sábado, 31 de julho de 2010

Memórias do meu cata-vento ( IV )

GENTENOSSA
Ao Dr. Carlos Lemos, Cônsul Honorário de Portugal, em Melbourne

Martha Teles, pintora

Registei nas "Memórias (...):

"Nasci e vivi na Madeira e era adolescente no tempo da Guerra 39/45. Conheci um oficial miliciano do Continente, casei pela Igreja aos quinze anos. Fomos para Moçambique com a nossa filha, mas separei-me do meu marido aos dezanove. Impossibilitada de reconstruir a minha vida sentimental por causa da Concordata, obtive o divórcio aos quarenta e tal anos, já depois do 25 de Abril, que me levou, primeiro à Dinamarca, e, mais tarde, a outros países, onde se respirava um clima político diferente.

Acontece que a minha filha que, entrementes, tinha já catorze anos, pelo facto de ter muitos amigos em Portugal, não gostava de viver na Escandinávia, e fomos para Paris (onde estive dois anos com bolsa da Gulbenkian).

Tratava-se de uma capital europeia... mas de novo não conseguimos fixar-nos. Procurei, então, um país onde, vivendo em democracia, se falasse, pelo menos, em parte, a língua francesa, que dominava melhor do que a inglesa.

Rumámos para o Canadá. Concretamente, para Montreal, a que minha filha se adaptou, embora, mais tarde, tenha ido viver para Toronto, e casar com um português.

(...) Acabamos (...) por ter como que duas nacionalidades: a que nos dá o sol e dificuldades, e a que, na circunstância, nos gela, mas nos compensa com o rigor, a disciplina, o horror à sujidade. Às vezes, temos a sensação de que pertencemos a dois países e não pertencemos a nenhum. Ou melhor, sinto-me canadiana em Portugal e portuguesa no Canadá (...). 

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