaço físico em que transitava, sugerido-me temas para eventual reclamação pública, no caso, no Jornal do Fundão, sem edição em braille que se imaginasse. Já cá não está. Mas se estivesse, estou certo de que, em tempo de e-mails, confiaria nos seus olhos sem brilho - para escrever as verdades existentes no semanário que o entusiasmava.
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