Rostos

Ler, tentar ler, nos rostos o que vai nas almas. E fazê-lo sempre que isso se proporciona. No meio da agitação que se tornou o nosso viver colectivo.

Às vezes, um olhar, uma ruga mais funda, um gesto inesperado, um sorriso, a tristeza que se tenta disfarçar ou a alegria sem freio que transparece nas faces de alguém com quem nunca se falou, o macio de uma pele sem ventos que a perturbem, um sorriso, se possível, uma gargalhada, a palavra captada numa fracção de segundo. O universo num rosto. É isso. Às vezes. Embora, de quando em quando, não seja isso... Mas a vontade de eternizar um instante sem olhar a demoradas e impossíveis lucubrações filosóficas ... Apenas a emoção de um rosto único, como únicas são as impressões digitais que nos registam no B.I.. O desafio, a analisar melhor... 

Fotografar caras descobertas - mas tentar descobrir/ fixar emoções para além de ... O instantâneo para análise, ou contemplação, sem relógio, nem contador de gestos... A alegria, a serenidade, a dor num olhar, num esgar que se deixou surpreender. O NADA de quem, presente, está ausente - de tudo. Ou o TUDO, ali, onde tudo se tenta disfarçar - sempre. A Ocidente - onde as caras se vêem. Quase sempre. Mas onde ainda não existem máquinas que, de facto, DE FACTO, surpreendam corações ... Neste meio tempo, estarei atento ao mercado. Ou talvez não. Adivinho, a partir dessas eventuais geringonças, exercício penoso para o "captador de emoções" - emocionável. Fico-me por aqui. Com as artes que tenho. Que dão isto ... Ou mais ou menos ...

"Nós temos a idade do nosso olhar. Não dos olhos - do olhar, que é o consabido "espelho da alma", ou seja da fonte da vida, ou seja da força de estar no mundo. Assim os velhos com uma alma reactiva de juventude, portanto com um olhar cheio dela. Para sabermos a idade do seu corpo, ou seja dos olhos e não do olhar, basta decerto vê-los a dormir. Porque então o olhar tem a idade que têm. Ou morto, que ainda se sabe melhor."

Vergílio Ferreira