quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Ciganos ( I )

Se o método das continuadas observações instantâneas permite uma aproximação à verdade das coisas, o Museu da Cidade de Lisboa, enquanto espaço do que é a cidade no seu património fixo, representa, a meu ver, uma certa dose de ... de falhanço ... Porquê? Não sei. Mas julgo saber que já o mesmo não acontece com as exposições temporárias que, em regra, têm lugar nos dois pavilhões existentes no jardim que circunda toda a estrutura ali disponível. Com especial relevo, em regra, para a zona que, nesse jardim, fica ao fundo do semi-tratado verde, à ilharga  d'A VERDADE de Eça, ali resguardada, e bem, dos malfeitores. Como, aliás, a estátua de Carmona, em tempo retirada da zona norte do jardim do Campo Grande. Numa palavra, MUSEU DA CIDADE, sim, de preferência, para ver o que de temporário possa ter para nos mostrar.

Agora, por exemplo, tem lá uma exposição acerca dos CIGANOS. Excelente! Sublinha-se. Magníficas fotografias, elucidativas legendas, cuidada exposição, óptima e oportuna imagem da errância de um povo, das suas tradições, da sua busca da felicidade na simplicidade. Das suas raízes. Tudo documentado num livrinho ("Vidas Ciganas") à venda na entrada do pavilhão que acolhe com dignidade a iniciativa. E onde Miguel Torga não foi esquecido: DIÁRIO III, 3ª edição, para recordar o que, de facto, só visto...

A CIGANA

Lia a sina a cada um
Na palma de cada mão
Não desgraçava nenhum,
Nem lhe tirava a ilusão.

Toda a donzela paria,
Todo o homem navegava;
E nem a moça sofria,
Nem o rapaz naufragava.

Um amigo  em cada linha
Um triunfo em cada dedo;
Nos seus lábios ia e vinha
A reserva dum segredo.

Não se mostra uma paixão
Tal e qual, à luz do dia:
Cobre-se-lhe o coração
Da rede duma ironia

Mas quem tem penas no peito,
Entende acenos discretos:
Sabe ficar satisfeito
Com afagos indirectos.

E em toda a grande praça
A multidão que a enchia
Vivia daquela graça
E do bem que repartia.

Porque nascera cigana,
Sem fronteiras no sorriso,
A sua palavra humana
Conhecia o paraíso.

E ali, mulher, o mostrava
A quem, faminto, o pedia:
A quem, crédulo, o comprava
Pelo preço que valia."

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