quinta-feira, 19 de maio de 2011

"O assalto ao Santa Maria"

Volto à exposição "Aljube A Voz das Vítimas" a propósito da qual recebi hoje um telefonema de um amigo que se lembrava muito bem do "regresso" do Santa Maria a Lisboa e de Salazar no cais, em Lisboa, a receber de volta o paquete português. Sugeri-lhe, naturalmente, que não deixasse de ver a referida exposição, onde Galvão aparece em ficha da PIDE, mas senti-me "provocado" a, num breve relance, passar os olhos pelo livro "O assalto ao Santa Maria", que, diz a "minha escrita", li em Outubro de 1974.

Respigo desse testemunho uma passagem - surpreendente ou não (pags. 292/293) que, em liberdade, aqui transcrevo para que se relembre, a esta distância dos factos, que a PIDE ía, de facto, mais longe do que à "simples" procura de comunistas ...

Leia-se Galvão:

"(...) Nos seus contactos ou infiltrações com movimentos claramente definidos politicamente, todos se intitulam democratas, o que é, segundo os pontos de vista tradicionais da filosofia democrática, uma mentira. Qualquer pessoa que não pense como eles é rotulada de "fascista". Declaram-se anti-Salazar e anti-Franco, o que não é falso. Todos eles têm uma nítida repugnância pelo termo "antitotalitarismo" e preferem intitular-se "anti-fascistas". Esta designação permite-lhes condenar e combater ditaduras da Direita e desculpar e defender ditaduras de Esquerda.

Outros aliam-se a este grupo aparentemente heterogéneo (que segue sempre a mesma linha), por diferentes períodos de tempo, saltando de ídolo para ídolo ou de ideologia para ideologia. Estas pessoas, frequentemente tão instáveis e superficiais como dogmáticas e sentenciosas, incluem oportunistas com menos carácter do que ambição pessoal, ignorantes impetuosos do tipo "play-boy", que encaram a política como algo semelhante a um jogo de futebol, ou diletantes que visitam uma cidade chinesa ou africana durante quatro semanas, e voltam para falar ex cathedra sobre todos os problemas da China ou da África.

É fácil perceber-se, sem rancor, o que fazem comunistas declarados em tais grupos. Seria imbecibilidade pura imaginar um comunista a apoiar alguma coisa que não o beneficiasse a ele e à sua causa. Além disso, temos de admitir as notáveis qualidades revolucionárias que se encontram nos comunistas militantes. Não me despertam ódio. Encaro-os apenas como adversários políticos que pensam de forma diferente e têm outros objectivos."

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