quinta-feira, 15 de julho de 2010

A "cabine"

Frente à casa que, nas Traseiras do Litoral, a vontade e o trabalho de décadas, os meus pais me deixaram, há, desde "sempre", um posto de alta tensão herdado pela actual EDP, que, avisando para os perigos que lhe são inerentes, mais parece um gigante em cujo rosto, com alguma atenção, é possível, acreditem, observar traços bem vincados da nossa história das, pelo menos, últimas décadas:


- nos restos dos "slogans" clandestinos que "animaram" a nossa vida política;

- nos vestígios de gravações amorosas que se lhe adivinham;

- na ferrugem das portas e no que aí, na pintura sobrante, sugere mensagens esboçadas;

- nos rasgos deixados pelos carros que o roçaram, nas épocas dos carros de bois e na dos a gasolina e gasóleo de alguns "boys"...


- nos cabos, agora novos, que propõem melhor energia - contra a energia que tiram...


- nas trevas que sempre ameaçaram;


- nas garantias, quase centenárias, que tenta dar, a horas certas, no que respeita ao acordo com a luz ... do dia;


- na referência que constitui, nomeadamente, para quem visita a terra e vem de longe;


- na majestade do seu porte erecto, visível a, pelo menos, uma légua de distância;


- na largueza de horizontes que a sua imponência e...e alta tensão impõem, seja qual for o Poder Local;


- no erro de ortografia que, apesar de estar patente à beira de uma escola, a não tem contaminado: "Alta tenÇão";


- no Perigo de Morte que nunca passou de aviso. Que se saiba...


- no facto, quase ímpar, de não precisar de mudar de fachada para cumprir a sua função pública;


- na janela sempre fechada, onde ninguém aparece a ver-me espreguiçar;


- na modéstia da sua vulgaridade exterior;


- no respeito que passou, de há uns tempos a esta parte, a impor aos responsáveis pela "vegetação" circundante, em particular, nos verões quentes...


- no "ex-libris" que é e deu luz a quem ma deu...

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