terça-feira, 27 de julho de 2010

Memórias do meu cata-vento ( II )

GENTENOSSA
À Drª Manuela Aguiar, ex-secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, que os emigrantes sempre me disseram conhecer bem


Prof. Lima-de-Faria, "Poeta da Ciência"

Disse-me:

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Um dia entrei no gabinete de Müntzing e perguntei-lhe que tipo de experiência pensava ser impossível. Respondeu-me que os cromossomas acessórios do centeio, com que ele se ocupava, apareciam no estado de meiose (o paquiteno), em que mostravam a melhor estrutura, mas o seu estudo neste tecido era tão difícil que várias pessoas o tinham tentado sem resultados.


O certo é que eu, ao fim de três meses, consegui desenvolver uma técnica nova que permitiu isolar estes cromossomas com uma nitidez e exactidão até aí desconhecidas. Tal resultado provocou sensação e abriu-me as portas para futuras investigações nesta área. Publiquei logo uma série de trabalhos, que ficaram clássicos, sobre a estrutura e outros aspectos da estrutura dos cromossomas, que me levou a licenciar em Genética (1951), e depois, em Lund, ao grau de doutor naquela especialidade, com a mais alta classificação.


A partir daí, fui bolseiro da Rockfeller Foundation, nos EUA, professor extraordinário na Suécia, bolseiro da International Atomic Energy Agency; convidaram-me para "visiting professor" na Medical School, da Duke University, ocupei o lugar de catedrático na Columbia University, em Nova Iorque, fui 1º "visiting professor" na European Molecular Biology Organization, em Edimburgo, até que, depois de andanças várias na Suécia, me acabei por fixar, criando, com a ajuda da Fundação Wallenberg, um instituto próprio, com os melhores instrumentos necessários à investigação, ao nível molecular.


O que é dramático é que estou convencido de que foi a excelente preparação inicial em Portugal que me permitiu realizar o que realizei na Suécia, mas, ao mesmo tempo, consciencializei-me de que, se tivesse ficado no meu país de nascimento, não teria concretizado, dadas as condições então extremamente adversas à investigação científica.


Penso, entretanto, que os portugueses que emigram são pessoas com uma capacidade de empreendimento e de actividade acima do normal, e, por isso, os que sobreviveram, fizeram-no à custa de um esforço, muitas vezes, difícil de avaliar.


Minha mãe, quando eu era criança, lembrava que um homem só o é quando se torna pai, escreve um livro e planta uma árvore. A minha contribuição é: cinco filhos, mais de cento e trinta trabalhos científicos publicados e umas dezenas de árvores plantadas nos meus pequenos jardins.


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