sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Manuel Escórcio, Academia do Bacalhau de Joanesburgo (17.04.1980)

Meu Caro Manuel Escórcio, saudade, sobretudo, SAUDADE do dia em que, ambos, passámos a integrar, por simpatia alheia, a mesma Academia. Vou escrever-lhe para o endereço que encontrei aqui noutro lado, mas, para já, enquanto não recebo notícias suas directas (não vai ser fácil nesta insensível engrenagem ...) permita-se-me a reprodução (a pedir actualizações, por certo) da entrevista que, de si, a referida lusa saudade encontrou.


Manuel Escórcio: Diálogo com um cantor internacional da África do Sul

Manuel, um primeiranista do Heidelberg College na África do Sul, estava cantando no chuveiro. O preceptor do dormitório seguiu a música, escutou do corredor e mais tarde sugeriu que Manuel entrasse no coral e desenvolvesse seu talento com aulas de canto. A partir daquele dia, Manuel Escórcio não parou de cantar.
Escórcio é uma celebridade na África do Sul onde, como principal tenor residente da Ópera da Cidade do Cabo, cantou em mais de 40 apresentações, desde A Flauta Mágica de Mozart até O Barbeiro de Sevilha de Donizetti e O Estudante Príncipe de Lehar. Fãs devotados o escolheram duas vezes como “O Cantor Mais Popular” da África do Sul — em 1986 e 1990. Três de suas 27 gravações alcançaram o status de Disco de Ouro e uma o de Platina. Seu disco compacto Sinfonia de Louvor obteve a distinção “O Melhor CD Evangélico” em 1996.
Escórcio graduou-se do Heidelberg College em 1972 com um diploma de Teologia. Embora tivesse planejado trabalhar como pastor, seu talento musical o desviou desse alvo para a emoção da execução musical em público. Completou o bacharelado em Música na Universidade de Stellenbosh em 1976, e depois estudou com professores de mérito na África do Sul e na Inglaterra.
Escórcio obteve mestrado em Música em 1982 na Universidade da Cidade do Cabo. Sua dissertação “Paralelismos e Analogias entre o Estilo Ópera e o Estilo Drama nas Peças de Shakespeare”, descreve a direção de sua vida desde aquele chuveiro musical em Heidelberg. Prêmios e sucessos multiplicaram-se para Escórcio. O governo português conferiu-lhe o título de “Comendador da Ordem do Príncipe Henrique Navegador”. Em Salzburgo, Áustria, obteve a distinção de “Melhor Cantor” da Academia de Música. E sua terra natal o agraciou como a “Personalidade Mais Popular nas Artes Musicais”.
Depois, em 1992, enfrentando o sentimento de um vazio pessoal, Manuel Escórcio volveu às suas raízes religiosas. “Eu queria fazer algo mais positivo do que apresentações centradas no eu”, diz ele. “Queria servir a Deus plenamente.”
Você era um astro bem-sucedido na ópera; agora você se encontra num ministério musical cristão. Qual é a diferença, e como você se sente depois da mudança?
Como astro da ópera eu estava aí para mim mesmo, só para fazer estardalhaço, para que as pesoas vissem como eu era “o tal”. Toda a minha experiência se orientava para a proeza vocal — para exibir o que eu podia fazer. Queria aplausos para mim mesmo e desejava o maior número possível de elogios. Embora eu ainda precise de proeza vocal e excelência, a função principal agora é a mensagem e não a técnica vocal. Não estou nisso para cantar mais alto ou mais baixo do que o fulano ao meu lado. Minha música tornou-se subserviente à mensagem de Deus. Tenho-me tornado um instrumento para Ele, uma voz imbuída com o Espírito Santo. Melhor de tudo, nunca me senti mais feliz!
Por que escolheu mudar?
Estava cansado do mundo vazio e cheio de orgulho da ópera. É um lugar muito solitário. Há sempre uma dúzia de cantores esperando pelo momento em que sua voz lhe falhará. Você está só num lugar onde ninguém entrará para ajudá-lo. A ópera é também um mundo desequilibrado e volátil, onde todo departamento ignora a Cristo e está cheio de superficialidade. Eu tinha tudo — dinheiro, fama, louvor — e mesmo assim nada. Era infeliz.
Sente falta de cantar música de ópera?
Não. Não mais posso fazê-lo. Não, desde que o Espírito Santo me falou em 1990. Um amigo cristão veio para mim num daqueles momentos especiais de carência e insistiu para que confrontasse a questão de minhas conexões espirituais. Lembre-se, eu estudei ópera durante 13 anos. Tinha feito compromisso com a observância do sábado e muito mais. Ele mostrou-me que era tempo de voltar.
Você deixou um emprego de alta visibilidade e bom salário quando renunciou como principal tenor residente da Ópera da Cidade do Cabo. Que aconteceu com sua carreira desde então?
Estou numa aventura com Deus e minha vida é um ministério. Ocasionalmente canto alguma música clássica leve e vendo obras de arte de artistas que aprecio como forma de ter uma renda, de modo a dar vida a meu ministério. Imagine quão especial isso é. Recebo um convite de um amigo ou de um conhecido que gosta de boa música e de belas artes. Assim, carrego meu Volkswagen com obras de arte, um sistema estéreo, fitas para música de fundo e uma caixa de CDs e viajo para a casa dele, para uma noite de música e ministério. Minha tarefa naquela noite é partilhar Jesus, meu melhor amigo, com meus novos amigos em seu lar. Muitas vezes há 60 ou 70 vizinhos que vêm para comprar quadros, sociabilizar-se e ouvir boa música. Quanto a mim? Ali estou para ministrar!
Que o levou a combinar a venda de obras de arte à música nessas noites sociais?
Descobri que quadros de qualidade dão-me a oportunidade perfeita para falar de Deus. De algum modo sei o que as pessoas estão procurando e assim elas entram em contato comigo pedindo tipos específicos de arte original. Localizo o que elas querem, trago-as para as exibições e então falo com elas, honestamente. A melhor maneira para falar de Deus é sendo um negociante de arte honesto — um cristão com a ética de Cristo nos negócios. Invariavelmente, junto com a obra de arte, eu lhes dou um cassete ou um CD. Freqüentemente, falo por bastante tempo e com alegria de meus princípios cristãos e explico como Deus quer ser parte de nossa vida.
Que torna este ministério eficaz para você?
As pessoas confiam em mim. Você nunca pode dar um estudo bíblico sem primeiro fazer contato com as pessoas. Torne-as seus amigos. Mostre-lhes que você merece confiança. Não use sua Bíblia como uma AR-15 para eliminar a oposição e provar sua verdade. Antes, use a Bíblia para mostrar o amor de Cristo e fazê-los seus amigos. Fale de Jesus e enfatize os pontos que nos ligam como cristãos.
Sua personalidade é um misto de energia e emoção. Como consegue dar-se dia após dia?
Procuro conservar-me em boa forma. Faço “cooper” três ou quatro vezes por semana e me alimento de modo sadio para manter elevado meu nível de energia. Ando sozinho em meio à natureza, ouço boa música, leio bons livros e deleito-me no amor de Deus. O dar só pode ocorrer em proporção com a energia que possuo. Dou, não apenas como um ato mecânico, mas um dar real — partilhando, comunicando, confortando, fortalecendo e edificando o corpo de Cristo. Você vê, para mim não existe mais um público. São agora apenas meus amigos e é minha tarefa “quebrar o gelo”, ir direto a seus corações. Um minuto rimos e no minuto seguinte choramos. O tempo todo, dou direto de meu coração a seus corações. É exaustivo! E é a coisa mais energizante que faço! Outro pormenor. O “dar” vem de Deus, não de mim. O que Ele me dá, preciso passar para a frente. Não posso evitá-lo.
Qual é sua maior esperança?
Ouvir histórias de êxito de pessoas que falharam: os bêbados, o assassino de um policial, os que foram às profundezas e estão agora experimentando o milagre da graça. Ser relembrado com freqüência que a graça não é uma teoria, mas algo real! Quero ser um pequeno instrumento na roda da vida que vem de Deus. Então, quando Deus derrama o óleo do Espírito Santo sobre mim, a roda voa!
Que conselho você pode dar sobre como a música deve ser usada na igreja?
Precisamos usar música que toque o coração das crianças. Gosto de música clássica para órgão e hinos arrebatadores para o culto na igreja. Mas, Deus é como um pai. Ele tem muitas facetas diferentes. Às vezes Ele é um juiz. Outras vezes Ele é professor, amigo, ouvinte e mais. Não devemos usar toda a nossa energia para retratá-Lo como um juiz severo. Precisamos mostrá-Lo como aquele cuja vida é cheia de alegria! Imagine, Ele faz hipopótamos gordos e rechonchudos e todo o exército de anjos rompe em risada. Então, Ele faz girafas e a hoste angélica canta diante do espetáculo. Deus nunca é enfadonho. Nossa música deve mostrá-Lo como é. Devemos pôr de lado nossos preconceitos e fazer música que atraia as crianças a Cristo. Quando ensinamos as crianças, alcançamos o futuro.
Que conselho dá para jovens cristãos que têm grande talento musical?
Quatro coisas: (1) Não permita que a crítica severa o desanime de fazer aquilo que Deus lhe pede que faça. (2) Ao sentir e desenvolver seu idioma/linguagem/estilo musical, faça-o com orientação divina. O amor puro, sincero, honesto e gracioso de Deus pode ir mais longe do que a distância que você percorre para fugir. Não aceite um Jesus barato; em vez disso, deleite-se na riqueza de Seu dom e partilhe-o com alegria. (3) Nunca abandone a Jesus por causa daquilo que outra pessoa possa ter feito ou dito. (4) Não olvide o fundamental. Ser especial significa ser diferente interiormente, em suas atitudes e decisões. Sua diferença é a diferença da graça. Concentre-se nisso.
Entrevista por Dick Duerksen. Dick Duerksen é diretor de Desenvolvimento Espiritual do Florida Hospital, Orlando, Flórida. Endereço de Manuel Escórcio: P.O. Box 565; Newlands 0081; Pretoria, Jauteng; África do Sul. E-mail: M_escorcio@hotmail.com


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