in PONTO FINAL
Catarina Mesquita
"A manifestação realizada anualmente na data histórica de 20 de Dezembro teve este ano menos aderentes do que no passado ano. A marcha organizada pela Associação Novo Macau, em parceria com a Consciência de Macau e a Juventude Dinâmica, partiu do Tap Seac, na tarde de ontem, em direcção à Praça da Amizade com apenas cerca de cem pessoas.
Jason Chao, ex-presidente da Novo Macau, reforça que este evento teve um especial contratempo este ano, uma vez que “o dia da manifestação coincidiu com a visita do Presidente chinês Xi Jinping e houve, sem dúvida, um abuso de poder que nos impediu de nos manifestarmos nos sítios previstos pela organização inicialmente.”
De acordo com Chao, também, “a pouca adesão de pessoas, principalmente jovens, deve-se ao facto de muitos estarem desinteressados de questões como o sufrágio universal e a democracia.”
Wilson Hong, professor na Universidade de Macau (UM), reforça esta ideia afirmando que “em Macau é preciso sentir na pele primeiro, sofrer e então sair à rua reclamar”. “Estamos a apelar o sufrágio universal para eleições que só vão decorrer daqui a uns anos. Para a população de Macau ainda é cedo demais para lutar. E este é um pensamento muito errado”. O professor da UM defende que é preciso que a população, em especial nas camadas jovens, ganhe consciência das consequências que este tipo de acções pode ter “na solução de problemas futuros.”
“Problemas como o preço das casas, do trânsito e outros não vão ser resolvidos pelo Governo actual. É preciso haver mudança”, desabafa Cheong Weng Ien, que com apenas 17 anos trazia pintada no rosto a frase “Queremos a mudança”.
Quando questionada sobre a pouca adesão à marcha, Hester Castillo, de 29 anos, defende descontente que “muitos não vêm por causa dos resultados do Occupy Central, achando que isto não nos vai levar a lado nenhum”.
Há quem filme os manifestantes. Durante a concentração na Praça do Tap Seac, o PONTO FINAL é abordado por um turista que acompanha a manifestação com curiosidade. No entanto, para John, originário de Sichuan e cujo apelido não quis revelar, “este tipo de concentrações não surte qualquer efeito”. “O sufrágio universal é impraticável em Macau. É preciso perceber que Macau já não tem soberania de um país europeu e é necessário respeitar as medidas do Governo Central”, defende.
O turista veste um casaco amarelo – a cor representativa da democracia desde os protestos pró-democráticos em Hong Kong –, mas, fazendo crer que está inserido na manifestação, elabora a discordar totalmente do motivo desta: “o Presidente Xi Jinping tem vindo a tomar as melhores decisões a nível económico e ‘ataca’ quem se opuser às suas decisões”, avisa, alertando os manifestantes para que repensem os motivos pelos quais se manifestam. “Na história da China os líderes sempre puniram quem se opôs a eles. Nem Macau, nem Hong Kong estão culturalmente preparados para tomar decisões com a dimensão da escolha do Governo”, acrescenta.
A marcha teve uma breve passagem pela Sede do Governo, onde Lei Kin Iun, liderando a organização que dá pelo nome Partido dos Trabalhadores, se juntou ao protesto “apelando também ao sufrágio universal, lutando contra a corrupção e pedindo mais habitação pública.”
A manifestação terminou na Praça da Amizade numa concentração onde vários activistas como Sulu Sou, presidente da ANM, discursaram apelando à mudança e à consciência da população para a questões de igualdade política."
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