domingo, 2 de março de 2014

Recortes do dito e do feito (22) - Inflação negra

"Se há profissões de que ninguém gosta de ouvir falar, cangalheiro é uma delas. E embora estes apontamentos não pretendam ser agradáveis ou fazer humor negro, o certo é que, a meu ver, também não devem calar o que, fazendo ou não, parte das crónicas habituais dos outros, é reflexo da educação que temos - e, no caso, pode ilustrar a, por vezes, indesejável linguagem dos que, "no cumprimento do dever", esquecem a dor alheia. Diálogo tétrico, será, mas ... Façamos-lhe, por fim, a autópsia ...

- Por quanto vai ficar o funeral?... - perguntou ao cangalheiro o mandatário, membro da familia enlutada, modesta de posses.

- São ... (e disse um número ...) - respondeu o da funerária.

- Quanto? ... pediu para repetir, incrédulo, mas resignado e humilde, o "cliente".

- Mas, caro senhor, o seu parente faleceu em Fevereiro ... Se tivesse morrido até 31 de Janeiro, seria mais barato ... A Câmara agora ...

- ???... Ainda bem que assim não foi ... - retorquiu baixinho o do luto, enquanto, chocado, dizia a tudo que sim com a cabeça ..."

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