sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Do burlesco-licencioso em Pero Garcia

Natália Correia in Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica:

"A poetização da carne, iluminada pelo espírito, cuja exaltação emana da embriaguês inspiradora da experiência erótica, pondo em causa o significado da comunhão sexual electiva, é o tópico da nossa mais qualificada poesia moderna"

A outro nível, ainda que muitíssimo mais discutível, mas de aceitação garantida,  parece estar, o que aqui, excepcionalmente, se escreve com a palavra porno ou a cheirar a "pouca vergonha". DIZEM-NO AS ESTATÍSTICAS. 

"Eduquemos, entretanto, as estatísticas" de braço dado com Natália Correia. Para variar, que, no lado das vantagens, na ruadojardim, nomeadamente, uma pessoa pode escrever ao sabor das emoções quando quiser, não é como naqueles semanários em que, às vezes, se colabora e que têm dias certos para "falar" e ... e, não raro, por isso, chegam a produzir desmotivação ...

Lá vai por isso, hoje, agora, com a ajuda de Natália Correia, na selecção genérica, a veia poética de Pero Garcia (cortes de Afonso III), uma 

CANTIGA DE ESCÁRNIO - se calhar, bem vistas as coisas, com adaptações, algo actual ...

Maria Negra, desventurada
é por muitas piças comprar
que na mão lhe não querem durar
e cedo morrem à malfadada.
Um membro grande que comprou,
ao serão, ontem, o esfolou
Mas outra tem, já amormada

Ficou a pobre arruinada
por comprar piças. Que desventura!
Piça que compra pouco lhe dura.
Mal a mete na sua pousada
quer que ali morra de pulmoeira
ou torcilhão; doutra maneira
Maria Negra fica aguada.

Já dos seus bens está minguada
de tantas piças no ano perder,
que compra caras e vê morrer
pela humidade de casa molhada, 
a estrebaria em que as afunda.
Tantas lhe morrem, que a velha imunda,
por piças berra na terra deitada.




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