sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Memórias do meu cata-vento ( VII )

GENTENOSSA

Notas prévias:
a) Toda a gente sabe, ou tem uma ideia... Eu tenho uma ideia, a ideia de que o meu "blogue" é, no seu universo, UM, dizem, UM NO MEIO DE UM BILIÃO DELES... Escrever, então, porquê? Simples: a minha impressão digital é diferente. O Criador, na Sua Imensa Sabedoria, quis assim, se calhar, antevendo também, em concreto, esta situação... Isto é, actualizando, se for crime, serei condenado; se não for, andarei por aí feliz a dizer à atmosfera, tolo ou não tanto, o que vejo e sinto - sem fazer mal a ninguém.


b) Já agora, deixem-me revelar (ao éter?...) a brevíssima história deste "post". Um dia, já lá vão umas três dezenas de anos, cismei em "conhecer" os entrefolhos parisienses de alguns artistas plásticos portugueses. A CP ofereceu-me, contra nada, a ida e volta de combóio à Cidade-Luz; a Caritas facilitou-me, de borla, cama sem mesa... E fui. No regresso, saiu novela, de que mantenho, inédito, um arremedo do que senti. Este GENTENOSSA, do Meu Cata-Vento, tem um pedacinho da "experiência" que, neste caso, vai dar um dos "10 inesquecíveis" - da "etiqueta".

Para a pintora madeirense Tina Nunes, que conheci no Porto, revi em Caracas e Lisboa, e de que me resta a saudade e...e dois esquiços "produzidos" à mesa do café...

Costa Camelo,  pintor dos grandes espaços bretões

Escrevi:

"Para quem não resida normalmente em Paris, tenha da Cidade-Luz uma visão de pouco mais do que a de um simples turista e esteja de frente para o Sacré-Coeur, cá em baixo, ao fundo da escadaria, parece que, no topo, por trás da basílica, para além da famosa Place du Tertre, nada mais há do que o azul do céu e, eventualmente, um emaranhado de ruas onde deambula gente diversa, que não os parisienses com que nos cruzamos nos Champs Elisées ou em Montparnasse. Todavia, continuamos no bem conhecido Montmartre, embora na outra aba da encosta, de cujos píncaros se avista Paris que as telas dos mestres registam com as cores variegadas que lhes vão na alma.

É aí, nas traseiras da cidade, onde, apesar de tudo, ainda chegam vozes dos cabarés de Toulouse Lautrec, que vive Costa Camelo, o pintor português dos grandes espaços bretões, para quem, mais do que o ambiente que ali diariamente o rodeia, devem contar as léguas de paisagem que, em resposta a desejos profundos, tenta, de preferência sozinho, absorver, sempre que pode, no Norte de França.

É a necessidade de infinito, ou uma certa forma de ser português, captada quase às ocultas e em silêncio, e depois metida, sabe Deus com que apelo à capacidade de síntese, no sempre acanhado rectângulo de uma tela.

Nascido em 1924, numa Covilhã encostada à Serra da Estrela, isto é, numa espécie de traseiras de um agigantado Sacré-Coeur sem basílica, consta que fez o liceu em Castelo Branco e que, em termos universitários, terá passado pela Faculdade de Letras de Lisboa e pela Academia Real de Belas-Artes de Antuérpia. Reside em Paris desde 1950 - com a simplicidade de quem apenas aproveita do exterior o que julga amplo e digno de alguma atenção. De resto, se se quisesse observar a sua obra a partir do que lhe roça a pele, ter-se-ia que dizer que seria seria difícil conceber tanto, olhando o tão pouco que, na aparência, o envolve: uma casa vulgaríssima, com pinturas suspensas da parede com adesivos medicinais; um ou outro canudo com desenhos que o público há-de ver - se calhar; uma sala de visitas e/ou de trabalho com uma velha banheira cheia de tralha e uma mesa tosca ao centro, à volta da qual os amigos se sentam em bancos que foram cadeiras, mas, sobretudo, a tranquilidade nas palavras, em cujos intervalos se bebe chá preparado e servido ("desculpe o à-vontade") numa lavada caçarola de alumínio."

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