segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Antologia da gente que passa ( 6 ) - Augusto de Castro
in Homens e paisagens que eu conheci
À sombra do solar do Cid
"A Espanha precisou sempre dum clima heróico para viver. (...) Mas na Península não há só Espanha. Há também Portugal. Há vinte e dois anos, em 1917, parti para Madrid em missão jornalística. "O que vai procurar em Espanha?" - perguntou-me alguém, ao passar a fronteira. "Portugal"- respondi.
Portugal fui novamente procurar na velha e soberba terra de Castela, berço da Espanha de ontem, berço e solar da Espanha de hoje, quando há dias, por uma cálida e espessa tarde me apeei em Burgos. Quem não viu essa planície castelhana, cor de barro, fatigante de imensidade, bordada de choupos como catedrais, sonora e óssea, que tem qualquer coisa ao mesmo tempo de truculento e de ascético, quando o sol-poente tinge de sangue o céu, incendiando a paisagem, e as nuvens caem, como uma cortina, baixa e opaca, sobre os trigos e os olivais - quem nunca viu essa planície do Cid, em que a luz sobe no espaço como uma cavalgada heróica, não pode dizer que conhece a alma trágica e sagrada de Espanha. Alma misteriosa, como essa extensão sem-fim sulcada pelas águias; alma e paisagem feitas de incêndios e torrentes; alma de cavaleiro andante e de monge - como o desses vales queimados pelo vento e a desses rochedos perpetuamente coroados pelo fogo e pela neve..."
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