quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O combóio da Beira Baixa

Carta de condução tirada, automóvel escolhido, adeus viagens a partir de Santa Apolónia, à Beira Baixa do Tejo.

Troca-se a paisagem eventualmente alegre pela tira negra do asfalto, esquece-se o que à volta merece contemplação e pensa-se na rapidez como solução para tudo. Cultiva-se, sem dar por isso, uma certa solidão medida em quilómetros lineares e perdem-se quilómetros quadrados de verde que, no caso, em boa parte, o Tejo anima.

Em homenagem à pressa que devora sensibilidades, ignora-se o que bem poderiam ter sido, anos a fio, o melhor da festa: a alegria da água, ora aos pulos, a vencer pedras, ora, serena, a correr para onde só ela sabe ...

O Tejo é, na chamada linha da Beira Baixa, a euforia que não há asfalto que substitua. O que é grave, entretanto, é que isto não se sente confirmado por quem quer chegar a Castelo Branco, por exemplo, fazendo da viagem o arraial que a vida merece. A não ser que se consuma apenas, ou quase, em negócios, mas mesmo assim, não sendo a mobilidade intermédia uma imposição, o combóio entre Santa Apolónia e as Traseiras do Litoral (Beira Baixa, dizem os manuais), por exemplo, é experiência a repartir. A moldura do leito do rio é apelo que, sem portagens, apetece e ... e se recomenda. Inacreditável são carruagens vazias e, no mesmo sentido, estradas cheias.

"Morre-se do mal da pressa", disseram-me, uma vez, na Austrália das grandes distâncias. É isso: morre-se do mal da pressa. Talvez se morresse menos se as viagens fossem concretizadas no andar "apressado", apesar de tudo, dos combóios que nos revelam os rios que temos e as margens, em regra, verdejantes que os bordejam.

Os apressados da estrada não sabem o que perdem. Quiçá, com culpas fortes, de uma CP (parece que agora tem outro nome ...) a não esgotar uma auto-propaganda dos benefícios estéticos que proporciona.

Às vezes, observadas as coisas pelo lado do belo, que nem sempre é ronceiro, a conclusão a que se chega é que consumimos o dia-a-dia numa espécie de autoflagelação que só tarde percebemos ter sido, quando não idiota, quase... Os rios, esses, não podem ser acusados: correram, às vezes, se calhar, para chamarem sobre si as atenções gerais, até transbordaram de ... de raiva ...

Não me subscrevo guarda-rios. animador cultural, nem, muito menos, sócio da CP, mas tenho uma proposta "do contra": contra as portagens, contra o aumento do preço da gasolina, mas a favor das viagens de combóio, em particular, entre Lisboa e Castelo Branco. Que, além do mais, fazem, de certeza, melhor à saúde do que o automóvel, a pisar, cheirar, ver estrada. Quilómetros de estrada. Ainda por cima, sob a terrível ameaça das portagens ...




PS: espero que a CP não se aproveite da minha sugestão e ... e acabe por carregar nas contas ...

Para já, dei comigo, descuidado, no Fundão, a pedir uma esmolinha para que alguém acabe as obras da respectiva estação de caminho de ferro onde, para mudar de linha, com eventuais volumes às costas, se têm que subir e descer, sem discriminação etária, um total de 70 degraus (setenta!). Escusado será dizer que, quem tiver que usar cadeira de rodas, só pode subir e descer com eventual colaboração humana alheia ...O que é uma vergonha para a CP ou lá que é...

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