sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A aldeia enquanto "propriedade horizontal"

Com o passar dos anos cada um de nós vai tentando ajeitar-se à grande vazilha em que o puseram a levedar:

- numa moradia, dita isolada, com um ou mais pisos e um único dono;

- num prédio com vários pisos, integrado, ou não, numa banda deles;

- e, simplificando, no chamado arranha-céus, que a altura, desde logo, baptiza.

Seja como for, um dado é fixo: antes de mais cada um É, cada pessoa É... E no facto de ser começa a tragicomédia, que, em princípio, ponderados os prós e contras destas contemporâneas soluções existenciais (palavras caras...), sobressai o quase drama: qual o melhor enquadramento, como viver sem chatices de monta, resultantes da opção, às vezes, forçada pelas circunstâncias, para conseguir levedar em paz, sem mafias, se possível, a maior parte dos dias do ano?

Tem que, deve ser breve, o que se escreve nos muros desta gigantesca propriedade horizontal que, de algum modo, também é a INTERNET. Remeto-me, por isso, a esta espécie de quarto alugado que é um blogue e, com eventual "estrondo", vou já direito ao fim: sob a aparência da maior candura e cordialidade, a aldeia, se pode ser boa na eventual entreajuda humana, é também, no pior sentido, não raro, a grande propriedade horizontal, o grande apelo ao silêncio individual para evitar, o mais possível, o diz-se - diz-se, bastas vezes incómodo, e quase sempre demolidor (admirável é que, em tamanha propriedade horizontal, haja quem se candidate a administrador, leia-se presidente autarca, note-se de passagem).

É que, postas as coisas no plano da desejável, da expectável convivência lateral, um aglomerado onde um, dois pisos é regra, de repente, a aproximação torna-se uma espécie de coscuvilhice: o ser amigo de A, hoje, é um perigo, em potência, para amanhã - e assim por diante ...

Donde, parando por agora a caneta, a conclusão provisória é a seguinte: viver, permanecer numa aldeia, pode ser um desastre. Um desastre maior do que viver na cidade "poluída" de gente, onde se convive "se se quiser" e se vota no autarca que se quer, sem que isso fique à vista ...

Resumindo: posto que a aldeia é também, no pior sentido, uma grande propriedade horizontal, ou como nas ditas cujas mais pequenas, está generalizada uma cultura cívica acima da média, ou é uma chatice a, aparentemente ingénua, devassa  feita por indivíduos que por ela optam.

No fundo, no fundo, afastada a sempre difícil de encontrar educação cívica generalizada, a habitação ideal pode vir a imaginar-se num arranha-céus com porteiro armado até aos dentes e com uma administração estranha aos interesses individuais eventualmente existentes.

Numa palavra: aldeia, não! Enquanto, no dia-a-dia revelar ser das propriedades horizontais, a maior e, nesse sentido, potencialmente, a mais habitada por gente a querer mandar... Melhor: aldeia sim, se civilizada. E nada mais haverá a dizer.

Que cresçam as flores que a livre Natureza quiser e que o sr. Prior as abençõe na Paz de Cristo.

Fica o subsídio para eventual reflexão fora do espaço rápido de um blogue.




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