Águas furtadas - aniversários

Ninguém é obrigado a saber de cor o dia de nascimento que o vizinho tem registado na sua Cédula Pessoal. Trata-se, em regra, de um documento intimo, que só sai da carteira do próprio por razões, geralmente, muito especiais e, não raro, em circunstâncias de grande intimidade. Daí, os outros, os que também têm a sua Cédula Pessoal, não precisarem que se justificar pelo facto de não terem presente na data certa registos alheios ... Dir-se-ia mesmo que, a acontecer o contrário, poderia pensar-se estarmos em presença de uma certa espécie de estranha "coscuvilhice". Com efeito, cada um tem direito aos seus segredos ... Bem bastam as eventualmente denunciadoras rugas, apesar de ... apesar de, graças a Deus, em regra, discretas, não serem assim tão notórias de doze em doze meses ... Vão crescendo, claro. Mas como os amigos, os próximos, as vêem crescer, natural é que, a cada doze meses passados, não estejam a pensar que já passou mais um ano ...

O que é que se pretende, então, com esta espécie de mensagem? Ser o mais directo possível para agradecer a quantos se esquecem dos aniversários alheios no que isso significa de conforto para qualquer aniversariante que, a partir de certa altura, o que quer é que os anos não passem, mas representem vida e saúde - como na véspera, e na véspera da véspera ...

"Estás óptimo!", dizem-nos os da boa vontade com que nos cruzamos no quotidiano que não obriga a Cédula Pessoal à vista.

"E tu também!", é o cumprimento a olho nú.

E assim vamos até ao dia em que nos obrigam a documentar a data em que nascemos - e então já pode ser uma chatice... Sobretudo, se obrigar alguém a procurar a nossa Cédula Pessoal para a exibir a outros.