segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Comunidade Portuguesa na Austrália ( VII - A)

"Nutro pela Comunidade Portuguesa na Austrália grande admiração e apreço"
Ramos Horta


Do livro "Entre Vistas nos Arredores das Montanhas Azuis", de M.A.

Para concluir, pelo menos por agora, de um total de 421 páginas A5, na integra (por capítulos com várias ...) uma entrevista com

Bernardino Cadeiras, ex-vendedor de couves, primo de Fernão Mendes Pinto, retirado, taxista no activo, em Sydney

Parte A

"- Porque é que veio para a Austrália?

- Oh, isso é uma história bastante completa!... Quando abalei de Portugal, a vida era muito difícil ... Trabalhava com hortaliças, batatas e coisas do género. Comprava os produtos no Algarve e vendia-os a diversos agentes dos mercados abastecedores de Lisboa.

- E isso não era rentável?

- Era chapa ganha, chapa batida... Então quis experimentar outros horizontes. De resto, a ideia de emigrar, de ver outros países, atraía-me. Já em garoto, com 13 anos, meti-me, sem embaraços, a caminho de Lisboa, à descoberta dos tais agentes. E lembro-me que, conversa aqui, conversa acolá, consegui, num dia, logo dois ou três - e comecei. Depois de uma pessoa dar o pontapé de saída, com a continuação tudo é fácil. O que não era fácil era ganhar algum dinheiro de jeito.

- Que idade tinha quando emigrou?

- 24 anos. Agora (1995) tenho 65 e por aqui vou trabalhando enquanto puder ...

- Quem é que lhe acenou para vir?...

- Sobretudo, a minha vontade. Porém, tinha um cunhado na Austrália, que trabalhava nas montanhas, onde, na altura, estavam a fazer grandes barragens. Veio esperar-me a Syndey e, logo no dia em que desembarquei, mostrou-me uma fotografias em que notei que ele aparecia, nas ditas montanhas, atascado na neve até à cintura ...

- Emprego à vista ou primeiro sinal de alarme?...

- "Para a neve?...", pensei eu. "Para a neve, não! ..." Não estava disposto a morrer de frio ...

- Algarvio na neve ...

- Claro, não dava jeito nenhum. E disse-lhe: agradeço, mas vou ficar aqui por Sydney ...

- Então, quando embarcou, ainda não sabia bem para onde ia trabalhar ...

- Se quisesse, tinha trabalho nas montanhas, mas nunca pensei naquela coisa da neve ...

- Veio sozinho?

- Só. Só e por esses mares!... Naquela época ...

- Com partida de Lisboa?

- Abalei do Algarve para Lisboa. Daqui tomei comboio para Paris, segui para Génova, onde embarquei para Sydney.

- Quantos dias de barco?

- 32!

- Com mais emigrantes portugueses?

- Sim. Éramos, ao todo, seis rapazes algarvios. Foi uma viagem jeitosa. Não enjoei.

- Entretanto, chegou, assustou-se com a história da neve ...

- E disse que não à proposta das montanhas ... Informei-me junto de outros portugueses acerca das possibilidades de conseguir outro ganha-pão e apareceu-me um tipo do Minho que se ofereceu para me arranjar trabalho numa fábrica de açúcar. Aceitei. Havia que jogar a mão a qualquer coisa ...

- O do Minho já lá trabalhava? ...

- Sim. Há uns três ou quatro anos.

- Sorte ...

- Cheguei a uma 4ª feira e, na 3ª seguinte, já estava ao serviço da tal fábrica. O trabalho era belíssimo!... O trabalho era ... não fazer nada! ... Uma coisa engraçada: o capataz fazia-me sinal para dormir, que logo me acordaria quando precisasse ...

(Continua. Tem vários "capítulos..." Em crescente aventura...)

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