quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Para conhecimento, HOJE, uma carta do Padre António Vieira

Numa mensagem no Twitter, aqui ao lado, Cameron, primeiro-ministro da Grã-Bretanha, escreveu que “Ao longo dos últimos 63 anos, Sua Majestade foi um poço de estabilidade num mundo em constante mudança”.
Sim, mas tem que tomar conhecimento, porque, em monarquia, a descendência conta e, se há problemas luso-britânicos pendentes (morais que sejam), talvez seja a hora de reflectir ... acerca de eventuais situações a haver. A diplomacia impõe a análise da RAZÃO - hoje como ontem.

Fica, Majestade, o registo, a partir de cópia, que o original deve estar, aí, no POÇO, em Real Depósito. E que tudo seja lembrado pelo Bom Nome e Honra do nosso ímpar concidadão Padre António Vieira, que, em devido tempo, escreveu HUMILDEMENTE, chateado com a sua Lusa Terra, a que o reino de Vossa Majestade, como se sabe, apesar de tudo, nem sempre tem dado a devida Razão. Mas veja, Mui Nobre e Ilustre Senhora, o que são as coisas e os tempos ... Dirá que era um caso de política interna, mas o argumento não colhe: a História acabou por dar lugar de honra ao nosso Padre, um dos lusos mais ilustres que tivemos.E Vossa Majestade está no Poder mercê do equilíbrio que, pelos modos, nem todos os seus antecessores tiveram ...

"Senhora:
Tem Vossa Majestade a seus reais pés a António Vieira neste papel, porque é tal a sua fortuna que o não pôde  fazer em pessoa, por mais que a desejou, e procurou. A quem me queixarei do príncipe D.Pedro, meu senhor, senão a Vossa Majestade? Por sua causa, depois do primeiro desterro, padeci as indignidades que me não atrevo a referir; e quando, para o reparo delas, esperava o escudo de sua real protecção, nem uma folha de papel para seu embaixador, pude conseguir, em que lhe encomendasse me assistisse nesta Cúria, querendo antes favorecer com nome de fé àqueles que, na vida e depois da morte de El-rei que está no céu, faltaram provavelmente à sua, como testemunha a torre de Belém e o Noviciado da Cotovia. A Companhia do Comércio do Brasil, que restaurou Pernambuco e Angola e deu cabedal ao reino para se defender, por ser invento e arbítrio meu, me tem trazido à presente fortuna, quando se pudera prometer uma, muito avantajada e honrada, quem tivesse feito ao seu rei, e à sua pátria um tal serviço, sobre tantos outros em que tantas vezes, e com tão úteis efeitos arrisquei sem nenhum interesse a vida. Mas permite Deus, que nos príncipes da terra se experimentem semelhantes galardões, para que só de sua grandeza e verdade se esperem os que não hão-de ter fim. Quis fazer a minha viagem a Roma por Inglaterra, para antes de morrer ter a consolação de ver a Rainha da Grã-Bretanha, minha senhora (como ainda espero), e comunicar a Vossa Majestade de palavra muitos particulares, que se não podem fiar de papel; e só porque os Inquisidores não imaginassem que Sua Alteza por este rodeio consentia no fim da jornada, me não concedeu que passasse uma vez, por amor de mim, aquele mesmo canal de Inglaterra, em que sete vezes me vi perdido pela conservação da sua coroa. Mágoa é maior que toda a paciência a consideração de que experimente estes rigores em um filho de El-rei D. João o IV e da rainha D. Luísa de imortal memória, um criado tão favorecido de ambos, que um o nomeou por mestre, e outro por por confessor, de quem o trata assim depois de tão dignamente tratado por seu respeito.
Vossa Majestade por sua clemência perdoe a indecência destas queixas, que a dor não tem juízo, e nenhuma é maior que a do amor ofendido.
Determino pleitear de novo a minha causa e buscar em Roma a justiça que não achei em Portugal; e ainda que espero me não falte Deus, como defensor da verdade, tenho grande confiança que, por meio da protecção de Vossa Majestade, terei mais segura a divina (...)
Rainha e senhora minha, Deus guarde real pessoa de Vossa Majestade, como a Igreja universal, e os vassalos e criados de Vossa Majestade havemos mister.
Roma, 21 de Dezembro de 1669. António Vieira."


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